Paulo Guedes fica, mas não comanda

De posto Ipiranga da economia nacional à nome contestado e com pouco apoio, essa é atual situação de Paulo Guedes. Mantido no cargo de Ministro da Economia, ele entra para o rol de decorativos, não manda no próprio cercado e mesmo dizendo que fica, pode cair.




Colunas, Paulo Junior

O Ministro da Economia viveu o seu particular dia do fico, que aconteceu na sexta-feira, 22. Ao lado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nunca ter pedido demissão, disse que fica no governo enquanto houver necessidade. A realidade é que Paulo Guedes vem sendo pressionado há muito tempo, a recente debandada de parte de sua equipe econômica é prova cabal disso. Assim como Bolsonaro é refém das articulações do Centrão, Guedes também é. Dessa forma, a autorização para furar o teto de gastos, e a posterior liberação de emendas parlamentares, não será surpresa. O Centrão quer dinheiro para começar suas campanhas. E o Governo, ao que tudo indica, dará.

Paulo Guedes chegou ao governo como posto Ipiranga da economia, era o homem a toda prova, a peça que o mercado creia colocar o barco ao caminho do neoliberalismo econômico. Todavia, o que se vê hoje é uma realidade bem diferente, o posto Ipiranga está às moscas, parece que até mesmo os frentistas abandonaram o local. Guedes tenta se remexer para resguardar o título de ministro, sinal maior de apego ao cargo, pois do mesmo modo que seu chefe gere uma massa morta; Guedes gere um ministério sem rumo, e mais desgovernado que o próprio governo.

A saída abrupta e sem aviso prévio de dois quadros importantes da estrutura do ministério, Bruno Funchal, secretário espacial do Tesouro e Orçamento, e Jeferson Bittencourt, secretário do Tesouro Nacional, demonstra o esvaziamento da pasta. Desde o início do governo, a pasta da economia já perdeu nove membros, obrigando o ministro a adotar soluções caseiras e não necessariamente coerentes, bem como amplia a influência do Centrão no ministério.

Paulo Guedes vendeu um ideal de coesão durante a entrevista coletiva que assegurou sua permanência, chegou a evocar princípios de preocupação social. Contudo, a coesão não existe, ele que já foi desautorizado uma série de vezes, e seguirá o sendo. O aperto de mãos ao final, não poderia ser mais cênico, foi para as câmeras, mas não para os corredores do Planalto. Já a preocupação social, inflada pelo ministro, é apenas uma construção discursiva de quem almeja a reeleição e não medirá esforços econômicos para tê-la. Portanto, sem domínio do seu próprio cercadinho, Guedes virou uma extensão do cercadinho de Bolsonaro, que por sua vez, já não tem receios em gritar simbolicamente com o subordinado.

O dia do fico propagado no início, também foi feito para a plateia, Guedes segue balançado na posição, articulações internas dos seus ‘aliados’ podem ampliar sua instabilidade. Acresce-se a isso, o desejo sempre voraz dos parlamentares por emendas, se Guedes criar alguma resistência terá de lidar com uma oposição forte e comandada por caciques do Congresso, como o atual presidente da Câmara, Artur Lira (PP). Assim, se o defensor do neoliberalismo não liberar as emendas, pode ser liberado do cargo de ministro.

Nessa linha, é preciso ponderar que Guedes adotou um neoliberalismo de goela, aprendeu com o presidente. Ele promulga um discurso, mas a realidade o contradiz por inteiro. As práticas neoliberais pouco encontraram adesão no governo, provavelmente porque o presidente sequer sabe o que o termo significa. Logo, o liberalismo pensado não passou de promessa, e uma promessa das mais vagas.

Guedes diz que fica, mas nem ele sabe os contornos do amanhã, sua presença é contestada por outros ministros, aliados e até mesmo pelo presidente. Guedes já foi visto como indemissível. Porém, hoje, aguarda-se o momento de sua demissão, pois, no rumo atual, provavelmente ela virá, ou ele em um ato derradeiro pedirá pra sair. E ao sair, certamente pegará um caro voo até as Ilhas Virgens Britânicas, longe do Brasil, gastará parte dos quase U$$ 10 milhões que mantém no paraíso fiscal.