As decisões de Camilo Santana

Até abril de 2022, Camilo terá que decidir seu futuro. Decidir se deixa o cargo, ou se leva o governo do Estado até o último dia. Mas essa não é a única decisão que está no horizonte de Santana. Há muito mais, e ele sabe disso.




Colunas, Paulo Junior

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), tem em seu futuro próximo um arco importante de decisões para tomar. Como articulista exímio que é, deixará tudo para o último instante. Porém, já tendo costurado seu caminho anteriormente, e com zelo sem igual. Em seu segundo mandato como governador, Camilo tem em seu futuro a possibilidade do Senado Federal, e a necessidade de indicar para que polo da balança irá: Ciro Gomes e seu núcleo, ou o PT.

A título de hoje, o político ainda sonha retoricamente com a união de Ciro e Lula. Afirmou em recente entrevista ao portal UOL, que irá trabalhar até o derradeiro dia para que isso aconteça. Contudo, o modo tangente como ele respondeu às perguntas já deixa claro que nem ele acredita integralmente que essa união virá. Ciro e Lula estão se firmando como opositores bastante pragmáticos, isso no plano nacional. Pragmatismo que já ameaça as alianças locais na sucessão de Santana.

O encontro costurado pelo governador em setembro de 2020, entre Lula e Ciro, fez com que os ânimos entre os dois arrefecessem. Porém, a tranquilidade do mar durou pouco, e hoje é possível afirmar que a maré está mais revolta que antes da reunião falada. Ciro tem desferido ataques diretos e incisivos contra o ex-presidente e seu partido, na mesma linha, a estrutura petista tem contra-atacado. As articulações estão em temperaturas cada vez mais altas.

Essa instabilidade entre PT e PDT irá dificultar os caminhos até 2022. O PT não planeja abrir mão da cabeça de chapa para o governo estadual, e do mesmo modo, o PDT deseja o posto. Especialmente se Camilo for colocado como nome ao Senado. Neste ponto, começam as decisões de Santana. Ele precisará objetivamente dizer se deseja a candidatura, ou não. Até o momento ele se esquiva de decidir, diz que o instante oportuno não chegou. Mas já aventa fortes possibilidades no interior do Palácio da Abolição.

Lula e Eunício durante encontro em Brasília, em maio de 2021. Foto: Reprodução Poder 360

Se o desejo se confirmar real, Camilo precisará observar lucidamente as movimentações internas de seu partido. O PT tem se reunido repetidas vezes com o ex-senador Eunício Oliveira (MDB). Tudo indica que o partido de Santana almeja uma aliança com o emedebista, que anda sonhando com o retorno ao Congresso Nacional. Se a aliança se tornar factível, Camilo seria tranquilamente rifado, deixado de lado sem a lembrança clara do poder de seu capital político.

Camilo é atualmente um dos governadores mais bem avaliados do país. Segundo o Instituto Paraná Pesquisas, a gestão do petista é aprovada por 72,1% dos cearenses. Esse patamar mantém níveis observados em um país pré-pandemia de Covid-19, quando, por exemplo, o político foi reeleito com quase 80% dos votos válidos.

Hoje em dia, Santana é dotado de poder próprio, não dependendo diretamente de ninguém para afiançar seus sonhos políticos. Tende a deixar o governo com níveis de satisfação em alta. Ou seja, com o caminho pavimentado para eleger-se a outros cargos. Mas, política é um jogo coletivo. Logo, posicionar-se no tabuleiro é essencial.

Neste momento da partida, duas decisões insurgem como fundamentais. Em 2018 o apoio de primeiro turno foi para Ciro Gomes. Isso irá se repetir em 2022? Nesse trajeto ainda é preciso decidir onde ficar. Santana está no PT, mas já viveu fortes embates com figuras relevantes da estrutura partidária estadual, entre elas, a deputada federal Luizianne Lins. Deputada que aparece como pré-candidata ao Abolição.

Camilo Santana é um importante quadro do PT, apesar dos atritos internos. E com a sua eleição ao Senado bem encaminhada, caso opte pela posição, seria difícil do petismo abrir mão tranquilamente. Porém, os caminhos atuais estão tortuosos, e a chance de Camilo ser forçado e ficar no cargo até o último dia de mandato não devem ser esquecidas. Essa pressão pode, inclusive, vir dos dois polos que contemporaneamente o apoiam: o PT e os Ferreira Gomes. Cada um moverá as peças diante das suas possibilidades. Resta ver se Camilo se deixará mover, ou se colocar-se-á como jogador.

Defronte os dados do levantamento da Paraná Pesquisas, divulgada em 1 de julho, Santana lidera com folga a corrida pelo Senado Federal. Ele aparece com larga vantagem nos dois cenários pesquisados, em ambos tem mais de 53% das intenções de voto, ante 23% de Tasso Jereissati (PSDB). O nome do jornalista Donizete Arruda (sem partido) também foi consultado, ele pontuou 3,7%.

Os dados demonstram que Camilo teria passe quase livre para alocar-se no Congresso. Especialmente quando não há sequer a certeza de que Tasso dispute a reeleição para vaga. Não se colocar na eleição seria, inicialmente, um erro estratégico, pois o petista dependeria inteiramente das promessas feitas por um lado e/ou por outro. Além do mais, sem cargo, seria difícil manter-se relevante no tabuleiro. Além de exigir um esforço bem mais considerável para ser pautado no cenário político e midiático nacional.

Camilo certamente já articula sua saída do Abolição em abril de 2022, rumo a campanha pelo Congresso. As negativas atuais tem mais aspecto retórico do que prático. Nesse trajeto, as maiores decisões estão a cargo de como ficará o desenho da chapa de sua sucessão no Governo, e em qual palanque nacional ele subirá. Desta vez, mesmo no Ceará, o palanque duplo será difícil. Camilo Santana é em demasia leal aos Ferreira Gomes e ao PT. As próximas cenas dirão por qual dos polos há mais admiração, qual melhor o seduziu. Ou qual deles não o rifou.