O silêncio de Bolsonaro diminui seu capital político

Chefe de governo até 31 de dezembro de 2022, Bolsonaro vem optando por um silêncio nunca antes visto. O presidente não fala com a imprensa, apoiadores e está distante das redes sociais. Bolsonaro finge não ver seu capital político ser reduzido.




Colunas, Paulo Junior

O governo de Jair Bolsonaro encontrará seu fim em pouco menos de um mês, contudo, a impressão generalizada é que ele já se encerrou. O ainda presidente da República tem optado pelo silêncio e pela já costumeira ausência de senso democrático. Bolsonaro fez poucas aparições ou declarações públicas desde a derrota, também vem evitando interações em suas redes sociais, ambiente anteriormente muito frequentado por ele e sua claque. Ao se manter recluso, o político do PL abre espaço para que outros tentem ocupar a oposição, que em tese tem ele como líder inicial.

Bolsonaro mostra-se, mais uma vez, um político raso, sendo incapaz de atuar de modo coerente para manutenção de seu poder eleitoral. Quando candidato ele obteve mais de 58 milhões de votos, e seu partido observou um crescimento considerável no Congresso. Entretanto, resguardado no Palácio do Alvorada, Bolsonaro vê o noticiário ser tomado pelo protagonismo da transição de Lula, já que o governo vigente parece não existir.

E na inexistência do governo, também inexiste o presidente. Jair Bolsonaro cala-se para a imprensa e para o cercadinho. Ela não fala aos criminosos dos atos antidemocráticos, não fala aos seus eleitores e muito menos aos políticos de sua base. No silêncio da reclusão, o ainda presidente nota seu capital político diminuir. Pois quem anseia por liderança procura por uma, e se Bolsonaro não ocupar essa posição, outros irão ocupar.

O presidente do PL, Waldemar da Costa Neto, também está preocupado, ele sabe que a guinada de seu partido se deve à presença de Bolsonaro na legenda. E Waldemar quer o que o futuro ex-presidente seja o principal cabo eleitoral das eleições de 2024. Todavia, no quadro que se constrói momentaneamente, a influência do principal nome do bolsonarismo não alcançaria os feitos de outrora.

Nesse caminho, o ocupante do Planalto olha um de seus principais aliados mover-se ao campo da esquerda e costurar o apoio ao governo Lula. Arthur Lira (PP) quer ser reconduzido ao comando da Câmara Federal e terá o endosso do PT, em contrapartida, o líder do centrão se comprometeu a articular a aprovação da PEC da transição. A aproximação de Lira e Lula demonstra a perda de força de Bolsonaro, que não conseguiu meios práticos de assegurar a coordenação da Câmara de modo mais alinhado a si, nem diante dos 99 deputados de seu partido.

Acresce-se a isso a tendencia de recondução de Rodrigo Pacheco (PSD) à presidência do Senado. Mineiro, Pacheco tem proximidades muito mais densas com o governo eleito do que o que se finda. Assim, o apoio petista à sua reeleição é claro desde outubro, o que favorece a desidratação de Bolsonaro.

A fotografia de momento mostra um Bolsonaro perdido, buscando encontrar uma alternativa de sobrevivência. É expresso que o bolsonarismo não morre, no entanto, se o ainda presidente não ocupar o espaço da liderança, perderá o posto rapidamente.

O PL espera que Bolsonaro comande a oposição do terceiro mandato de Lula. No instante atual o comandante está em silêncio, e a tripulação age por conta própria. Resta ver até quando. Pois se, ao deixar o Planalto, Bolsonaro seguir o mesmo modos operandi, não demorará muito e a tripulação o jogará tranquilamente ao mar.