Quantos mais ainda irão morrer de Covid-19?

Já são mais de 500 mil mortes por Covid-19. Segundo estudos, o Brasil seguirá em níveis assustadores. Resta saber quantos ainda morrerão diante da ingerência política do Governo, que fingindo não ver dor, se mantém ausente.




Colunas, Paulo Junior

O Brasil tem se tornado o celeiro da morbidez. Parece que o país se esforça para manter-se ceifando a sua população. No último sábado, 19, atingiu-se marca de 500 mil vidas perdidas para a Covid-19. 500 mil histórias, sorrisos que foram indevidamente silenciados. No Brasil morre-se de vírus, mas morre-se principalmente de Governo, que incompetente, cruza os braços e deixa que seus pátrios morram. Assim, o país mantém-se na contramão do mundo; como cego que não enxerga o obstáculo a sua frente. O Governo segue vendado e sem interesse de tirar a venda.

Em junho de 2020 o Brasil passou a figurar como a segunda nação que mais perdeu vidas durante a pandemia de Covid-19. Passou-se um ano e o país segue nesse posto, com risco mórbido de alcançar o primeiro lugar. Durante este um ano a pandemia correu e arrefeceu em diversos pontos do mundo. Contudo, nas terras tupiniquins as reduções foram sempre momentâneas, como a maré do mar que cede e pouco tempo depois volta a subir, com mais força e potência.

A pandemia viveu poucos momentos de controle no Brasil. Nunca houve um trabalho coeso das autoridades nacionais de segurança sanitária, diversas trocas de ministro, aposta em tratamentos sem comprovação, oposição à vacina. Esses são apenas alguns dos pontos que trouxeram o Brasil ao posto atual. Porque a nação que exportava vacinas para o planeta, passou a desaprovar sua aplicação.

Ao atingir o patamar absurdo de 500 mil mortes, fica a impressão que a perda foi naturalizada, que a dor já não choca ou incomoda como outrora incomodava. Ao que parece, os governantes brasilienses perderam as suas faces de humanidade. O presidente da República não proferiu uma declaração sobre a atual conjuntura, seus ministros também optaram pelo silêncio. O único que usou da fala foi o titular da pasta das Comunicações, que seguindo a cartilha de seu chefe, relativizou as mortes e disse que ninguém comentaria da quantidade de pessoas recuperadas. Fábio Faria sabe pouco de comunicação, não conhece de jornalismo; não sabe que a dor de 500 mil vidas tiradas é pauta incaível e de manchete sem tamanho.

 A gestão da pandemia feita até o momento é, no mínimo, irreal, incondizente com o tamanho e com a capacidade do Sistema de Saúde brasileiro. O país que detém 2,7% da população mundial, hoje em dia concentra 13% das mortes por Covid-19 no mundo. Algo está incorreto, algo não foi feito em tempo hábil e na velocidade em que deveria.

Já são mais de 500 mil mortes. E segundo estudo realizado pelo pesquisador Pedro Hallal, e publicado na Revista The Lancet, se o Brasil tivesse adotado medidas medianas de combate ao novo Coronavírus, estima-se que 75% dessas vidas teriam sido poupadas. Ou seja, se o Governo tivesse agindo de modo coerente, objetivo e cientifico, é possível 375 mil vidas estivessem agora salvas.

O Presidente Bolsonaro jamais reconhecerá a sua brutal incompetência, ou seu sórdido plano. As terras do Cruzeiro do Sul já não são as mesmas, pois faltam nelas mais de 500 mil habitantes. A agilidade de Brasília é adensadamente seletiva, prefere ignorar 81 e-mails da Pfizer oferecendo vacinas, e dizer sim à Copa América.

Plenário da CPI Covid-19 no Senado Federal. Foto: Reprodução O Globo

A ausência de gestão do Governo Federal na pandemia encaminha, no momento, para sua continuidade. Continuidade que se faz em espaço alarmante. Hoje, o país atravessa nova onda de casos e mortes, estando dias em patamar crítico. Segundo especialistas será urgente acelerar na vacinação. No entanto, o contexto também exige que outras medidas sejam adotadas, como a restrição à circulação de pessoas, por exemplo. O executivo federal o fará? Não, pois na narrativa bolsonarista não há espaço objetivo para a vida, para um auxílio descente e nem para vacina em tempo hábil.

É constrangedor que, em meio a dor de tantos, seja necessário instaurar uma CPI para apurar ausências do executivo no combate à pandemia. Porém, é mais constrangedor não saber os culpados da barbárie atual. A CPI Covid-19 tem um papel histórico pela frente, deve pautar-se pela necessidade de entregar ao país um relatório capaz de passar parte deste momento a limpo. Já são mais de 500 mil mortes; são irmãos, amigos, vizinhos, compadres, primos. São mães, pais, avós. São pessoas que não precisavam partir agora, não precisavam perder a batalha para um vírus que já possui vacina.

No sábado, milhares de pessoas protestaram contra o Governo, em favor de vacinas e da ampliação do auxílio emergencial. As manifestações acontecem quando as pessoas tem medo de se infectarem, mas também tem medo de não haver fim ao que se vive. Medo de que falte comida no prato, de que não haja vacina para os que são próximos. Em plena pandemia as pessoas vão às ruas e protestam. Protestam porque o Governo é mais danoso que o vírus. Talvez o Governo seja o próprio vírus.

Mais de 500 mil pessoas morreram. Quantos mais ainda irão morrer?