O irreal mundo de Paulo Guedes

Ministro da Economia de Bolsonaro, Paulo Guedes afirmou recentemente que o crescimento da pobreza no país não tem origem nas ações do governo federal. Guedes mostra-se desconectado do mundo real, de olhos fechados ao país, ele enxerga claramente o que está escrito no manual bolsonarista.




Colunas, Paulo Junior

Não é segredo que o governo Bolsonaro vive em um mundo particular, em um espaço de fantasias mil e de beleza sem igual. Neste mundo desconexo à realidade, o ministro da Economia, Paulo Guedes, acha plausível contestar a responsabilidade do governo federal no aumento da pobreza. Segundo o ex-posto Ipiranga da economia, todo o caos fiscal e social do país deve ser atribuído à Covid-19. Guedes, obediente ao chefe, constrói uma narrativa descolada do mundo real, mundo que observa na irresponsabilidade governamental um dos pilares para o crescimento da fome no Brasil.

Certamente que a pandemia tem parcela significativa em parte dos graves problemas que afligem o país atualmente, contudo, é propagar inverdades atribuir a ascensão da pobreza unicamente a este fato. A Covid-19 escancarou, ainda mais, a concentração de renda que vitima esta nação. No mesmo lastro, iluminou em demasia a incapacidade do governo federal em agir objetivamente para resguardar a população mais vulnerável.

Os fatos não devem ser esquecidos, a gestão Bolsonaro evitou enquanto pôde a formação de linhas de apoio às comunidades mais carentes. Nessa linha, chegou a propor um auxílio Emergencial de somente R$200. Esclarece-se que esta circunstância só não prosperou por intervenção do Congresso Nacional, que agiu e fixou o valor do aporte momentâneo em R$600. Entretanto, os maiores descalabros não se encontram neste contexto, o governo usou toda a sua potência para desqualificar ações efetivas de combate e controle da pandemia, assim, o presidente e seus auxiliares promoveram aglomerações, falaram contra a ciência, medicina, abriram um campo de batalha com a imprensa. No entanto, segundo Guedes, nada disso contribuiu para que o Brasil chegasse ao ponto atual.

Defender a vacinação em massa da população não é uma cruzada ideológica, é uma necessidade sanitária e financeira. Países com elevado nível de imunização populacional vem conseguindo reerguer suas economias com mais solidez e agilidade, estando menos propensos a percalços causados pela própria pandemia. Por sua vez, aqueles que elegeram a vacina como inimiga, observam sofrimentos de dupla ordem, pois parte de suas populações não quer ou não consegue se imunizar, e assim, estão mais suscetíveis a urgência de novas atitudes paralisantes. Pois, sem que haja vacinação em massa ainda é possível novas ondas e o retorno do temido lockdown.

Porém, caro leitor, não há motivos para preocupação, no mundo Paulo Guedes os 20 milhões de brasileiros que passam fome hoje o fazem por mero acaso. Esta fome só encontra origem na Covid-19, jamais encontraria lugar na lentidão do Estado, na incapacidade de encontrar todos que estão à sua margem. Não encontraria respaldo nas declarações e ações que fizeram com que o país se arrastasse por dois em caos pandêmico. No mundo Paulo Guedes, o governo pode simplesmente se esquivar de suas responsabilidades e entrega-las, esquecendo que é primazia da gestão pública construir e fundar meios que garantam bem-estar social.

Quando o ex-posto Ipiranga retira de seu colo o porquê da fome nacional, ele age na formação de uma narrativa eleitoral e política. Guedes assentou-se no posto de ministro e não quer largar, há tempos que não manda e somente obedece. Na linha da obediência, ele precisa seguir a cartilha bolsonarista. Nesta cartilha consta a necessidade de costurar histórias que desafiam os dados da vida real. Guedes diz que o país está em franca recuperação, esqueceu da recessão técnica, da inflação, do desemprego. Guedes esqueceu que bilhões de reais foram entregues ao Centrão.

No meio de tudo isso, o governo desprovido de culpa, e incapaz de observar a si criticamente, age para a consubstanciação de um calote em parte da população. A PEC dos precatórios atrasa pagamentos que estão determinados, e deixa o governo com uma folga fiscal considerável. De acordo com o Ministério da Economia, o recurso será usado para custear o Auxílio Brasil, porém, a fonte é escassa e só garante viabilidade para o primeiro ano do programa. O governo sem culpa age calculadamente, disponibiliza informação em conta gotas e não diz à massa que ela deixará de receber o pagamento em dezembro de 2022. Na surdina, o bolsonarismo atua na movimentação da miséria, dando um pouco e sem dizer que este pouco acabará.

E depois que acabar? Bom, o ideal seria perguntar lá no posto Ipiranga, mas acho que eles não têm essa resposta.