No ninho tucano as regras são desunião, racha e incoerências

Os tucanos estão em situação singular, afeitos a brigas internas, ao que tudo indica os problemas estão em novo estágio. Sem unidade ou um rumo claramente definido, o partido expõe feridas e amplia as divisões da sigla.




Colunas, Paulo Junior

Que o PSDB de hoje pouco lembra a estrutura partidária de antigamente não é segredo para ninguém. Também não é segredo que o tucanato sempre foi repleto de rachaduras e rinhas internas. No entanto, atualmente as rachaduras estão mais profundas e as rinhas bem mais densas. E assim, o partido que já fora protagonista na vida brasileira, se restringe cada vez mais a uma lógica clientelista e vaga, sem unidade nem mesmo no nome que iria disputar a presidência pelo partido.

Em uma de suas maiores crises, o ninho tucano vive um racha quase sem precedentes. João Doria venceu as prévias e seria o nome do partido na disputa pelo Palácio do Planalto, todavia, Eduardo Leite – derrotado – nunca deixou de agir para ocupar esse posto. Leite, que era o governador do Rio Grande do Sul, contava, inclusive, com largo apoio de caciques antigos da legenda, como Tasso Jereissati, Teotonio Vilela e até Aécio Neves.

A situação segue se deteriorando, a ponto de recentemente o atual presidente do PSDB ter deixado a coordenação de campanha de Doria. O que poderia ser apenas uma mudança normal foi a confirmação de que Doria caminha para deixar a corrida presidencial. Ao saber que estava deposto do cargo, Bruno Araújo foi às redes sociais e comemorou, afirmando que nunca havia desejado estar naquela posição, chegando a soltar um vertiginoso: ‘ufa’.

O partido que dividiu o protagonismo no campo nacional com o PT desde 1994 está em linha reta para tornar-se, definitivamente, mais um partido do famigerado Centrão, assumindo sem medos ou receios o fisiologismo. O PSDB mantém, ainda, uma relativa proximidade com o governo Bolsonaro, tem um passado de apoios que é complexo explicar no contexto de 2022, portanto, é difícil fugir do clientelismo.

Nessa linha, é preciso observar que Aécio Neves, figura que segue agindo nos bastidores, atua para que essa nova posição do PSDB de fato torne-se visível, assim, ele age para minar Doria, desafeto antigo, alçar Leite a uma posição de maior protagonismo. E no meio de tudo isso, cativar uma dúbia relação com o bolsonarimo, estando em distância segura para não ser engolido na derrota, mas também para não ser esquecido em uma improvável vitória.

Eduardo Leite e João Doria. Foto: Gov. São Paulo

Em uma situação peculiar ao tucanato, nem mesmo em São Paulo a legenda tem se saído bem, Rodrigo Garcia não pontua de modo firme na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, e o próprio Doria está bem atrás do ex-presidente Lula e de Bolsonaro.

Em 2022, os tucanos se bicam, batem-se e abraçam um ideal ainda ilógico de terceira via. Recentemente informou-se que PSDB, União Brasil, MDB e Cidadania formariam uma frente com um único postulante à disputa presidencial, e na simulação que vigora hoje o nome do ninho tucano não é Doria, mas Eduardo Leite. O gaúcho tem, inclusive, trocado afagos com Simone Tebet, pré-candidata do MDB. Tebet enxerga Eduardo como vice ideal e agregador, e no PSDB de 2022, a ocupação da vice é uma possibilidade plausível e factível.

O problema é que sem coesão e com uma caminhada de terceira via que pode naufragar antes mesmo de atingir o mar aberto, o PSDB tende a sair das urnas em 2022 menor do que saiu em 2018. Assim, o partido pode experimentar uma redução de protagonismo que não está acostumado. Em 2018 o tucanato não obteve 5% dos votos válidos. Depois tentou engrenar em um complexo direitista e conservador que deturpa a própria origem da legenda.

Em 2022, o PSDB está ligado a aparelhos, a respiração está ofegante, pois o próximo passo não foi calculado. Sem saber objetivamente qual caminho seguir, com nomes em todos os lados e sem qualquer coisa que lembre a social democracia, a legenda segue às cegas, e pode cair em abismos duros logo mais à frente.

Hoje o tucanato tem nomes como importantes que chegam a flertar com Ciro Gomes, uma outra parcela no barco Bolsonaro, outros que pensam no navio Lula. Há quem já assumiu o fisiologismo. E há quem diga que está tudo bem, tudo certo, estes, provavelmente devem estar ouvindo Caetano Veloso, pois, ‘está tudo bem, tudo certo, como 2 e 2 são cinco’.

As feridas do tucanas seguem abertas, expostas e por enquanto não existe remédio capaz de curar.