Prestes a começar, o horário de propaganda eleitoral será definidor

Na próxima sexta, 26, começam as inserções do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE). Neste ano, há um rearranjo das forças, e diferente de 2018, o espaço tende a reassumir o posto de relevância, e as campanhas se articularam/articulam para isso.




Colunas, Paulo Junior

As campanhas eleitorais começaram oficialmente em todo o país, ao longo das próximas semanas o ritmo deve ser intensificado dia após dia. O cenário nacional mostra uma polarização entre Bolsonaro (PL) e Lula (PT), e ambos usarão de todos os artifícios possíveis para alcançar seus objetivos. Lula quer vencer no primeiro turno, Bolsonaro quer arrastar a decisão para o segundo. Em 26 de agosto terá início a propaganda no rádio e na TV, e antes que alguém afirme que este espaço não é mais tão relevante, é preciso ser taxativo quanto a sua relevância. O rádio e a TV ainda falam para maioria da população. Dados de 2020 mostram que naquele ano 97% da população nacional parou em algum instante exclusivamente para ver TV. Ou seja, nesta eleição somente as redes sociais não serão capazes de eleger um presidente.

A propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV existe há décadas, e seguidamente vem se mostrando fundamental para o processo eleitoral, especialmente no campo nacional. A abrangência do país impede que os candidatos consigam estar presencialmente em todos os lugares. Portanto, este espaço age para fazer chegar até os eleitores as ideias e pensamentos de cada postulante. Em 2022 serão dois blocos diários de 12 minutos e meio cada. O primeiro entra no ar às 13h, e o segundo às 20h.

A eleição de 2018 colocou em xeque a importância do espaço de propaganda nos veículos tradicionais, devido à eleição de Jair Bolsonaro que, à época no PSL, contava com somente 8 segundos de exibição. Contudo, o que seguidamente é desconsiderado nesta análise é o fato de o atentado sofrido pelo candidato ter lhe assegurado uma exibição superior a todos os outros postulantes. É possível exemplificar que em 6 de setembro – dia do atentado – o atual presidente contou com 22 minutos consecutivos de cobertura do principal telejornal do país, o Jornal Nacional. O JN chega a impactar quase 50 milhões de telespectadores diariamente. É essencial acrescentar, ainda, que o fato ganhou desdobramentos, e no fim do dia, o nome de Bolsonaro, suas falas, opiniões e ideias estavam se disseminando nas mídias tradicionais, em meio à cobertura do fato que o envolvia.

Por isso, ao observar 2018, é necessário compreender que a eleição do hoje ocupante do Planalto não passa exclusivamente pela internet, passa essencialmente pelas redes massivas de comunicação, em primazia o rádio e a TV. Bolsonaro se favoreceu, ainda, de uma justificativa para ausentar-se dos debates, além de impedir que seus adversários fossem veementes em confrontá-lo. Em 2018, Alckmin detinha mais de 50% do espaço em rádio e TV, e estava pronto para direcionar sua artilharia para o postulante do PSL, entretanto, teve de rever a ação logo no início da veiculação.

Em 2022, o embate também será fortemente travado no campo das mídias tradicionais, o HGPE não é dispensável, e a busca de alianças dos principais candidatos demonstra isso. Cientistas políticos são uníssonos ao endossar que o campo da TV e do rádio conseguem adentrar com maior facilidade ao espectro do cotidiano da maioria da população.

Nessa linha, é primordial descrever que o campo das redes sociais também é comumente abastecido com aquilo que saí da televisão, por exemplo.  Ou seja, torna-se um espaço de repercussão. Logicamente que as mídias sociais tem um poder avassalador. Mas, em um país com os marcadores de desigualdade que o Brasil tem, a principal batalha das eleições não é terminantemente travada lá. Essa batalha tem um recorte lá. Claro que esse recorte pode ser definidor, contudo, a sua origem em face essencial se deu em outro local.

Neste ano, as principais candidaturas também armazenam os maiores tempos de exposição, e é provável que as campanhas adotem um tom bem mais personalístico do que propositivo. As inserções no HGPE serão um reflexo do tensionamento social vivenciado. Assim, as produções tentarão furar a bolha de suas campanhas com aquilo que já fora visto até aqui. Todavia, falando para um público de milhões, e inflando este público.

O HGPE será parte definidora desta eleição, não se verá um novo 2018, quando as redes cresceram em protagonismo. 2022 é o retorno às campanhas mais clássicas, ao mesmo momentaneamente. Os candidatos irão às ruas, e apostarão no espaço na TV para virar votos e crescer. Desta vez as mídias sociais serão parte do processo, mas, não devem erroneamente ser apontadas como todo o processo, tal qual fez-se em 2018.