Regina Duarte: A ode à ignorância

A gestão Duarte é a gestão do caos, nisso ela se alinha bem ao gestor federal. Regina quer replicar Bolsonaro, quer ser a senhora do caos, mas sem arcabouço para isso o que ela faz torna-se, em suas palavras, chilique.




Colunas, Paulo Junior

Um país vive e sobrevive de sua cultura, dos gestos, ações, manifestações, da pluralidade que constrói e define suas marcas mais profundas. Definições mutáveis, mas em demasiado importantes. As culturas de um povo devem ser observadas com afeto, seus defensores devem ser aguerridos, livrando-se dos medos e agindo fortemente para que ela siga seus processos, para que ela se transforme e transforme outros. Cabe ao governo ser parte dessa luta e dessa defesa.

Regina Duarte, 73, atual secretária especial de Cultura ocupa a pasta de modo vazio, ela mostra seguidamente o descrédito que confere aos seus pares e as bandeiras por eles levantadas. Regina chegou ao posto carregada pela conveniência, foi chamada para ser um meio de distração, para passar a falsa imagem de que o Governo aglutina os grandes nomes da cultura nacional. A secretária faz uma gestão simplória, indica cotidianamente que não possui carga para ir além do que tem feito, está presa na arbitraria decisão que tomou, diante desta prisão ela tenta passar o ideal de que está atrás da grade por prazer, porque dispõe de objetivos. No entanto, hoje, ela está neste papel porque reluta em sair e assumir que errou.

Há mais de dois meses no cargo, esteve sempre reclusa, não conseguiu buscar nexos de união entre os membros maiores da cultura nacional, editais estão parados, não produziu ações para atender profissionais do setor diante da crise de Covid-19. A gestão Duarte é a gestão do caos, nisso ela se alinha bem ao gestor federal. Regina quer replicar Bolsonaro, quer ser a senhora do caos, mas sem arcabouço para isso o que ela faz torna-se, em suas palavras, chilique.

 Desde a nomeação grupos ligados a ala ideológica do governo apontam duras críticas à Regina, no entanto ela tem resistido. A cerca de duas semanas ampliaram-se os rumores de sua saída, ampliação causada por falas do próprio Presidente. Todavia, ela mante-se, balança no cargo e encontra jeitos de segurar-se.

 A secretária mostrou uma de suas mais duras faces em entrevista realizada na última quinta, 07. A entrevista concedida ao jornalista Daniel Adjunto, da CNN Brasil, foi, para usar adjetivos mínimos, surreal. Viu-se naqueles quarenta minutos a face da ausência de cultura, a face do indefensável. Regina, dona de autoridade arbitraria e ignorante, deixou ali cravado o momento que marcará sua gestão. Ela continuará assim, crendo nas suas certezas absolutas, lendo a cartilha bolsonarista, lutando no grito para dizer que não errou. Lutando para não cair.

A entrevista tornou o horário nobre da televisão nacional um ambiente que cultua a acultura. Nitidamente a entrevistada estabeleceu um roteiro, e do auge de sua autoridade não admitiria jamais ser despossuída desse roteiro. Regina não queria dar esclarecimentos sobre sua possível saída, sobre sua declaração de que estaria sendo dispensada, sobre o fato de já haverem nomes cotados para o seu posto; Regina queria fazer propaganda, usar o espaço para vangloriar-se do pouco dizendo ser muito, queria fazer da entrevista o seu espaço de propaganda eleitoral.

  A eterna namoradinha do Brasil indicou claramente que deseja pôr fim ao relacionamento, fim que aparentemente já vem sendo aceito. Regina está vivendo como Bolsonaro, assim como seu chefe ela está isolada. Isolada do mundo, do Brasil e da cultura de seu povo. Ignorantemente, ela está isolada até do governo que à levou ao lugar atual.

 Na ode à ignorância que a secretária cultua, a ditadura militar deve simplesmente ser esquecida, as torturas devem ser superadas. Para ela a morte dos pátrios dos anos de chumbo deve ser observada unicamente como passado. Regina acredita que um país supera a cessão de liberdade rapidamente, acredita que a dor do choque elétrico passa em dois segundos. Ela pensa de modo vão que as mães esqueceram seus filhos, que o país esqueceu seus mártires, que a imprensa esquecerá seus órfãos.

 Regina demonstrou naqueles quarenta minutos que os cinquenta anos de carreira pouco a ensinaram, demonstrou que desconhece a história e a importância de olhar o retrovisor. O presente é reflexo do passado, é impossível compreender o hoje sem notar as nuances que o conformaram, nuances que datam do ontem, do antes de ontem, de quarenta anos atrás. Ela relativiza a dor de país, lê a ditadura sob cartilha imposta, sob o signo da redefinição dos atos históricos. Regina está cega, abraçou e não largará a cartilha Bolsonaro. Ela abandonou o título da namoradinha do Brasil, para afirmar o casamento com o autoritarismo do Presidente.

 Duarte minimizou a pandemia de Covid-19, disse que onde há vida há morte. A rasidão de raciocínio é a norma atual, a norma que conduz os destinos nacionais. Infelizmente é a norma da grosseria, da baixaria, do desrespeito. Regina abandonou a entrevista, constrangeu os profissionais de imprensa e chegou a indagar a apresentadora Daniela Lima com o famigerado: Quem você pensa que é?

 Este quadro ocorreu porque a secretário foi indicado sobre um vídeo da atriz Maitê Proença, vídeo que terminava com um pedido de que a secretária falasse com sua classe. Antes disso, ela já tinha menosprezado o fato de não ter se pronunciado publicamente sobre as perdas que a literatura, música, teatro, cinema e a TV sofreram recentemente. Regina está em polvorosa, há nela o medo do fim, medo de que sua alçada ao poder de Brasília se finde antes mesmo de começar.

Regina segue o bojo bolsonarista, recorta fotos do chefe e às guarda na agenda. Ela segue seu caminho de reflexões irreais, vazias e sem ressonância. A Secretária de Cultura desconhece o setor e a sua importância, tanto social quanto econômica. Imersa nas eternas brigas de poder, ela se esvai, perde o controle da Funarte (Fundação Nacional de Artes), diz que prefere que a Fundação Palmares seja conduzida por alguém que desconhece sua relevância, relegou a Ancine (Agência Nacional de Cinema) a um grupo de trabalhos. Regina não sabe o que é cultura, história e muito menos política. Não leu os fatos recentes da vida nacional e, agora, incorpora a ideia da força e da imposição, ataca a imprensa e à acusa por perguntar. Regina Duarte faz seu atual papel com louvor, mas não é o de secretária, é o de produzir cotidianamente os capítulos indizíveis da ode infundada da ignorância.