Mais que estadista, Camilo Santana é articulista

Com o decorrer de seu tempo no executivo estadual Camilo ganhou a alcunha de estadista. Entretanto, suas posições, opções e ações mostram que seu lado articulador também é bastante evidente. Camilo Santana é um político pragmático, busca manter um largo lastro de apoios, mas sem se comprometer e observando atentamente o que lhe causa desgaste.




Colunas, Paulo Junior

Camilo Santana (PT) já não pode ser considerado um político recém chegado ao meio, em seu segundo mandato como governador do Ceará vem se projetando nacionalmente, e se consolidando como um nome importante para o processo de renovação que necessariamente o Partido dos Trabalhadores terá que enfrentar. Santana vem gozando já a algum tempo de uma popularidade invejável, já tendo conseguido níveis de satisfação que beiram os 80%. Nesse caminho, nem mesmo o atual quadro da pandemia de Covid-19 deixou as discussões sobre sua sucessão de lado.

Os desgastes que naturalmente são observados por causa das medidas de restrição impostas durante o combate a pandemia, certamente, atingiram o seio camilista. Porém, em posto bastante estratégico, o grupo de Santana avaliou objetivamente os impactos que cada ação teria, observando cautelosamente os espectros que poderiam ser tidos como problemáticos. Nessa linha, o governo de Camilo agiu para assegurar benefícios na dianteira do executivo federal.

Nesse trajeto, pontua-se que enquanto o Planalto discutia os termos da nova leva de parcelas do Auxílio Emergencial, do interior do Palácio da Abolição, Santana sancionava a isenção de contas de luz e água para parcela da população mais vulnerável. Assegurou, também, a distribuição de mais de 200 mil botijões de gás. Além de auxílio financeiro aos trabalhadores de bares, restaurantes e setor de eventos. Camilo sempre buscou estabelecer um clima amigável entre o governo federal e a sua instância. Entretanto, quando foi colocado como antagonista à Bolsonaro, não receou em agir e assumir esse posto.

Camilo atua para construir e consolidar sua narrativa, e assim, pavimentar trilhas para os próximos passos. Colocado como estadista, pode-se dizer que ele, de fato, assume este papel. Porém, mais que estadista, Camilo é articulista, ele poucas vezes mostra-se alheio aos fatos que circundam o seu redor e, como se olhasse para o tabuleiro de xadrez, busca definir quais são os melhores passos a dar.

Por mais que isso pareça robótico, é preciso apontar e dizer que isso é política. Camilo conseguiu realocar os fatos da política cearense no radar nacional, a sua figura desperta interesse e é observada atentamente por todos os espectros do jogo nacional. Camilo assumiu uma posição de destaque no Nordeste, inegavelmente situa-se como um dos principais líderes da região.

Dividido entre os Ferreira Gomes e o PT, ele terá decisões complexas a tomar. Especialmente, porque em uma possível chapa pura seu nome pode ser considerado. Assim, dividido entre clãs, Camilo mostra um jogo de cintura no mínimo razoável, conseguindo a todo momento equilibrar em contexto local dois polos momentaneamente opostos no cenário nacional.

Os movimentos para 2022 estão a todo vapor. No contexto estadual a primeira decisão é quem será o nome para sucessão de Santana, grupos já se articulam, o Abolição é importante para aqueles que almejam projetos nacionais. Camilo sem dúvidas assumirá a frente da escolha daquele que será o seu candidato, resta ver se esse nome virá do PDT ou do PT. Atualmente os petistas estão mais reservados, enquanto os grupos do PDT agem acentuadamente, os nomes mais promissores, neste momento, são todos diretamente aliados da família Ferreira Gomes.

A sucessão no estado tem tudo para dar-se defronte a uma disputa um pouco mais acirrada, mesmo com Camilo mantendo um considerável nível de satisfação, outros pontos políticos conseguiram alguma solidez no estadual. Logo, não se deve esperar em 2022 que o próximo governador se eleja com os números que Camilo observou, aquele momento furou a bolha. Mas agora, dificilmente ela será furada ao mesmo patamar.

Como articulista que é, Camilo só deve decidir seu futuro político no início do ano que vem, quando optará pela permanência no governo até o último dia, ou se afastará de olho em uma vaga no Senado Federal. Inicialmente o mais lógico seria a busca pelo senado, com a aderência que seu nome tem, provavelmente sagrar-se-ia vencedor. No entanto, a posição do petista passa pelos planos políticos de seu partido e de Ciro Gomes. Assim, resta ver qual a trilha será traçada.  Por ora essa coluna acredita na fidelidade de Camilo aos Ferreira Gomes.

O isolamento social rígido tem sido um teste de fogo para o governador, ele tentou dividir a responsabilidade do fechamento com os prefeitos do interior. Todavia, a ação não saiu como esperado. Mas, Camilo usa as redes sociais como poucos, sabe do poder de comunicação do espaço e por ali fala, pavimenta suas posições e dirime ali mesmo parte das críticas que lhe seriam direcionadas. Santana articula seus passos com olho no macro e no micro, articula vendo o hoje e já organizando o amanhã.