Sérgio Moro: de candidato a presidente à político sem rumo definido

Moro filiou-se ao Podemos na tentativa de ser presidente, notou que o projeto iria naufragar, e deixou a legenda sem aviso prévio. Filiou-se ao União Brasil, sem prestígio na nova legenda, será no máximo candidato a deputado federal.




Colunas, Paulo Junior

O ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, caminha para tornar-se mais um político de baixo clero, ou seja, sem grande interferência no cotidiano direto das ações políticas do país. Moro pode até ser conhecido de grande parte do eleitorado, mas está cada vez mais sendo encolhido, engolido pelos partidos e pelas suas próprias incoerências. Em novembro ele filiou-se ao Podemos – e lançou uma pré-campanha para presidência da República – agora, abandou o navio e filiou-se ao União Brasil, legenda na qual ele não goza do mesmo prestígio. Moro é pequeno, e seguidamente se apequena.

Sérgio Moro chegou ao campo da política partidário de modo oficial em novembro de 2021, quando discursou em pomposo evento de filiação ao Podemos, legenda comandada pela deputada federal Renata Abreu. O ex-juiz chegou com estirpe de salvador da pátria, e disse que seu nome estava à disposição do país, iniciando naquele momento a sua campanha em busca do Palácio do Planalto. Nessa linha, o pré-candidato gozou dos recursos partidários e visitou diversos estados e lideranças pelos país, tentando fazer de sua candidatura algo possível.

Estima-se que os passeios de Moro pelo Brasil, e toda sua pré-campanha, tenham custado aos cofres do Podemos algo em torno de R$3 milhões. Entretanto, Moro saiu silenciosamente, sem avisar os motivos ou sequer comunicar oficialmente que estava deixando a sigla. Assim, ao apagar das luzes da janela partidária, encerrada em 1 de abril, o ex-juiz estava no União Brasil. E o Podemos? De acordo com nota oficial emitida pelo partido, Moro simplesmente desapareceu, e o dirigentes partidários souberam da debandada pela imprensa.

Moro deixou o partido, porque identificou que não seria capaz de construir o mínimo de alianças em volta de seu nome, porque observou que o sonho de candidatura à presidência iria naufragar na praia, porque não estava conseguindo confrontar o seu próprio passado. Moro deixou o Podemos pela inabilidade de lidar com as pressões partidárias, e as articulações políticas. No União Brasil, segue inábil, e mais que do antes está pronto para ceder.

No União Brasil, o ex-juiz encontra uma situação mais singular do que a que vivia. Pois, a legenda presidida por Luciano Bivar tem caciques mais afeitos ao trato com a política partidário e com o jogo de poderes que Brasília exige. Moro sempre foi um juiz mediano, e no campo da política ele no momento beira o medíocre.

Na nova casa, Sérgio Moro diz que continua à disposição, contudo, no União as resistências ao seu nome como presidenciável são largas e densas, e incluem o empenho particular de nomes como ACM Neto, ex-prefeito de Salvador- BA, e secretário geral do partido. Moro tenta pintar o quadro de que não desistiu de nada, mas a verdade é que ele nunca esteve comprometido, golpeou os cofres do Podemos, e agora recolheu-se a um dos poucos lugares que lhe possível, o de porta-voz de interpretações dúbias do cotidiano brasileiro.

Antes pré-candidato ao Palácio do Planalto, e hoje, alguém sem rumo propriamente definido. O União não quer Moro presidente, logo, certamente ele não será o nome da frente que o partido busca firmar junto à PSDB, Cidadania e MDB. E também não quer Moro Senador. O União quer Moro em um cargo que o partido seja relevante à sua atuação, e no qual a fidelidade partidária seja uma regra pertinente. Portanto, mesmo sem um caminho totalmente tracejado, indica-se que Moro será mais um puxador de votos. Candidato à deputado federal, tentará eleger-se e levar consigo alguns outros mais.

Aos poucos, o ex-juiz, que foi levado ao campo da irrelevância jurídica, caminha para situar-se na seara na irrelevância política, sabendo disso, Moro se debate, vige-se de vivo e assim tenta sobreviver.

Em uma campanha polarizada e com questões profundas a serem enfrentadas, é difícil que ele encontre um polo maior de ressonância. Buscará, de fato, uma vaga no Congresso, deve ser eleito; e lá, é possível que atue como seu ex-chefe atuou, no baixo clero, escondido às sombras. Só é preciso atenção, porque às vezes as sombras podem vir às luzes e deputar o país, o ex-chefe de Moro é prova disso.