Procurando se (re)posicionar no jogo, Ciro (PDT) eleva o tom em críticas ao PT

O presidenciável do PDT fez duras declarações em direção ao PT e aos ex-presidentes Lula e Dilma. Em um de seus já clássicos rompantes, Ciro Gomes parte para um tudo ou nada complicado e que pode leva-lo ao isolamento.




Colunas, Paulo Junior

Esta coluna afirmou, em 19 de abril deste ano, que Ciro Gomes era seu maior adversário na luta pela presidência em 2022. Na última semana surgiu uma nova prova deste fato. As declarações desprovidas de cortesia, e bastante acaloradas, de Ciro para com a ex-presidente Dilma e o ex-presidente Lula, ambos do PT, demonstram um político que ainda não conseguiu definir bem o seu espectro posicional para corrida eleitoral que se aproxima, além de evidenciar uma arriscada estratégia pedetista. O tudo ou nada nem sempre é uma alternativa inteligente.

Em recente entrevista ao podcast Estadão Notícias, Ciro Gomes afirmou que tinha certeza que Lula agiu em favor da desestabilização e impeachment de Dilma. Em discussão no Twitter, chamou a ex-presidenta Dilma de inapta, incompetente e chegou a dizer que se arrependia de ter buscado evitar o impedimento da mandatária em 2016.

As falas de Gomes ganham ar de surpresa, pois demonstram uma subida de tom bastante arriscada. Ciro e a cúpula do PDT irão endereçar ataques cada vez mais adensados ao PT e as suas maiores figuras, em especial o ex-presidente. O objetivo é angariar uma parcela da população que não está disposta a votar no petista em 2022, e na mesma linha, tentar redesenhar a imagem de Ciro Gomes enquanto alguém capaz de dar voz a uma indignação com a política que moveu alguns dos votos encaminhados a Bolsonaro.

Entretanto, há em Gomes uma grande crise de identidade, pois ao assumir esse duplo polo e ainda ampliar ofensas a Lula, tende a afastar parte de seu próprio eleitorado. Há um grupo que o apoio como voto de terceira via, pois não anseia pela manutenção do bolsonarismo, todavia, este grupo ainda mantém relações de relativa proximidade com o petismo. Assim, os ataques desprovidos de método político proferidos por Ciro podem lhe afastar de uma base que poderia lhe ser fiel.

Nesse bojo todo é preciso lembrar, também, que o pedetista não vem encontrando grande facilidade para costurar alianças de aspecto nacional. Logo, apresentar-se verborrágico, reafirmando o ideal de pessoa incontida e agressiva, o encaminha para um possível isolamento, ou para construção de arcos de aliança sem a representatividade almejada. Gomes tenta remodelar sua imagem na internet, tudo com apoio do marqueteiro João Santana, porém, fora dela segue como franco atirador. O problema do franco atirador, é que ele pode acabar derrubando o seu próprio exército.

Ciro Gomes é um nome interessante, e é relevante que ele esteja vivo no jogo político, é necessário que mexa na polarização atualmente estabelecida, e somente ele tem conseguido fazer isso. Nitidamente é essencial a aplicação de outros métodos de abordagem, as críticas ao PT, seus erros, equívocos e incoerências deve ser feita, mas, quando se faz sem a observação de parâmetros mínimos, o que teria alguma relevância torna-se simplesmente um rompante de recalque.

Relembrando aquele texto de 19 de abril, Ciro Gomes continua ressentido com o petismo e o não apoio a sua candidatura em 2018. Esse ressentimento, já disse Maria Rita Kehl, não combina com a seara da política. Portanto, ou Ciro supera o ressentimento e se recompõe enquanto postulante ao Planalto Central, ou permanecerá como interprete do que poderia ter sido.

A tática do tudo ou nada que o PDT arrisca e avaliza neste momento tem mais chances de fracasso do que de sucesso. O ataque ríspido e, por vezes, em demasia ofensivo aponta mais para um tendência de desespero e despreparo, do que para uma candidatura com ciência de crescimento e sonho de vitória.

Ciro Gomes tem um largo potencial, mas se perde em si mesmo, no discurso e na retórica que as vezes tem pouca ressonância social. Para quem tem João Santana, marqueteiro responsável por eleger Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014), são questões possíveis de contorno. O questionamento que fica é se Ciro Gomes conseguirá ponderar o discurso, e fazer as críticas essenciais ao PT com um pouco mais de compostura e decoro. E claro, sempre com os pés fincados na realidade.