Sem provas de fraudes eleitorais, Bolsonaro segue mentindo

As provas que afirmou que mostraria inexistem. Bolsonaro tem somente uma narrativa que até mesmo como ficção pouco convence. Envolto em mentiras, ele disse por duas horas que as eleições teriam sido fraudadas.




Colunas, Paulo Junior

Bolsonaro reuniu uma série de profissionais de imprensa na última quinta-feira, 29 de julho, prometeu ele que, naquela data, revelaria todas as provas que tanto alardeou sobre as fraudes eleitoras. Bem, em mais de duas horas de exposição ele não atingiu o dado prometido. Ou seja, entregou apenas ilações, inverdades e uma narrativa que de tão jocosa deveria merecer apenas desprezo. Porém, esta coluna já afirmou que toda ameaça à realização das eleições de 2022 deveria ser rebatida com a força devida, pois bem, diante da desarrazoada apresentação bolsonarista, o silêncio não pode existir.

Já no início da exposição, o ocupante do Palácio do Planalto deixa claro que não possui provas, diz ele que são indícios. Entretanto, tratam-se de indícios, no mínimo, fraudulentos. A apresentação repete vídeos já vistos e desmentidos diversas vezes pela Justiça Eleitoral e veículos de imprensa. O restante do tempo foi marcado por uma tentativa pouco inteligente de encontrar nexo entre os percentuais de cada candidato em determinado ponto da apuração, e as mudanças, ou não, após um volume maior de votos computados.

Durante mais de duras o presidente do Brasil se permitiu flagrar mentido, se deixou filmar e transmitiu em suas redes um exemplo luminar de fraude narrativa. Bolsonaro tenta encontrar meios para dizer que venceu no primeiro turno de 2018, mas, seu ilógico caminho o leva para a ignorância e para o autoritarismo.

Bolsonaro (sem partido) age na tentativa de inflamar sua militância mais aguerrida, que cega, ouvirá atentamente as loucuras proferidas pelo morador do Alvorada. Essa militância foi responsável pelas parcas manifestações observadas ontem, 01, em algumas cidades do país. Manifestantes que pedem o voto impresso e auditavel.

Nessa linha, é fundamental indicar que as urnas eletrônicas permitem que os votos sejam inteiramente auditados, inclusive, as urnas encontram-se abertas para que esse tipo de verificação seja conduzida. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) endossou em suas comunicações que as urnas são lacradas com um mês de antecedência aos pleitos eleitorais, afirmou também que os softwares utilizados são exclusivos, o que impede que programas espiões ou urnas clandestinas possam ser colocadas em algum ponto.

É fundamental observar, ainda, que o TSE realiza ações simuladas de tentativa de invasão aos programas das urnas eletrônicas, sem nunca ter observado situações desfavoráveis. Frisa-se, por fim, que os equipamentos não são conectados à internet, ou seja, as chances de fraude são totalmente diminutas.

Todavia, como expresso no início deste texto, o silêncio não pode existir. E isso vale, em especial, aos poderes da República. É inadmissível que judiciário, legislativo e o próprio executivo permitam-se calar diante do escabroso fato da última semana. Segundo informações da TV Bandeirantes, dirigentes dos três poderes irão se encontrar para discutir a situação durante esta semana, para a partir de então encaminhar respostas. Espera-se que elas sejam duras, na medida que a democracia brasileira exige e precisa.

Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, disse ainda na quinta-feira, 29 de julho, que o discurso raso do “se eu perder houve fraude” parte de “quem não aceita a democracia”. A fala foi vista como uma resposta direta aos questionamentos eleitorais gerados por Bolsonaro. Em outras oportunidades, Barroso já havia expressado o descontentamento com o contexto atual, chegando a dizer que no Brasil até quem vence contesta o resultado.

A live de Bolsonaro é a live do descalabro, do autoritarismo e da sua sanha. Em pouco mais de duras ele escala o seu desejo de golpe, endossa que na perspectiva hedionda de sua cabeça, o único resultado possível para 2022 é a sua vitória. Ele afirma retoricamente desejar eleições limpas, mas, os atos de seu cotidiano encaminham para um sonho absurdo de fraude.

Bolsonaro, reitero, tem medo do agora. Está envolvido até o derradeiro momento com o fisiológico centrão. Ele está acuado, procura um método para explicar sua possível derrota e, assim, a usurpação de poder subsequente. Bolsonaro é ignorante, porém sabe que as pedras do caminho estão se amontoando, e que a única coisa que lhe resta é o discurso, irreal, da fraude e da perseguição.

Esta semana se encerra o recesso do legislativo, e a segunda temporada da CPI Covid-19 irá começar. O Planalto está em polvorosa, pois a season finale da CPI poderá ser a última pá de terra sobre um governo que nasceu fadado ao fim. Infelizmente, antes que o mandatário experimente a derradeira curva de seu mandato, ele ainda buscará meios de gritar, espernear e permanecer sentado no gabinete presidencial. No entanto, a última curva sempre chega, e não se pode admitir que um ignóbil impeça o curso natural da democracia.