Ruptura e Renovação: os 100 anos da Semana de Arte Moderna

Realizada em São Paulo entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, A Semana de Arte Moderna propunha uma arte “mais brasileira”




Coluna Literária, Colunas

Chegadas, partidas, comemorações e rupturas: assim poderíamos nos lembrar do ano de 1922: nascimento do cronista mineiro Paulo Mendes Campos, morte do escritor carioca Lima Barreto, publicação da obra Pauliceia Desvairada, de Mário de Andrade e, claro, o centenário de nossa independência e a realização da Semana de Arte Moderna em São Paulo, entre os dias 13 e 18 de fevereiro, que se propunha a romper com o conservadorismo vigente no cenário cultural da época e inaugurar uma nova fase, o Modernismo, cuja essência era a valorização de uma arte genuinamente nacional.

“Uma semana de escândalos literários e artísticos capaz de meter os estribos na barriga da burguesia paulista”, diria um de seus idealizadores – Di Cavalcanti – que se juntou a outros intelectuais (Sérgio Milliet), escritores (Mário e Oswald de Andrade), pintores/as (Anita Malfatti), artistas plásticos (Victor Brecheret), músicos (Heitor Villa-Lobos), etc. Tratou-se de uma manifestação que reagiu contra as estruturas oligárquicas, os padrões arcaicos e a invasão cultural estrangeira que despersonalizava o país. Os modernistas lutavam para superar a literatura dos “ismos” anteriores – Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo – enfatizar uma arte mais popular, com as cores de nosso país e torná-la mais acessível à população.

A grande contribuição da Semana de 22 foi nos fazer refletir sobre nossa identidade cultural. Ela trouxe o novo e o diferente para contrastar com o antigo, para romper com uma literatura europeizada e o nosso passado de colonos. Uma de suas principais pautas foi discutir e problematizar o conceito de Arte. A literatura brasileira passou por profundas transformações, mas a principal, talvez, tenha sido a dessacralização do objeto poético. Não significa dizer que a poesia foi reduzida ou simplificada a uma condição inferior. Pelo contrário: ela passou a ser mais conhecida, mais lida, mais declamada, porque mais acessível; todos os temas se tornaram matéria poética. Caracterizou-se por ser irreverente, irônica, bem-humorada, próxima da oralidade e marcada pela liberdade de estilo.

Esse novo contexto que se apresentava possibilitou o criador a “questionar abertamente seu modus operandi, trazendo o leitor / espectador /consumidor para dentro da ossatura da obra. Essa aproximação entre criador e, no caso, o leitor permite uma compreensão maior da obra e, conseguintemente, sua difusão.

Se o ano de 22 representou uma data fundamental para a Política e a Economia brasileiras, sobretudo, foi o momento de definirmos as bases nacionais de nossa Cultura, o que dizer passados mais cem anos? 

Novas formas de Arte, ainda, provocam estranhamento e suscitam debates.  Quando isso acontece ela cumpre sua missão: desestabilizar o sujeito, tirá-lo de seu mundinho de crenças limitantes e alienantes, colocá-lo em contato com novas culturas e diferentes ideias. 

E quando alguém lê uma poesia no muro, escuta uma música na rádio e vê um quadro exposto e pensa: “ah, até eu faria isso”. Que bom! É a Arte dentro de cada um de nós. Em Arte é preciso desconstruir para construir, interromper para recomeçar.