O fator Lula e o jogo político de 2022

O retorno de Lula ao xadrez político mexe com todas as peças que estavam dispostas. O peso e o capital político do petista tendem a reequacionar todas as foças que desenham candidatura para 2022.




Colunas, Paulo Junior
Ex-presidente Lula durante discurso na última quarta-feira, 10.

Na última semana o país foi surpreendido com a decisão do Ministro Luís Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, que torna nula todas as condenações que àquela época recaiam sobre o ex-presidente Lula. Fachin alegou que os casos do político deveriam ter sido remetidos a justiça federal sediada em Brasília, ao invés de tramitarem na justiça paranaense. A decisão de Fachin mexe profundamente com o jogo político nacional, pois ao anular as condenações do ex-presidente, Lula passa a ser elegível. Ou seja, está apto a disputar as eleições presidenciais de 2022.

E por mais que ele ainda relute em dizer oficialmente que é candidato, o seu primeiro pronunciamento após a decisão não deixa dúvidas, Lula fala e articula como político que hoje já sonha em voltar a presidência da República. O discurso do político na última quarta-feira, 10, foi recheado de recados, desde Bolsonaro até o mercado. Lula falou para a militância petista, mas lançando olhares a um eleitorado mais amplo e que está situado no campo da centro-esquerda.

O discurso do político foi direto ao eleger Bolsonaro como maior opositor, usando da péssima gestão da pandemia para encaminhar críticas ao atual presidente. Lula definiu Bolsonaro como fanfarrão, foi direto ao dizer que ninguém deve seguir as recomendações arbitrarias do Ministério da Saúde. Aos poucos ele já está construindo as bases de sua próxima campanha. Chegou a dizer objetivamente: “não tenham medo do Lula”. Essa frase nitidamente sai como um recado direcionado ao mercado. Mercado que o PT precisará reconquistar e trazer ao seu barco.

Candidatura do PT

Internamente o partido já se articula para construir as diretrizes da candidatura Lula. Fernando Haddad que chegou a ser anunciado como candidato deverá sair de cena, ele próprio já indica que o candidato da legenda será o ex-presidente. Apesar de Lula, notoriamente, ter mais chances de vitória do que Fernando Haddad, é no mínimo complexo ver um partido com envergadura do PT tendo que recorrer eternamente ao mesmo nome, esboçando um complexo antigo da política nacional, a dificuldade abissal de produzir novas figuras de liderança.

Uma candidatura Lula, naturalmente, diminui a pulverização. Pois ele conseguirá estabelecer desde já uma polarização com o bolsonarismo. Entretanto, é necessário observar a extensão dessa polarização, notar se ela terá fôlego para atingir o período de campanha eleitoral de 2022. Nessa linha, indica-se que o PT pode enfrentar dificuldades para construir um bom arco de alianças, o centrão ainda está no mal fadado governo Bolsonaro. E até mesmo partidos que historicamente estiveram com o PT, como o PCdoB, estão um tanto quanto mais afastados.

Assim, a candidatura petista reduz a pulverização de nomes em um espectro macro. No entanto, no campo da esquerda ela deve ser mantida. Essa manutenção tende a favorecer Bolsonaro que, mesmo diante de um governo arruinado, tende a chegar ainda competitivo em 2022.

A candidatura do PT, caso a estrutura partidária não consiga aproximar Lula do centro, tende a se constituir de modo isolado, com possibilidades de chapa pura. Podendo, porém, experimentar uma provável reaproximação com o PCdoB, e assim reeditar a parceria de 2018.

O nome de Lula chega forte ao campo em disputa, em especial pelo largo capital político que ainda lhe pertence. Entretanto, este capital que já foi suficiente para eleger sua sucessora, hoje tem menos ressonância no corpo social. Logo, alguns discursos caminham para revisão, e alianças devem ser costuradas. Resta ver se o PT, e Lula, se renderão à parte do Centrão mais uma vez.

Pondera-se, ainda, que a encruzilhada Lula é bastante dura. Pois no quadro atual, a derrota não pode ser cogitada, Lula candidato tem necessariamente que vencer. Vencer para manter sua história política, para manter o discurso do partido e para construir novos trajetos partidários. Uma derrota Lula é, em linhas gerais, a derrota do PT, pois se isso ocorrer o partido terá duras dificuldades para se reerguer. Afinal, a principal liderança da sigla não foi capaz de empolgar a massa a ponto de lhe devolver parte da glória de outrora.

Candidatura Bolsonaro

Bolsonaro encontrou seu antagonista na disputa por 2022. O atual presidente da República sente-se ameaçado pelo ex-presidente. Logo, a partir de agora agirá objetivamente pela reeleição. Bolsonaro não tem medo de fazer o que for necessário para se manter no poder, e esse seu não amedrontamento é complexo.

A volta do petista ao xadrez coloca Bolsonaro em pleno xeque mate, pois a debacle de seu Governo não lhe permite fazer frente a retórica lulista. Bolsonaro se vê agora buscando meios que o garantam competitividade. Assim, ele caminhará em dupla via, acenando para a base que o mantém um mínimo de aprovação, e tentando achar respaldo em outros setores do campo social. Esse segundo caminho tende a ser difícil.

Aqui é importante que se diga, a redução de chances do bolsonarismo em 2022 tem sua origem na ingestão da pandemia. A incapacidade do Governo de lidar com as durezas do momento atual, adiantaram o seu processo de descrédito. Entretanto, mesmo defronte a incapacidade, Bolsonaro mantém o barco do Centrão ao seu lado. Esse barco no trajeto eleitoral significa dispor de uma frota de navios. Atualmente o trunfo de Bolsonaro é a aliança com o Centrão, que caso se mantenha lhe garantirá estrutura partidária e de campanha, permitindo que ele faça frente a outros nomes. Caso a aliança naufrague e ele não regresse ao PSL, sua campanha pode padecer na largada. Mas como a corrida é rápida, e ele dispõe da máquina, deve conseguir surpreender até os céticos.

Candidaturas de Centro   

O centro está vendo seus nomes se reduzirem. Doria (PSDB) já admite a possibilidade de disputar a reeleição ao governo paulista. Luciano Huck segue sem partido e provavelmente não será este o momento em que ele se lançará candidato. Nomes como o de Moro estão hoje fadados ao fracasso, pois seriam facilmente desconstruídos em período de campanha. Por sua vez, Mandetta (DEM) também não se mostra verdadeiramente competitivo, já chegou a oferecer o DEM para que Huck se candidatasse.

Ou seja, parte importante do centro está se desfazendo após o retorno de Lula. Os nomes citados estão mais ao campo da direita, espectro que necessitará se reorganizar e buscar um nome que consolide alguma união. Caso não consigam, terão em 2022 o destino de 2018, a irrelevância. Afinal, em 2018 o principal nome da direita não obteve sequer 5% dos votos válidos, Geraldo Alckmin (PSDB) patinou com pouco mais de 4%.

No meio de tudo isso existe a candidatura Ciro Gomes (PDT). O PDT em hipótese alguma abrirá mão de ter candidato, primordialmente pelos planos que hoje em dia o partido desenha, quer ganhar mais relevância no cenário nacional. Ciro terá que articular adensadamente para manter o PSB ao seu lado, do mesmo modo tenta seduzir o PSD de Gilberto Kassab, chegando, inclusive, a flertar com o DEM de Rodrigo Maia.

Ciro, pré-candidato declarado, deve rumar o máximo possível para o centro, tentando dialogar com parte da direta nacional. Político experiente, Ciro Gomes busca se visto como uma terceira via. Entretanto, o seu discurso incisivo tende a diminuir a preço de hoje as suas possibilidades. Em outro espectro, o mesmo discurso pode ser um trunfo a ser considerado. Gomes necessariamente precisa firmar alianças, evitando a chapa pura de 2018, ao mesmo passo caminhará para articular um discurso que o faça ser melhor quisto no marcado financeiro. Caso consiga, será um oponente considerável, certamente a terceira via mais influente ao debate Lula e Bolsonaro. Nesse trajeto, Ciro já conta com um nome importante ao lado, a ex-senadora Marina Silva (Rede), vem agindo para construir o pedetista como candidato razoável.