Bolsonaro já enxerga sua derrota, com medo, ataca

Os dados trazidos pela pesquisa DataFolha, divulgada em 12 de maio, mostram a desidratação do atual chefe do executivo nacional. Bolsonaro perdeu a liderança no primeiro turno, e é amplamente derrotado no segundo. O clã está assustado e já amplia a sanha autoritária.




Colunas, Paulo Junior
Bolsonaro sentado com semblante pensativo.

Apesar de serem dotados de elevado nível de arrogância, e possuírem um assanho autoritário dos mais grotescos, o clã bolsonarista já sente o medo da derrota. Eles negam fervorosamente, mas sabem que mantendo-se o atual contexto, o chefe do executivo federal será presidente de somente um mandato. A mais recente pesquisa de intenção de votos, divulgada pelo Instituto DataFolha, mostra que o hoje ocupante do Planalto aparece perdendo tanto no primeiro, quanto no segundo turno. Ele é amplamente derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva e por Ciro Gomes, isso, nos cenários de segundo turno.

De acordo com o levantamento, o atual presidente vem enfrentando um adensado derretimento. Bolsonaro que liderava a corrida eleitoral até seis meses atrás, agora soma 23% das menções de votos. Nesse mesmo seguimento, é necessário pontuar que o nível de rejeição ao morador do Palácio do Alvorada também está em viés de crescimento, segundo a pesquisa, 45% da população considera a gestão como ruim ou péssima. Ainda nessa sequência, o DataFolha questionou quanto a abertura de um eventual processo de impeachment, e 49% dos entrevistados se disseram a favor do procedimento, primeira vez que numericamente o volume de favoráveis é maior.

O Governo Bolsonaro derrete como gelo exposto ao sol. Envolvido em dezenas de ações mais que questionáveis, o presidente busca meios de sair dos holofotes, busca formas de construir uma imagem de eterno defensor do liberalismo econômico. Porém, nem mesmo os fiadores atuais de sua gestão, o Centrão, compram a história traçada. Eles certamente já buscam nomes para abandonar o barco, deixando Bolsonaro envolto no isolacionismo.

Os dados apresentados pela pesquisa encomendada pela Folha de São Paulo deixam evidente que Bolsonaro não tem mais vaga cativa no segundo turno. A candidatura do atual presidente precisará remar, e muito, para assegurar esse espaço. Nesse trajeto, é essencial lembrar que o viés de queda segue e deve se acentuar, especialmente se a CPI da Covid-19 continuar com o nível atual. As investidas contra o executivo federal são objetivas e claras.

O levantamento já capturou parte dos desdobramentos dos primeiros depoimentos, no entanto, ainda não deu conta de observar tudo. Pontua-se, ainda, que há no caminho o depoimento de Eduardo Pazuello, que mesmo blindado pelo Palácio do Planalto, deverá sofrer em exaustivo e longo depoimento. A fala de Pazuello à CPI será um teste hercúleo para o executivo. O ex-ministro esteve por 11 meses à frente da gestão da pandemia, e sob seu comando observou-se uma gama infindável de problemas e absurdos, desde a falta de oxigênio em diversos pontos do país, até a morosidade surreal na aquisição de vacinas. Além do fatídico protocolo de uso da cloroquina, dando vasão a um pseudo tratamento precoce.

Bolsonaro está em polvorosa pelos corredores de Brasília, político raso e dotado de capacidade cognitiva limitada, finge não notar o desmanchar dos seus discursos. Os números da pesquisa pontuam o fracasso abissal do Governo Bolsonaro. Porém, pondera-se com ares de certeza que o quadro pandêmico é amplamente responsável pelos percentuais apresentados. Sem a conjuntura vivenciada a mais de um ano, os dados, sem dúvida alguma, demonstrariam uma persistente força do bolsonarismo.

O presidente é sapiente de sua ignorância, trata-se de fato de domínio público. Nesse caminho, ele estica a corda para buscar formas de voltar ao quadro da campanha de 2018, ele já remonta o desenho de polarização, e tende a ampliar o desejo por um opositor em específico. Assim, o cenário do DataFolha, Lula e Bolsonaro, é aquele desejado fortemente pelo atual ocupante do assento presidencial. Bolsonaro quer seu antigo antagonista, sabe que o bolsonarismo raiz só resiste diante do arquétipo estruturado nas eleições gerais. Bolsonaro precisa de Lula e do antipetismo para dispor de alguma chance no tabuleiro.

No mesmo lastro, o petismo anseia pelo bolsonarismo, pois assim, acentuam as chances de vitória. Colocam-se de frente dois polos que nos últimos anos vem se retroalimentado, um é, de certa forma, responsável pela vida do outro. Todavia, o PT é capaz de encontrar meios para além da polarização atual. Bolsonaro não. Ele não consegue antagonizar com outros espectros, até mesmo a militância bolsonarista encontra dificuldades de extrapolar o discurso. Assim, Bolsonaro está ligando e ampliando o modo autoritário.

As instituições democráticas seguem precisando exercer seu papel de vigilância e controle, pois o desejo de subterfugio do poder claramente existe. Existe no momento em que o mandatário maior da nação impõe condições para realização de pleitos democráticos, ou afirma que determinado candidato só se elege mediante fraude. Há que se ficar de olho, pois da última vez que o político fanfarrão foi subestimado, ele tornou-se presidente.

Objetivamente é necessário observar que o contexto em 2022 é um tanto diferente, as forças estarão reequacionadas, e há a presença de Lula, que maior que seu próprio partido, consegue angariar elevado volume de votos e apoios públicos importantes. O bolsonarismo do presidente ficará restrito ao seu núcleo duro; núcleo esse que tende a redução. Bolsonaro também terá de enfrentar, diferente de 2018, o frontal combate do horário de propaganda eleitoral. No último pleito esse enfrentamento se deu de modo tímido, sobretudo no primeiro turno, por causa do ataque que ele havia sofrido.

O que há além da polarização

A pesquisa traz um dado bastante relevante, 49% dos eleitores manifestam indecisão quando o levantamento é inteiramente espontâneo, ou seja, quando os nomes não são apresentados aos entrevistados. Isso significa que parte considerável das intenções de voto apresentadas ainda não estão consolidadas, podendo direcionar-se para os vários outros nomes que irão apresentar suas candidaturas em 2022.

Aqui observa-se que há um espaço importante. Espaço que deve ser usado e garimpado pelos candidatos que almejam se firmar como terceira via. Nessa linha, nomes como o de Ciro Gomes insurgem como fator de necessária observação, primordialmente quando o pedetista ainda se mantém capaz de vencer o atual presidente em um eventual segundo turno.

O nome de Ciro precisa extrapolar a bolha dos convertidos, e esse é o foco do PDT no momento. A contratação de João Santana deixa luminar o projeto da sigla, que não planeja rifar o político cearense em hipótese alguma. As campanhas partidárias estreladas por Ciro já dão o tom do trabalho de Santana, a busca pelo tom moderado já começou, resta ver se surtirá efeito prático. Caso surja, há chances de Gomes desbancar Bolsonaro e pegar carona rumo ao segundo turno.

No ninho tucano, Doria já repensa a candidatura, e provavelmente dispute a reeleição em São Paulo. O governador paulista tem notado a dificuldade de furar a bolha da polarização, além da resistência interna a seu nome. Assim, Doria dá sinais que abrirá mão do posto de presidenciável. Porém, são cenas a ver.

O tucanato vem insistindo com Tasso. Todavia, o senador cearense encontra-se resistente e sequer teve o nome considerado pelo DataFolha. Mas, já há quem o coloque como capaz de tirar o atual presidente do segundo turno. No meio de tudo isso, Ciro Gomes ensaia uma aproximação com Jereissati. Aproximação que, se consolidada, mina a campanha de Tasso e fortalece o pedetista.

O que está óbvio no levantamento apresentado é que o caminho para 2022 ainda está indefinido, apesar de deixar expresso alguns caminhos importantes. O derretimento de Bolsonaro e crescimento de Lula deixa luminar a crescente negativa à gestão bolsonarista. Do mesmo modo, há espaço para construção de nomes que podem furar a polarização e desbancar um dos nomes que lidera. Se a CPI da Covid-19 permanecer no nível deste início, incisiva, e se ela conseguir objetivamente expressar os desmandos do presidente e sua companhia, o desbancado será Bolsonaro. No meio de tudo isso, o neoliberalismo que o mercado sonhou está virando pó, e como poeira paira pelos céus e se dissipa como levada pelo vento. No mesmo vento o governo Bolsonaro nem se percebe e vai.