Pazuello tenta limpar o presidente, mas se suja

O depoimento do ex-Ministro da Saúde aconteceu na última semana, e foi marcado por incoerências e mentiras. Pazuello ofereceu aos membros da CPI a versão do presidente para a ingestão da pandemia. Entretanto, arrogante, banhou-se na lama junto à Bolsonaro.




Colunas, Paulo Junior

Demorou, mas finalmente a CPI da Covid-19 conseguiu ouvir o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. O General da ativa do Exército Brasileiro fez um dos papéis mais vergonhosos possíveis, durante dois dias de depoimento entregou aos membros da CPI, e aos pátrios nacionais, uma jocosa face da mentira, desfaçatez e arrogância. A oitiva de Pazuello é coberta de declarações recheadas pela ausência do real. Ficou nítido, como se esperava, que ele buscou blindar o presidente da República. Porém, mesmo sujando-se para além da sujeira que já o marca, o depoimento não conseguiu limpar o presidente, que do mesmo modo segue em meios aos porcos, coberto de lama.

Pazuello chegou à sala, em que estão sendo realizados os trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, acompanhando de um Habeas Corpus (HC) preventivo, medida que havia sido impetrada junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, ele estava ancorado em uma peça jurídica para negar-se a responder questões que pudessem lhe imputar responsabilidade direta. Entretanto, o ex-ministro optou por responder as questões quase que na sua integridade. O HC era peça de ampliação da arrogância que transborda do ex-chefe da Saúde. Pazuello teve um depoimento marcado por embates diretos com senadores de oposição e com o relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL).

Os embates não o impediram de mentir descaradamente, como se estivesse escondendo um detalhe de relevância inferior, ou omitindo um fato pequeno em uma reunião com os amigos. O militar entregou aquilo que a CPI já imaginava que aconteceria, deu voz a ilações sem tamanho, e protagonizou uma fuga que nem mesmo Hollywood idealizaria. Ele tentou fugir da culpa que se deita sobre seu colo. Em 11 meses à frente do Ministério da Saúde é, no mínimo, constrangedor, que o General não seja capaz de observar suas falhas e ausências.

Contudo, talvez ele não o faça, porque não se tratam de falhas, mas de grandes e valorizados acertos. Talvez, acertos tão queridos pelo Planalto Central que justificaram o empenho sem tamanho do Executivo Federal, para preparar o ex-ministro para o depoimento. Pazuello afirmou de modo categórico que deixou a pasta por ter atingido sua missão. Por certo, a missão dele era entregar a saúde, e os brasileiros, ao caos, a desordem sem fim e à morte.

Se a missão que ele se orgulha de ter cumprido for essa, de fato, ela estava em sua melhor forma. Reitera-se que Pazuello deixou o Ministério em 24 de março, nesta data o país já listava 300 mil mortes por Covid-19. Em março, o Brasil já tinha observado o desabastecimento de oxigênio em Manaus, e em diversas outras cidades. Estava diante da ausência de vacinas e de um quadro objetivo de compras e distribuição. Em 24 de março, o país observava a crescente da segunda onda de contaminações, enquanto isso faltavam kits de intubação.

Eduardo Pazuello orgulha-se da missão cumprida. Orgulha-se de ser parte e sentar à mesa com a escória da sociedade. Pazuello envergonha a instituição a qual pertence. O baixo clero sempre foi um jargão de Brasília, usado para classificar políticos de pouca relevância e de respeito questionável. Agora, Pazuello assume um posto inédito, é General de baixo clero, mas como mentiroso patológico que é, dirá que não, se envolverá em sua mentira e se sentirá eternamente gigante.

O ex-ministro faltou com a verdade inúmeras vezes. Mentiu ao dizer que não foi avisado com antecedência sobre o colapso do sistema de saúde no Amazonas, quando foi. Mentiu ao dizer que não houve propaganda do tratamento precoce, quando houve. Mentiu ao afirmar que o aplicativo TrateCov era protótipo, quando já estava em pleno uso, e recomendando doses de cloroquina.

Mentiu ao dizer que não foi desautorizado pelo presidente na compra de vacinas do Instituto Butantan. Mentiu dizendo que não recomendava hidroxicloroquina, quando o fazia. Fantasiou os dados de vacinação desconsiderando o percentual geral da população imunizada. Atualmente, menos de 20% dos brasileiros recebeu a primeira dose da imunização.

Pazuello mente copiosamente, mente no sonho de sentar no melhor lugar ao fim da festa, ele quer estar ao lado do rei da desordem, quer ser príncipe. Mas na CPI, deixou evidente que mal atinge o posto de sapo. Nessa lógica, ele segue reformulado a realidade, editando o passado e querendo reorganizar o futuro. Ele mentiu ao dizer que o Ministério não tentou ocultar o número de mortes, quando o fez seguidas vezes. Mentiu ao desacreditar, mais uma vez, o distanciamento social. Ele mente tanto, que mentiu sobre a própria saúde, passou mal e depois disse que não.

O depoimento de Eduardo Pazuello é o depoimento do presidente da República, as palavras do ex-ministro são palavras de Bolsonaro. Tanto o são que a tropa de choque o Governo se mobilizou para defende-lo. Mas é difícil defender o indefensável sem transparecer rasidão e ignorância.

Pazuello, dotado de arrogância e empáfia sem fim, se perde nas próprias histórias, nos devaneios que conta e conduz. Tentou a todo custo não se sujar e limpar o presidente. Contudo, encerrou seu depoimento coberto de dejetos. Já o presidente da República, mantém seu estado constante de sujeira. No começo ele estava com os porcos, mas, agora, nem os porcos suportam seu cheiro.

Bolsonaro optou por não interferir diretamente no Amazonas durante o colapso. Deu vasão ao Amazonas como laboratório a céu aberto. Esta semana a CPI será retomada, e a médica cearense, e secretária da gestão do trabalho e da educação na saúde, Mayra Pinheiro, será ouvida. Mayra é considerada a capitã cloroquina. Tudo indica que ela será mais uma voz anticiência e, por consequência, antivida. 

Ex-Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e o Presidente Bolsonaro, em ato realizado no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução CNN

Na manhã de ontem, 22, o presidente e o ex-ministro participaram de uma aglomeração sem motivo definido no Rio de Janeiro. O chefe do executivo federal decidiu percorrer algumas ruas da capital carioca de moto, em evento junto a motoqueiros. Todos estevam sem máscara, incluindo o ex-ministro. Pazuello reafirma o desejo de cear no manjar do caos. O General não pediu autorização a alta cúpula do Exercito para participar do descalabro praticado, caminha para abrir mais uma crise entre as Forças Armadas e o Governo. Ele foi aluno aplicado, aprendeu a gerir o caos no clã Bolsonaro, mas esquece que o clã é incompetente e infiel. Ainda há muito a ver e assistir.  

Ataques à Imprensa

Durante a manifestação de apoiadores do presidente da República, Jair Bolsonaro, ocorrida ontem, 22, no Rio de Janeiro, o repórter Pedro Duran, da CNN Brasil, foi impedido de exercer o seu papel de jornalista. O profissional foi ameaçado e toda a equipe teve de ser escoltada pela Polícia Militar. Entre os gritos proferidos, listam-se “lixo”, “bandido” e “comunista”.

O papel da imprensa é, e sempre será, o de apontar os equívocos daqueles que ocupam postos de representação popular. O jornalismo atua para levar a informação dos fatos do cotidiano a todos os brasileiros, diariamente. É inaceitável que qualquer profissional seja hostilizado e impedido de exercer o seu papel, o de reportar e informar. Assim como a CNN Brasil, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), esta coluna solidariza-se com o repórter Pedro Duran. Reiteramos o repúdio a toda e qualquer forma de agressão e censura.

A imprensa seguirá informando. Isso não mudará.