PSD, o partido desejado por todos

Os arranjos partidários estão cada vez mais intensos, e novidades são esperadas diariamente. O PSD tem sido tratado como sonho de consumo por praticamente todas as campanhas presidenciais. Com articulações próprias, o partido de Kassab sabe que vencerá em qualquer que seja o cenário.




Colunas, Paulo Junior

Fundado em 2011, o Partido Social Democrático (PSD) tem se configurado como um dos grandes protagonistas dos movimentos pré-eleitorais que estão ocorrendo. Com estrutura robusta e um número razoável de políticos influentes, o PSD é hoje uma das siglas mais disputadas e desejadas pelos pré-candidatos à presidência da República. Lula (PT) sonda de um lado, Ciro Gomes (PDT) corteja de outro, Moro (Podemos) tenta correr por fora, e até Bolsonaro almeja ter de volta aquele que um dia lhe foi um fiel da balança.

Porém, no meio disso tudo, o partido de Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, despista a todos e conduz uma cruzada singular. Kassab trabalha em várias frentes, quer usar todo o poderio político que tem nas mãos para colher um PSD ainda mais importante e decisivo em 2023. Ou seja, o partido não olha singelamente para o agora, pois desde antes já planeja o futuro e, provavelmente, os cargos que poderá ocupar.

Apesar de apresentar Rodrigo Pacheco (PSD), atual presidente do Senado, como candidato à presidente, os mandatários da sigla em destaque sabem que o nome do político não encontra a ressonância adequada. Ou seja, trata-se apenas de fumaça jogada ao ventilador. Assim, o mais provável é que Pacheco siga no Senado, a fim de ampliar a sua influência política, para, talvez, futuramente abarcar para o PSD o governo mineiro.

Nesse interim, o PSD já articula por fora um outro nome, mais fumaça ao ventilador, especula-se que Eduardo Leite, atual governador do Rio Grande do Sul, deixaria o PSDB de Dória para disputar o Planalto pelo partido de Kassab. Contudo, a articulação é improvável, Leite deve ficar no ninho tucano e já assume a possibilidade de disputar a reeleição, algo que por ele foi negado no início do primeiro mandato.

Ou seja, nesse meio, o PSD trabalha com a distração de seus possíveis futuros aliados, apontando nomes relevantes de sua composição e indicando que outros nomes podem ali se instalar. Dessa forma, atos de filiação tem se instaurado país afora. O PSD infla a sua aderência e cobrará uma fatura elevada para ceder seus palanques regionais, fatura que será paga independente de quem vencer o pleito programado para outubro.

Definindo-se como legenda de centro, o PSD parte a coalisão com quem ocupa o poder, assim, o centro psdebista é pragmático e não programático. Desde sua oficialização, em 2011, o PSD integrou todas as gestões federais, foi decisivo para o governo Dilma (PT), ocupou pastas na gestão Temer (MDB), e até recentemente era um dos partidos mais alinhados às pautas bolsonaristas endereçadas ao Congresso, chegando, inclusive, a ocupar cargos em órgãos da administração nacional.

Entretanto, o desmonte praticado pela (in)gestão Bolsonaro (PL), e a sua impopularidade, fizeram com que o partido rapidamente começasse a construir o seu distanciamento. E ao fazer isso, buscar meios de se consolidar como uma peça importante desse xadrez. Já é possível dizer que conseguiram. Desejado por todos, o PSD terá total autonomia para desenhar seu futuro, estará em um barco no rumo presidencial, mas sabe desde agora que isso é indiferente, ganhará independente do resultado.

A preço de hoje, a proximidade com Lula é larga, e a liderança do petista nas pesquisas torna a aliança ainda mais provável. Porém, recentemente, Cid Gomes, senador pedetista, disse que ainda crê na chegada do PSD ao palanque Ciro Gomes, presidenciável do partido. Nessa linha, Ciro aumentou os diálogos com Alexandre Kalil (PSD), prefeito de Belo Horizonte, e pré-candidato ao governo mineiro. O pedetista também desenha uma forte aproximação com Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, que deixou o Democratas e se filiou ao PSD.

As cenas ainda estão incertas, e a fumaça ainda toma parte da tela que exibe o filme. Porém, o cacife do PSD é inegável e será debatido ponto a ponto antes de uma aliança oficialmente ser anunciada. Com uma bancada de 37 deputados federais, 11 senadores e 658 prefeitos, o partido tem parte do tabuleiro sob seu controle, e com figuras inteligentes dirigindo as jogadas. Os anúncios não demorarão tanta a chegar, mas desde já e possível concretizar uma coisa: na pré-eleição, o PSD sai na frente e já pode ser considerado um dos vencedores.

Antes, a onipresença política nos mandatos presidenciais era do MDB, aparentemente, esse lugar está em disputa, e o PSD tem largado na frente.