Eleições do Congresso Nacional: Ao apoiar o Centrão Bolsonaro pode perder o pouco controle que ainda tem

Agindo para tentar manter-se vivo no jogo político, e almejando fugir da sombra de um processo de impeachment, o Governo jogou todas as suas fichas no Centrão e, sem notar, pode estar deixando se esvair o derradeiro grão de comando que ainda lhe resta.




Colunas, Paulo Junior
Fchada do Congresso Nacional durante o fim da tarde. São mostradas duas torres prediais, ao fundo aparecem nuvens densas

Depois de muitos arranjos e jogos políticos, o dia de hoje será marcado pela eleição dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, ambas, figuras bastante importantes para o contexto político e democrático nacional. Assim, já era esperado que diversas ações públicas, e de bastidores, ocorressem até o momento do voto final.

O Governo geralmente mantém nomes. Porém, tende a ficar um pouco mais isento deste processo, em especial por tratar-se de procedimento de gestão de outro poder da República. No entanto, Bolsonaro vem agindo e atuando fortemente para que seus apadrinhados se tornem nomes competitivos. Na Câmara o ungido pelo Planalto é o deputado Arthur Lira (PP-AL). Lira é figura antiga, já tem quase vinte anos como parlamentar e foi um dos homens fortes do ex-deputado Eduardo Cunha.

Artur Lira é também o líder de um grupo bastante conhecido, e com o qual o presidente tem sentado bastante à mesa, o Centrão. Ou seja, novamente, Bolsonaro entrega publicamente os seus caminhos reais, reafirmando que seu discurso não ultrapassa a distância entre o Congresso e o prédio do executivo federal.

Bolsonaro apoia Lira na esperança de que ele derrote o apadrinhado de Rodrigo Maia. O atual presidente da Câmara escolheu Baleia Rossi (MDB-SP) para disputar a sucessão. A eleição de Baleia, inicialmente, significaria uma gestão de continuidade, já que provavelmente o político seguiria adotando posturas muito próximas às praticadas por Maia. O Governo, naturalmente, anseia por alguém que seja o oposto de Maia. Logo, conta os momentos para o fim da gestão do atual presidente.

Entretanto, há um problema que Bolsonaro não conta. Não conta porque segue de olhos fechados a realidade concreta dos fatos, ele pode estar abrindo mão do derradeiro grau de comando que ainda lhe resta no Governo. Não é segredo que cada dia mais o mandatário nacional manda menos, ele está mais preocupado em agir para manter-se vivo e no cargo, do que em gerir os problemas nacionais. Logo, seu lugar de comando vai sendo lentamente ocupado por outras vozes, mais ou menos balizadas.

Bolsonaro atua na corrida pela presidência da Câmara por um motivo bastante fácil de compreender, é o chefe da casa que decide sobre abertura, ou não, de processos de impeachment. Portanto, ele pensa garantir a continuidade de seu desgoverno por mais dois anos sem ter que lidar com a sombra dessa questão. Entretanto, apesar de ter composto o Centrão por mais de vinte anos, Bolsonaro parece desaprender rapidamente. Pois ele já esqueceu que o grupo tem compromissos consigo, e com mais ninguém.

Defronte a isso, a questão é bem simples, ou haverá em breve uma reforma ministerial, com o Governo acomodando ainda mais partidos e figuras do Centrão. Ou a possível boa relação com o gerente da pauta, caso Lira obtenha sucesso, ficará apenas no campo do possível.

Arthur Lira tem conseguido um bom lastro de apoios e se situa como um dos protagonistas da disputa, seu principal opositor, como dito, é Baleia Rossi, integrante do grupo político capitaneado por Rodrigo Maia.

Maia tem nessa disputa um desejo bastante claro, mostrar que deixa o cargo que ocupa deste julho de 2016 com um largo capital político. Naturalmente que ele já pavimenta caminhos para passos futuros. A questão é que Baleia Rossi não vem conseguindo empolgar de maneira profícua parte significativa de seus colegas, o que torna sua candidatura ainda muito instável, apesar de muito competitiva. Especialmente, porque são esperadas algumas dissidências, para ambos os lados. Essas dissidências podem virar o jogo a favor de Rossi.

Nessa linha, lembra-se que existem outros oito candidatos na disputa. Portanto, muito dificilmente algum dos parlamentares conseguirá os 257 votos necessários para ser eleito em primeiro turno. Logo, uma votação em segundo turno moverá votos, assim, existem grandes incertezas no caminho, não sendo possível cravar com firmeza quem deve se sagrar vencedor. Logicamente que cada um dos lados promove suas possibilidades, atualmente o barco de Arthur Lira parecer navegar em águas mais tranquilas. Mas, Baleia Rossi tem por característica os movimentos de bastidor, ele pode facilmente promover uma virada de jogo e tornar o seu barco melhor navegável.

O que já está nítido é que o Governo não compreende o perigo de envolver-se em um processo tão complexo. Pois independente do vencedor, o Planalto colherá problemas e, por incrível que parece, talvez os maiores problemas venham do apadrinhado do executivo.

O Senado

A eleição no Senado está bem mais tranquila, o nome de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) conseguiu aglutinar partidos de situação e oposição no mesmo lugar, ao que tudo indica o senador mineiro deverá alcançar o posto de comando da casa. Porém, Simone Tebet (MDB-MS), que disputa o cargo de forma independente, pode ser uma grande surpresa. A senadora já se candidatou outras vezes e não obteve sucesso. Todavia, os arranjos políticos de última hora podem acabar por favorece-la, incluindo questões ligadas a corrida pela presidência da Câmara.

O regente do Senado também tem funções cruciais, comanda os procedimentos de impeachment na casa, define pauta de votação, coordena as sessões do Congresso. Ou seja, também é um cargo essencial para o contexto da vida democrática.

Novos rumos

A partir dos novos nomes colocados haverão densas mudanças durante o ano de 2021. O Congresso exerce papel fundamental na vida brasileira, e manter sua autonomia e independência é crucial para manutenção de conceitos e entendimentos democráticos. Portanto, a interferência direta do executivo tem tendencia obscura. Do mesmo modo que é obscuro um congressista inteiramente alinhado ao Governo, e desconexo de outras questões.

 O Congresso deve legislar e, também, ser contrapeso aos loucos devaneios de um presidente incapaz. Resta saber o que ocorrerá a partir de agora, porque as correntezas indicam águas turvas. No entanto, há tempos que este mar não experimenta a calmaria.