A covardia de Pazuello é a comprovação derradeira de sua culpa

O ex-ministro da Saúde alegou contato com pessoas infectadas com Covid-19 e adiou o depoimento no Senado Federal. Pazuello tem muito a explicar, sua gestão à frente da pasta da saúde é desastrosa, como o ex-chefe, Pazuello sabe que é culpado.




Colunas, Paulo Junior
Ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, tira máscara em frente a um microfone.

No final do mês de abril teve início no Senado Federal a CPI da Covid-19. O objetivo da comissão é averiguar se houve ausência do poder executivo na condução da pandemia no Brasil. A construção textual que indica possibilidade é uma mera formalidade, pois, ao observar o noticiário recente fica evidente a lacuna do executivo, desde do Presidente aos chefes imediatos da pasta da Saúde. O temor e a consciência da culpa estão estampados nas ações de alguns dos convocados para depor no plenário da CPI, entre eles, indica-se que a negativa de Pazuello em comparecer a casa legislativa na última quarta-feira, 05, é a gota derradeira e confirmação final de sua culpa.

Eduardo Pazuello, como dito anteriormente, seria ouvido na quarta-feira, 05, em uma ordem cronológica dos nomes que ocuparam o Ministério da Saúde durante a pandemia do novo Coronavírus. Porém, na terça-feira, 04, quando o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta era inquirido, o senado foi informado que, provavelmente, Pazuello não iria comparecer ao depoimento. O General do Exército afirmou que havia tido contato com pessoas infectadas com Covid-19 e, por isso, não iria à sessão. Todavia, a preocupação de Eduardo Pazuello com a possibilidade de infecção para Covid-19 é bastante seletiva, pois poucos dias antes ele foi fotografado andando sem máscara por um shopping de Manaus.

Aqui pondera-se que esta coluna não está fazendo apologia ao não cumprimento da quarentena recomendada àqueles que estejam com suspeita de infecção. Entretanto, como espaço de observação crítica do cotidiano político nacional, essa coluna nota que a justificativa do ex-ministro da saúde caiu como uma luva. Pois, assim, ele ganhou mais tempo para organizar o discurso, e buscar argumentos para justificar as absurdas decisões tomadas durante sua gestão.

Pondera-se, ainda, que o maior tempo entre os depoimentos dará a Pazuello e, sobretudo, ao Planalto Central, a possibilidade de analisar minunciosamente aquilo foi declarado pelos inquiridos anteriores, Mandetta, Teich e o atual ministro, Marcelo Queiroga.

Os depoimentos colhidos, até o momento, deixam luminar a interferência do presidente Bolsonaro na condução da pandemia de Covid-19. Segundo Mandetta, o presidente conta com uma ala de aconselhamento paralelo, extra Ministério da Saúde, ala que perdida em idiossincrasias falou contra aquilo que a ciência recomendava. Quando questionado sobre o momento atual, Queiroga não soube dizer se o aconselhamento paralelo se mantém, ainda deixou notório que não conta com domínio total dos rumos da pandemia no Brasil.

O depoimento de Queiroga também choca ao trazer à tona que o Ministério só fechou contratos com metade do número de doses de vacinas que informou estar em curso para compra. Ou seja, o governo inflacionou os números na busca de contornar o desastre pregresso. Porém, a correção de curso tem se equivocado quase que na mesma medida de antes. Por sua vez, Teich disse que deixou o ministério porque estava sendo cobrado para ampliar recomendações para uso da cloroquina, medicamento sem comprovação de eficácia.

Por sua vez, o sucessor de Teich, Eduardo Pazuello foi bem menos resistente aos rompantes presidenciais, logo, manteve recomendações de aplicação da cloroquina e hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19. Na gestão Pazuello também houve a formação do seria um kit covid, além da produção de propagandas que davam conta de um pseudo tratamento precoce.

Na gestão Pazuello o número de mortes no país saltou quase 2000%. Houveram, ainda, diversas crises ligadas a falta de oxigênio. Além disso, o sistema de saúde colapsou em diversos locais do país. Enquanto isso, Pazuello chegou a ser visto em pequenas aglomerações. Provavelmente, influenciado pelo chefe, constante flagrado sem máscara e envolto em multidões.

Em seu período a frente da pasta, Pazuello deixou claro o seu DNA de covarde, nunca se posicionou contrário aos desmandos do presidente e da sua claque. Bolsonaro queria um negacionista no Ministério da Saúde, e durante 11 meses ele teve. Eduardo Pazuello agiu como quem desconhece o Sistema de saúde brasileiro, no entanto, o dado que poderia ser taxado de conspiratória é real. Durante 11 meses o país teve alguém que desconhece o SUS como chefe da pasta da saúde, tudo isso durante uma pandemia.

Pazuello não conseguiu implantar ações de vacinação, negou a compra de doses da Pfizer e outros laboratórios, se envolveu em brigas com a China. Durante 11 meses ele viu os dados de mortes crescerem, porém, como cego, fingia não ver. Medroso, tinha medo de perder o cargo, medo que o capitão resolvesse gritar. Pazuello é covarde, e sabe de sua covardia. É culpado, e sabe da sua culpa.

Agora, o Planalto tenta mudar o roteiro, busca a todo custo preparar o ex-ministro para depor na CPI. Mas não há preparação que o salve da cova dos leões. Afinal, covarde como é, ao ser posto defronte seus absurdos, provavelmente, cederá. Cederá como um cãozinho assustado, ou como um profissional medíocre.

O Governo teme o depoimento de Pazuello, e deve temer. A consciência da culpa é coletiva, tão coletiva quanto o conhecimento da coragem limitada do ex-ministro. Porém, talvez menos limitada que sua coragem, seja a inteligência. Bolsonaro é parco, Pazuello também. Bolsonaro é culpado, Pazuello também.