“Nordestinados” a ler

Pesquisa do Instituto Pró-Livro destaca a região Nordeste, liderada por João Pessoa, capital da Paraíba, com o maior número de leitores.




Coluna Literária, Colunas

Iniciei bem a semana. O Instituto Pró-Livro, por meio da 5ª pesquisa Retratos do
Brasil, confirmou-me algo que eu sempre suspeitei: O “Nordeste é a região brasileira
que mais lê”.
Minhas suspeitas são antigas. No século XIX e início do século XX, enquanto as
mulheres no mundo todo eram educadas para casar e cuidar do lar, algumas nordestinas
resolveram se rebelar por meio da palavra, é o caso de: Emília Freitas, autora de A
rainha do ignoto (1899); Francisca Clotilde, com o romance A divorciada (1904); Alba
Valdez, com a novela Dias de Luz (1907) e Ana Faço, com Páginas íntimas (1938).
Não bastasse, a cearense Rachel de Queiroz (1910- 2003), autora de O Quinze,
foi a primeira mulher, no ano de 1977, a ingressar em um ambiente intelectual
exclusivamente masculino do Sudeste, a Academia Brasileira de Letras. Além disso,
também foi a primeira brasileira (nordestina), em 1993, a ser agraciada com o Prêmio
Camões, instituído desde 1988, que premia escritores de Língua Portuguesa pelo
conjunto de sua obra. Claro que outros nordestinos foram contemplados: o
pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e o baiano Jorge Amado (1912-
2001).
A Academia Cearense de Letras é considerada a mais antiga do país: foi fundada
em 1894 antes mesmo da Academia Brasileira de Letras, em 1897. Em 1884, antes da
Lei Áurea, novamente o Nordeste (Ceará) foi pioneiro na libertação dos escravos.
Entre os anos de 1870 e 1900, o escritor Leonardo Mota (1891-1948) catalogou
37 instituições literárias também no Ceará, dentre elas destacamos a Padaria Espiritual,
criada em 1892 por um conjunto de jovens que compartilhavam o bom-humor, a
galhofa, a irreverência e a ousadia literária. Somente em 1922, o Sudeste promoveu a
Semana de Arte Moderna.

Nas últimas eleições, o Nordeste, “que é leitor”, não elegeu o atual Presidente da
República, que corta verbas da educação, propõe a taxação dos livros e desacredita da
Ciência.