O campo político está tensionado. Em poucos momentos históricos esteve em nível tão considerável de irracionalidade. O que se observa em alguns núcleos do campo social hoje é uma tendência à truculência, em desfavor da base conceitual da política. Política é diálogo, tolerância e coletividade. Não há nada a ver com imposição, muito menos com sangue escorrendo nas mãos de alguém.
O caso de assassinato que tomou os noticiários no domingo, 10, é um exemplo luminar do quão complexa é a atual conjuntura. Nesta, parece que a oposição não pode se fazer presente, porque se ela existir visualmente haverá alguém com desejo de trucidá-la. Política é lugar de oposição, lugar de debate, discussão. Política é ambiente de embate, contudo, embates que mantém a espinha dorsal da civilidade, do respeito e da discordância no campo das ideias. Na política não deve existir espaço para tortura, e muito menos para ações ainda mais sangrentas.
Ontem, um homem foi capaz de invadir um evento privado e que estava enfeitado com adereços ligados ao Partido dos Trabalhadores e ao ex-presidente Lula. Este homem, gritou palavras de ordem com identificação bolsonarista, e em seguida disparou vários tiros, atingindo um cidadão de 50 anos que morreu no local da festa. Este cidadão era Marcelo Arruda, que era tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu – PR. Esse relato não condiz com um ambiente democrático.
Ao olharmos para 2018, há quem aponte aquela como a eleição mais polarizada e violenta dos últimos anos. Nesse ponto, é preciso atenção, pois o trajeto eleitoral de 2022 tem se apresentado ainda mais duro, drástico e tenso. 2022 caminha para o infeliz título de eleição mais tensionada do período democrático. Isso ocorre, porque alguns grupos políticos tem se ancorado na violência como meio de resposta ao campo em que está em sua oposição.
Aqui não é possível fugir do bolsonarismo. O atual presidente da República tem um discurso assombroso de incitação ao ódio. São inúmeros os momentos em que ele conforma declarações que inflamam sua militância de modo equivocado, podendo leva-los a atos de truculência.
O hoje presidente já disse, com um fuzil nas mãos, que era preciso ‘metralhar a petezada’. Ele também sugeriu resolver conflitos na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, metralhando o local. Jair Bolsonaro declarou em outro momento que sua especialidade era matar. Durante a pandemia o presidente disse que não era coveiro. Bolsonaro age sempre fora do campo da política, e inflama alguns de seus apoiadores a fazerem o mesmo.
Ao comentar o caso de assassinato nas redes sociais, o ocupante do Planalto Central recuperou uma publicação de 2018 na qual dizia dispensar o apoio de quem praticava violência contra opositores. Em seguida, Bolsonaro associou a violência com o campo da esquerda, afirmando que seria este o ambiente da violência. É surreal, que ao comentar um assassinato, o chefe do executivo gaste mais linhas acusando, do que expressando condolências ou cobrando investigações. Que ele deseje mais apontar para o outro, do que ser capaz de avaliar o estrago prático daquilo que ele mesmo ajudou a construir.
No fim das contas, Bolsonaro acredita piamente que seu discurso não tem interferência no que seus apoiadores extremistas são capazes de fazer. Ele acostumou-se a não ter relevância na política partidária, a ser um fantoche manipulado, que acredita – ou finge crer – que seus discursos de apolítica não são capazes de ainda invadir a mente de alguns.
A campanha oficialmente nem começou ainda, mas já existem casos grotescos de bomba de fezes em evento com ex-presidente Lula, reforço de segurança dos presidenciáveis, vandalismo contra juízes. Este é o campo da eleição de 2022. Neste momento o campo social está banhado pela negação da política, mas isso também é negar o Brasil, já ponderaria Jessé Souza.
E não. Não se pode negar o Brasil.