Quem são Prisco Bezerra e Eduardo Girão? Os maiores financiadores das campanhas eleitorais cearenses em 2020

As alterações na legislação eleitoral, impedindo doações de empresas, não findou com as grandes transferências monetárias para políticos em período eleitoral. Prisco e Girão doaram mais de R$1 milhão, cada, em 2020.




Colunas, Paulo Junior

Os períodos eleitorais revelam muitos detalhes da vida política, independente da magnitude do processo, seja local ou nacional. Entre os principais pontos de observação estão os doadores de campanha, em especial, aqueles que investem altas quantias em determinada (s) campanha (s). Isso vem chamando cada vez mais atenção desde 2017, quando foi realizada uma pequena reforma na legislação eleitoral.

De acordo com o novo texto aprovado pelo Congresso Nacional, estão vedadas as doações de empresas. Permitindo-se, apenas, que pessoas físicas efetivem apoios financeiros aos candidatos de cada pleito. Contudo, o texto define que cada cidadão pode doar, no máximo, valores equivalentes a 10% de todos os seus rendimentos tributados no ano anterior ao pleito. Estabelece, ainda, que as transações devem ser feitas diretamente para contas ligadas ao político que está recebendo.

Em 2020 foram realizadas as eleições municipais. Em meio ao contexto pandêmico, esperava-se uma redução no volume de gastos e, também, nas aglomerações de campanha. Porém, nenhum dos dois procedimentos aconteceu de fato. No Ceará, foram observadas cerca de uma centena de doações acima de R$40 mil. Ou seja, pessoas que transferiram valores dessa magnitude para os postulantes apoiados.

Entretanto, existem dois casos cearenses que são emblemáticos. Em 2020 algumas das maiores doações de campanha foram realizadas por dois empresários fortalezenses. Prisco Bezerra, que transferiu de uma única vez o equivalente a R$ 1,3 milhões para campanha do candidato José Sarto (PDT), que se sagrou prefeito de Fortaleza. O outro é Luís Eduardo Girão, que doou somente para campanha de Capitão Wagner (Pros), aproximadamente R$ 1,7 milhões. Wagner terminou o pleito como segundo colocado na disputa pelo Paço da capital cearense.

Prisco Bezerra: o doador do clã Ferreira Gomes

Prisco é notado como um empresário reservado, não sendo inicialmente muito afeito a grandes exposições públicas. Porém, essa realidade vem mudando, desde que ele passou a integrar de modo firme o grupo político capitaneado pelos irmão Ciro e Cid Gomes. A família Ferreira Gomes é bastante influente no estado, sapiente disso, Prisco tornou-se um dos principais doadores das campanhas do clã e de seus aliados.

Prisco realizou grandes aportes para campanhas recentes, além do R$1,3 milhões transferidos de uma única vez para Sarto Nogueira (PDT). Em 2018 ele foi um dos principais patrocinadores da campanha de Cid Gomes para o Senado Federal, tendo realizado três transferências que somaram ao todo R$1,3 milhões.

À época, Cid Gomes conseguiu ao todo cerca de R$2,7 milhões para custear suas despesas. Nessa linha, indica-se que apenas um doador, Prisco Bezerra, foi responsável por 47,8% dos valores arrecadados. Ele doou mais que o próprio partido de Cid, o PDT aportou R$500 mil. Aqui aponta-se um fato relevante, Prisco é o primeiro suplente do senador Cid Gomes, que foi eleito com votação expressiva em 2018. Já chegou, inclusive, a assumir o posto de Senador entre dezembro de 2019 e abril de 2020, período em que o titular estava afastado para tratamento de saúde, devido ao tiro que recebeu durante o motim da Polícia Militar do Ceará.

 Em 2018, quem também recebeu doações foi o então candidato a presidente, Ciro Gomes (PDT). Porém, Ciro recebeu os valores a partir de Gerardo Rodrigues Bezerra, principal sócio de Prisco Bezerra. Gerardo doou R$400 mil para a campanha presidencial do pedetista.  

 Mas afinal, qual o setor de atuação de Prisco Bezerra? Ele atua de sobremaneira em dois setores, no campo educacional e no imobiliário. Atualmente ele é sócio de um conjunto de cinco empreendimentos, a maioria do campo educacional. Entre elas a Stamp Serviços Educacionais, Edutec Serviços Educacionais, Meta Serviços Educacionais, e entre outras. No setor imobiliário, o maior investimento está alocado na Terra do Sol Empreendimentos Imobiliários. Segundo o site da Receita Federal, o capital social declarado da Terra do Sol é de R$33 milhões.

Em 2022 haverá a realização de eleições gerais, e neste momento existe a possibilidade do ex-governador, Cid Gomes, disputar o executivo cearense. Caso a especulação se confirme e Cid sagre-se vencedor, Prisco assumiria em definitivo a segunda metade do mandato de senador, ficando no cargo por quatro anos.

O caminho até lá ainda é de incertezas, mas existe uma certeza concreta, Prisco será um forte doador das campanhas do clã Ferreira Gomes. Ciro Gomes chegou, inclusive, a parabeniza-lo em suas redes sociais, quando de seu aniversário, recentemente.

Segundo a declaração de bens feita pelo próprio Prisco Bezerra, em 2018, ao concorrer à suplência no Senado, ele tem um patrimônio superior a R$64 milhões.

Eduardo Girão: o patrocinador da oposição  

Eduardo Girão (Podemos) já é um nome mais conhecido, pois ocupa o cargo de senador desde 2018, quando foi eleito pelo Ceará. Tendo, inclusive, derrotado o então candidato a reeleição, Eunício Oliveira (MDB). Girão também vem se consolidando como um grande doador de campanhas políticas, naturalmente que ele investe naqueles que estão em seu meandro político.

Em 2020 ele foi o principal responsável pelas arrecadações de capitão Wagner (Pros), segundo colocado na disputa pelo Paço fortalezense. Girão foi responsável por quase 37% dos valores recebidos pelo então candidato. Em um total de dez transferências o empresário aportou um volume de recursos superior a R$1,7 milhões. A maior parte das transações foi realizada entre o final do primeiro turno e as duas semanas de campanha para o segundo turno. O maior volume foi repassado ainda nos primeiros dias de atividade de campanha, em 30 de setembro. Neste dia, Eduardo Girão transferiu para a campanha de Wagner o equivalente a R$500 mil.

Contudo, o político não se limitou a Fortaleza, realizou doações para diversos outros políticos da região metropolitana. Neste contexto destaca-se a candidata a prefeitura de Caucaia, Emília Pessoa (PSDB). Girão doou R$200 mil para a candidata, em sete movimentações financeiras. Todavia, Emília não foi eleita, e ao final da campanha, Girão já estava rumando ao barco de Vitor Valim (Pros), que se sagrou vencedor. Porém, Girão não efetuou doações.

Ele também fez aportes nas campanhas de vereadores, mas o caso mais emblemático é o de Carmelo Neto (Republicanos), nome de recebeu R$20 mil para investimento. Carmelo foi eleito e tem em Girão um de seus principais aliados, considerando, inclusive, deixar o legislativo fortalezense em busca de uma vaga na Assembleia Estadual. Tudo isso com apoio do senador.

Em 2018, quando se elegeu senador da República, Girão foi seu principal doador, tendo realizado nove transferências bancárias que somaram mais de R$2,7 milhões. A maior delas foi efetuada em setembro daquele ano, e tinha o valor de R$600 mil. Eduardo Girão foi responsável por 79% dos recursos de sua campanha. Já seu antigo partido, o Pros, contribuiu com cerca de 6%.

Como expresso no início, Eduardo Girão é empresário, tendo participação acionária em aproximadamente 19 empresas diferentes. Ele atua no setor de distribuição de bebidas, administração empresarial e, sobretudo, no campo da segurança e transporte de bens e valores. Uma das empresas em que ele é listado como sócio é a Servis, que age no gerenciamento de riscos; também tem participação na Service Company, empresa de transporte de valores, uma das mais usadas no estado do Ceará.

De acordo com a declaração de bens prestada pelo senador à Justiça Eleitoral, ele detém um patrimonial de mais de R$ 36 milhões. Tendo, inclusive, grandes quantias depositadas em contas no exterior. Este fato não configura nenhuma ilegalidade, porém, tais depósitos costumam buscar meios para reduzir a carga de tributos, geralmente recorrendo a paraísos fiscais.

Em 2022, Girão deve apoiar nomes de seu grupo na sucessão ao governo do Estado e, provavelmente, deve ser observado como um dos principais financiadores de campanha política no Ceará.