Sérgio Moro é a segunda via do bolsonarismo

Na disputa pela presidência da República, Moro filiou-se ao Podemos e tenta negar o bolsonarismo, feito difícil de concretizar. O ex-juiz é somente uma outra vertente. Assim, é a reimpressão de Bolsonaro e suas práticas, o que muda é apenas a figura que às representa.




Colunas, Paulo Junior

Em um ato com toda a pompa que se esperava, o ex-juiz federal Sérgio Moro, filiou-se ao Podemos no início do mês de novembro. O evento aconteceu em um dos principais centros de convenção de Brasília, o auditório Ulysses Guimarães. Em um longo discurso, Moro se apresentou como candidato à presidência da República, tentou fugir de Bolsonaro e justificar suas ações, tentou encontrar um porquê sua estada no Ministério da Justiça do atual presidente, não conseguiu. Moro tenta se descolar de Bolsonaro, negar o que é, e a sua própria história, não consegue.

O ex-juiz entrou para política partidária com um afinco que ele mesmo afirmou que não teria. Em diversas ocasiões endossou retoricamente que jamais disputaria cargos eletivos. Contudo – a realidade é bem outra – ao observar o filme apresentado neste momento, fica mais que evidente que Moro sempre esteve se preparando para o que faz agora. Ele tenta pregar um ideal liberal e uma concepção rasa de combate a corrupção, produz falas curtas e pouco elabora suas ideias, afinal, não tem domínio sobre os temas. Assim, Moro é a segunda via de Bolsonaro, talvez um pouco mais culto, controvertidamente, não menos ignorante.

Sérgio Moro é um jurista questionado, declarado parcial pela Suprema Corte brasileira. Tornou-se um juiz midiático e chegou agir em conluio direto com o Ministério Público, algo vedado pela lei nacional. Suas atitudes levaram Lula à cadeia, em 2018, e contribuíram deliberadamente para o descalabro que o país hoje vive, sob comando bolsonarista. Moro crê que suas intervenções não tiveram relação com o resultado eleitoral, nisto também imita Bolsonaro, torna-se sínico e mitomaníaco quando lhe convém.

Especulações trazidas à tono pela presidência da República também dão conta de um Moro que barganhou uma vaga no Supremo tribunal Federal, não conseguiu. Ao deixar o governo, em abril de 2020, atirou para todos os lados, teceu acusações contra Bolsonaro e seus aliados, porém, não houve constrangimento em manter-se no desgoverno durante 16 meses. Enquanto estava no Ministério da Justiça, Moro viu seu pseudo ideal de combate à corrupção caducar, observou em um silêncio mais que constrangedor o desmonte da operação que lhe deu fama, a Lava-jato sumiu dos noticiários. Sumiu, pois segundo o presidente não havia corrupção, para Moro, durante 16 meses Bolsonaro esteve certo.

Criticado por bolsnaristas e pela esquerda, o ex-juiz não consegue sequer interpretar a si mesmo, ele está perdido no papel que lhe conferiram. Moro e Bolsonaro são faces de uma mesma moeda, ambos desconhecem os reais problemas que assolam a população, apegam-se em ideais que não conseguem ultrapassar a margem. Os dois pensam que as questões brasileiras estão situadas unicamente em aspectos ideológicos, nessa linha travam batalhas infinitas e seguidamente agressivas.

Moro nega Bolsonaro, mas repetidamente o replica. Diante do caos financeiro brasileiro, é indispensável que haja no Planalto Central alguém minimamente preparado para gerir os rumos nacionais. Bolsonaro construiu em Guedes a figura do posto Ipiranga, aquele que tudo sabe e tudo organizaria, não deu certo. Mesmo confrontado com o fracasso, Moro buscar o seu posto Ipiranga, sonhando ganhar aquele tão falado Mercado. Antiquado, o posto de Moro é Pastore, tão datado quanto Guedes.

É abissal que o Brasil viva o caos democrático que vive, que os nomes na disputa presidencial estejam tão datados e ultrapassados. Complexo que este hediondo discurso de não-político ainda encontre espaço no âmbito nacional. Constrangedor que se admita como possível entregar a presidência do país a alguém que exprime ignorância, inabilidade política, e a incapacidade de pensar um amplo projeto de nação. Surreal que mesmo diante do estrago que uma atitude dessas é capaz de causar, ainda haja tantos que julguem Moro plausível.

O ex-juiz estava caminhando para o porão da história, tenta desviar. Ancorando-se em pautas e discursos superficiais, ele tenta fincar seu nome na direção do Planalto Central. Filiado ao Podemos, partido costumeiramente aliado ao bolsonarismo, Moro já nota o peso do local que está e conversará com Doria, pré-candidato do PSDB à presidência, na pauta uma possível aliança, e a busca do que o tucano chamou de ‘frente democrática liberal’.

Sérgio Moro não chega a ser um bolsonarista arrependido, ele está insatisfeito. Insatisfeito, pois não alcançou os objetivos pessoais delineados por ele ao aceitar o cargo de ministro, frustrado, deixou o governo. Mas como o bom filho a casa torna, ele ressurge na campanha adotando os métodos de seu ex-chefe. Provavelmente, ao se olhar no espelho pelas manhãs, o ex-juiz vê refletida a imagem bolsonarista, e certamente ele gosta deste reflexo.