Quem é Úrsula?

Úrsula pode ser considerado o primeiro romance abolicionista brasileiro de
autoria feminina.




Coluna Literária, Colunas

Úrsula é o romance da maranhense Maria Firmina dos Reis (1822-1917),
mulher negra, autodidata, que se descrevia como uma “criatura frágil, tímida, e por consequência, melancólica.” Enveredou pela poesia, pela música e pela crônica. Seu pioneirismo foi além da arte literária: foi a primeira mulher a ser aprovada para o cargo de professora de primário e fundou a primeira sala de aula gratuita e mista, em Maçaricó próximo de Guimarães Sabendo de sua posição social no século XIX, Firmina declara no prólogo do romance: “Pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e conversação dos homens ilustrados”. O descrédito à literatura produzida por mulheres no passado era uma estratégia para abafar a voz feminina e legitimar a voz masculina como a única representante de uma elite cultural.
Publicado em pleno movimento romântico (1836-1881), neste período
José de Alencar criava personagens indianistas dóceis, bons e inocentes, Úrsula, para além da temática do sofrimento, da morte, do incesto e do amor, rompe com a tradicional visão do negro, sujeito sofredor e alienado, até então vigente.
É verdade que a heroína é branca, mas o que mais chama atenção é uma tríade de personagens negras – Túlio, Antero e Suzana. De sua boca ouvimos sua triste trajetória: foi arrancada de sua terra (África), separada de seu marido, de seus filhos e foi jogada em um navio negreiro, onde “presenciou as mais terríveis desumanidades”. 
Maria Firmina adornou um típico enredo romântico de considerações e análises sociais sob a perspectiva do feminino e do negro. Sua voz sensível, poética e crítica é capaz de fazer o leitor querer escutá-la e propagá-la. Urge, pois, ler Úrsula. bd.camara.leg.br