No Roda Viva Camilo foi razoável

A entrevista não passou do razoável, para ser mínimo no processo de adjetivação. A difusão de pautas e ausência de adensamento em situações de relevância superior foram a regra.




Colunas, Paulo Junior

A noite da última segunda, 09, guarda entre suas marcas a entrevista do governador do Ceará, Camilo Santana – PT, ao programa Roda Viva, da TV Cultura. O Roda Viva vem aos poucos ganhando novos contornos, lentamente busca reencontrar a relevância e acidez de outrora. O entrevistado de ontem tinha bons adjetivos para auxiliar nesse processo, porém, isso não ocorreu.

A bancada de entrevistadores estava obviamente despreparada para a entrevista, em diversos momentos realizou mais comentários do que perguntas, fator que dificulta a condução de uma entrevista minimamente profunda. Algo necessário em todos os momentos possíveis, no entanto, na atual conjuntura, pode-se afirmar que além de necessário é fundamental. Especialmente quando se observa o fato de que diante dos membros da bancada estava um dos governadores da oposição, alguém que vem tendo embates frequentes com o executivo federal, que apostou no isolamento social, que tem um relacionamento político muito imbricado, dividido entre PT e Ciro Gomes. Ou seja, havia uma densidade imensa de questões a serem pautadas.

Entretanto, o que se viu foi uma conversa baseada em algumas acepções antiquadas a respeito do Ceará e dos momentos que o estado viveu. Havia um distanciamento explicito entre bancada e entrevistado, a linha de aproximação foi dizimada momento após momento. Em vários instantes ficava no ar um certo descrédito ao que era dito, como se a entrevista fosse tratada de modo menor. Algo complexo em demasia.

Camilo Santana estava altamente tenso, o que tornou o primeiro terço do programa mormaçante, por mais que trouxesse dados havia uma certa insegurança no modo como os expunha e como buscava elucubrar seus posicionamentos. Ao longo do programa ele foi sentindo-se mais à vontade, mas o nervosismo ainda transparecia, isso foi desconcertante.

A entrevista não passou do razoável, para ser mínimo no processo de adjetivação. A difusão de pautas e ausência de adensamento em situações extremamente relevantes foram a regra. Camilo Santana mostrou-se hábil em esquivar-se, quando alguma questão rara, o colocava defronte a aspectos mais tensos. Temas políticos, de segurança e estrutura e a própria pandemia tiveram pouco espaço e um olhar difuso de observação e questionamento.

Há necessidade de dizer que as respostas do governador estiveram, por vezes, baseadas em rasidão complexa, pautadas por posições protocolares. Porém, muito disso deve-se a uma bancada que parece ainda não ter compreendido plenamente que a politica está além do eixo Rio-São Paulo-Brasília. O Nordeste brasileiro tem integrado fortemente o noticiário nacional, demostrando sua força e capacidade de intervir nos caminhos nacionais. Nenhuma região tem feito tanta frente ao Governo Federal quanto a região em destaque, mas a bancada estava aérea. Infelizmente.

Em linhas gerais a entrevista de Camilo trouxe um pouco mais do mesmo, não houveram grandes revelações e a tensão ficou no ambiente. O Governador cearense deixou mais claro, pode-se dizer luminar, que está em coalizão com Ciro Gomes, distanciando-se do PT. Chegou a afirmar que Lula se equivoca ao não apoiar movimentos suprapartidários. Mas ainda deixou expresso o desejo de costurar uma aliança ampla com a presença dos dois polos citados, apesar de nitidamente ter uma tendência ao lado dos Ferreira Gomes. Quando questionado sobre as eleições municipais, saiu pela tangente, todavia o pleito municipal será importante para os caminhos político partidários de Santana.

Tudo isso esteve aliado a respostas genéricas sobre tensões com a polícia, apesar de incisivo quanto a vida partidária de membros das corporações, falou contra essa perspectiva. A entrevista foi superficial e Camilo não buscou fugir desse aspecto, nervoso, deixou passar uma oportunidade importante. No razoável, o que se salvou foi a presença de Érico Firmo, o jornalista de OPovo foi incisivo e trouxe questões necessárias, porém, mesmo nervoso o governador se esquivou e permaneceu na superfície, no razoável. Que na próxima entrevista do chefe estadual o objetivo seja o fundo, fugindo da margem. E que a TV Ceará (emissora cearense que montou a estrutura para participação do político) apresente uma estrutura de luz menos oscilante e uma cadeira que faça menos barulho.