O que sobra em Sérgio Moro? talvez, covardia

Sérgio Moro fala somente em espaços controlados, não permite contestações mais profundas, não conta com um projeto de governo e existe apenas em torno de um superficial discurso de combate a corrupção. Excluída a superficialidade, sobra a rasidão de político que não conhece o Brasil e quer ser presidente.




Colunas, Paulo Junior

A narrativa de Sérgio Moro é no mínimo beligerante, o ex-juiz resolveu lançar-se pré-candidato à presidência da República. Contudo, parece esquecer que seu passado o persegue e depõe de modo frontal contra o seu presente. Apoiador de Bolsonaro, juiz contestado, e covarde por natureza, não sobra nada sob o qual se é possível construir um fio narrativo confiável. Assim, Moro se esconde, foge do debate, fala no seu cercado e produz discursos que beiram o bizarro, tanto no campo da política quanto no do direito.

Moro tenta, hoje, se desvencilhar do bolsonarismo. Porém, ele é figura central deste movimento. Sem ele, a onda que levou Bolsonaro ao posto de presidente seria menor e mais facilmente combatida. Assentado no cargo de juiz federal, Sérgio Moro agiu politicamente, assim, usurpou o papel do direito e o colocou a serviço de movimentos politico partidários. Depois que notou a missão inicialmente cumprida, tornou-se ministro da Justiça, sonhando desde antes em ser ministro do Supremo tribunal Federal.

O cânone da moralidade pauta-se pela ausência dela. Cavou promessas e rompeu com o governo quando notou que algumas delas não seriam cumpridas. Por dezesseis meses Moro esteve tranquilo no posto de ministro bolsonarista, não sentiu vergonha de integrar o espaço da incompetência. Talvez tenha havido larga identificação.

Enquanto ministro, afirmou que o esquema de rachadinha do presidente Bolsonaro estava explicado. Agora candidato, diz que Bolsonaro precisa explicar. Disse que caixa dois não era corrupção. Aceitou passivamente o fim da operação que ele chefiava, a Lava-Jato. Disse que jamais entraria na política partidária, entrou. Enquanto ministro tentou passar a mão na cabeça dos policiais que lideraram o motim no Ceará. Incapaz de pensar em uma política indigenista, buscou a todo custo se livrar na Funai.

O tempo passa e o questionamento das capacidades de Moro seguem no vago. Ele fala unicamente daquilo que ele lhe fora um dia palpável, ou seja, um raso discurso de combate à corrupção. O discurso de Moro não alcança sequer instrumentos básicos e essenciais em uma democracia para combater aquilo que é a base de seu discurso. Ele é vago, superficial. Quase tão ignorante quanto o mostro ao qual ele deu origem.

Para ser presidente da República, em tese, é necessário que haja um projeto e a compreensão mínima do postulante sobre os principais temas do país. Entretanto, Moro não consegue discorrer basicamente sobre economia, geração de empregos, mercado internacional. Não conhece as grandes questões nacionais, ele se guia por uma discussão ideológica que é tão patética quanto a sua posição de candidato.

Em entrevista ao jornalista Pedro Bial, em 2021, Moro disse que estava fazendo exercícios de fonoaudiologia, ao que parece eles não vêm dando muito resultado, pois o ex-juiz não tem se sentido preparado para um debate aberto. O caminho para ocupar o posto máximo de um país exige debate na seara pública, contudo, Moro foge do debate como quem foge da morte. O que não é totalmente mentira, já que se fora exposto a um debate amplo e com espaço de contestação ficaria mudo, não por medo de falar, mas, simplesmente por não saber o que dizer.

É intangível que alguém que anseia presidir um dos maiores países do mundo não se sinta capaz de discutir propositivamente com seus adversários, a ponto de desmarcar uma entrevista, unicamente, porque um outro candidato também participaria. Foi isso que Moro fez, ao saber que Ciro Gomes, pré-candidato do PDT, seria entrevistado no mesmo programa de rádio que ele. Fundamental explicitar que não haveria debate, apenas entrevistas em momentos diferentes.

O ex-juiz também tem que explicar de modo mais objetivo a sua relação com a consultoria Alvarez e Marsal, que o contratou após deixar o cargo de ministro da Justiça. A empresa atuou na recuperação de uma série de empresas que foram expostas durante a operação Lava-Jato, liderada por Moro. O ex-ministro, que recebeu cerca de R$3,5 milhões por 11 meses de serviço, afirmou que suas funções não mantinham relação com as empresas que ele interpelou durante a operação. Contudo, essa miudeza detalhista dos seus ganhos financeiros é no mínimo complexa, ao tomar como base dados do Tribunal de Contas da União que indicam que a Alavarez e Marsal tem 75% dos seus ganhos vindos de empresas implicadas na Lava-Jato.

Bem, na sombra de Moro existe o seu passado, que é pouco honroso ao seu presente. No seu presente há um fantoche de si próprio, um personagem mal desenhado e que caminha para o naufrágio. Um político raso, um juiz parcial, alguém irracional ao que de fato interessa à nação. Moro é um postulante perdido na narrativa que ele mesmo tenta construir. Em meio a isso, o que sobra de Sérgio Moro? Talvez, a covardia, mas, certamente não é atributo a se comemorar.

Espera-se que, em ano eleitoral, a população não se permita ludibriar por mais um apolítico que descobre a seara pública, já está evidente o que acontece quando esse ludibriar é permitido.