Quando a imprensa brasileira deixará de ser ‘canalha’, ‘fascista’ e ‘covarde’?

Curioso: eleição norte-americana choca o brasileiro, caos no nosso país não.




Coluna do Paulo Rossi, Colunas

Certa vez li no Twitter: “Três nazistas e um jornalista que nunca se posiciona contra o regime entram num bar. O garçom pergunta: mesa para quatro nazistas?”.

Nesta semana, entre muitas leituras possíveis a partir da eleição norte-americana, um dos pontos mais comentados foi o vexame protagonizado por Trump ontem (05), na Casa Branca, em pronunciamento. A máquina de fake news viva deixou o país tão farto de mentiras que pelo menos SEIS emissoras – ABC, CBS, CNBC, MSNBC, NBC e NPR – se viram obrigadas a interromper a fala de Trump (veja notícia completa AQUI) e colocá-lo como mentiroso ali, ao vivo, de forma responsável e correta, afinal de contas o papel do jornalista deveria ser o de informar acima de tudo e todos.

Apesar da grande repercussão que este fato inédito e inacreditável recebeu por parte da mídia brasileira, um questionamento que ficou é “E o Brasil? (quase parafraseando “E o Lula? E o PT?”) Será que podemos contar com a imprensa brasileira numa defesa da nossa democracia deste mesmo modo caso Bolsonaro repita esta cena – e ele vai, acredite – em terras tupiniquins?”

A minha resposta é um gritante e enfático NÃO. Primeiro porque historicamente a mídia brasileira não tem qualquer interesse em defender a democracia, basta relembrar o apoio que a ditadura militar recebeu de emissoras como a Globo e das coberturas das manifestações de 2013 e após, do golpe de 2016 e das eleições de 2018. Nossa imprensa segue sendo uma profunda vergonha mesmo com a técnica impecável, a cara de pau, a produção, palavras, peripécias, paletós e estúdios dos mais lindos, sofisticados e avançados do mundo.

Escolha muito difícil

No nosso país, a escolha muito difícil a ser feita é a de onde se informar. Com grande parte da imprensa sendo propriedade de políticos e/ou com interesses próprios, o viés que constantemente é levado à última potência sob a glamourosa embalagem de “imparcialidade” é o da alienação, desembocando em fake news e ascensão da direita repleta de ideias fascistas. Não que ser parcial seja necessariamente um problema, afinal é humanamente impossível não sê-lo sob algum aspecto mesmo que mínimo, mas se utilizar da palavra “fato” para seguir desinformando a população brasileira é o atestado que falta para a reeleição de Bolsonaro, restando pouco a ser feito pelos partidos políticos durante o período eleitoral, mas estes novamente vão levar toda a culpa e serão responsabilizados pela ausência de autocrítica pela mesma parte da imprensa que nunca teve a decência nem coragem de olhar para si e pedir “desculpas” pela quantidade de bosta que tem promovido e jogado na cabeça dos brasileiros ao longo das últimas décadas – não à toa já tivemos que acompanhar aberrações como a Folha chamando ditadura de “ditabranda” em 2009, lembram? É bom não esquecer: eles contam com nosso esquecimento. O quarto poder segue vivo, não se derruba fascismo, devaneio e gente louca em três meses antes de eleição nenhuma. E nunca sem a ajuda do jornalismo, que permanece fundamental para uma sociedade mais elucidada ou mais emburrecida.

Para se ter noção do que estamos enfrentando no Brasil, neste momento um canal de notícias quase que diariamente tem dado voz à terraplanistas e credita à mentiras o rótulo de “opinião”. Mentira não é opinião, é mentira. Não pode ser validada. Obscurantismos pertencem à parte podre da História humana, não às telas da televisão, e devem permanecer ocultas sempre que possível, excluídas de qualquer narrativa midiática.

Mas o que esperar do futuro? A resposta possível é nada. De 2018 para cá, a mídia brasileira continua parecendo muito pouco interessada em produzir jornalismo de qualidade, ético e sério. Não espere que um dia acompanhemos a televisão deste país, por exemplo, corrigindo ao vivo Bolsonaro (até porque a agenda ultraliberal de Guedes é a grande galinha dos ovos de ouro para muitos dos donos da mídia, que se retém a criticar as política de costumes do presidente, e isso quando lhe interessa). Resta a esperança de que nos dois próximos anos essa realidade mude, que algo possa ser aprendido dessa eleição norte-americana, por exemplo, mas até lá a pergunta segue inquietando aqueles que desejam um Brasil melhor: até quando a imprensa brasileira vai continuar sendo ‘canalha’, ‘fascista’ e ‘covarde’?