
Que o PSDB de hoje pouco lembra a estrutura partidária de antigamente não é segredo para ninguém. Também não é segredo que o tucanato sempre foi repleto de rachaduras e rinhas internas. No entanto, atualmente as rachaduras estão mais profundas e as rinhas bem mais densas. E assim, o partido que já fora protagonista na vida brasileira, se restringe cada vez mais a uma lógica clientelista e vaga, sem unidade nem mesmo no nome que iria disputar a presidência pelo partido.
Em uma de suas maiores crises, o ninho tucano vive um racha quase sem precedentes. João Doria venceu as prévias e seria o nome do partido na disputa pelo Palácio do Planalto, todavia, Eduardo Leite – derrotado – nunca deixou de agir para ocupar esse posto. Leite, que era o governador do Rio Grande do Sul, contava, inclusive, com largo apoio de caciques antigos da legenda, como Tasso Jereissati, Teotonio Vilela e até Aécio Neves.
A situação segue se deteriorando, a ponto de recentemente o atual presidente do PSDB ter deixado a coordenação de campanha de Doria. O que poderia ser apenas uma mudança normal foi a confirmação de que Doria caminha para deixar a corrida presidencial. Ao saber que estava deposto do cargo, Bruno Araújo foi às redes sociais e comemorou, afirmando que nunca havia desejado estar naquela posição, chegando a soltar um vertiginoso: ‘ufa’.
O partido que dividiu o protagonismo no campo nacional com o PT desde 1994 está em linha reta para tornar-se, definitivamente, mais um partido do famigerado Centrão, assumindo sem medos ou receios o fisiologismo. O PSDB mantém, ainda, uma relativa proximidade com o governo Bolsonaro, tem um passado de apoios que é complexo explicar no contexto de 2022, portanto, é difícil fugir do clientelismo.
Nessa linha, é preciso observar que Aécio Neves, figura que segue agindo nos bastidores, atua para que essa nova posição do PSDB de fato torne-se visível, assim, ele age para minar Doria, desafeto antigo, alçar Leite a uma posição de maior protagonismo. E no meio de tudo isso, cativar uma dúbia relação com o bolsonarimo, estando em distância segura para não ser engolido na derrota, mas também para não ser esquecido em uma improvável vitória.

Em uma situação peculiar ao tucanato, nem mesmo em São Paulo a legenda tem se saído bem, Rodrigo Garcia não pontua de modo firme na corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, e o próprio Doria está bem atrás do ex-presidente Lula e de Bolsonaro.
Em 2022, os tucanos se bicam, batem-se e abraçam um ideal ainda ilógico de terceira via. Recentemente informou-se que PSDB, União Brasil, MDB e Cidadania formariam uma frente com um único postulante à disputa presidencial, e na simulação que vigora hoje o nome do ninho tucano não é Doria, mas Eduardo Leite. O gaúcho tem, inclusive, trocado afagos com Simone Tebet, pré-candidata do MDB. Tebet enxerga Eduardo como vice ideal e agregador, e no PSDB de 2022, a ocupação da vice é uma possibilidade plausível e factível.
O problema é que sem coesão e com uma caminhada de terceira via que pode naufragar antes mesmo de atingir o mar aberto, o PSDB tende a sair das urnas em 2022 menor do que saiu em 2018. Assim, o partido pode experimentar uma redução de protagonismo que não está acostumado. Em 2018 o tucanato não obteve 5% dos votos válidos. Depois tentou engrenar em um complexo direitista e conservador que deturpa a própria origem da legenda.
Em 2022, o PSDB está ligado a aparelhos, a respiração está ofegante, pois o próximo passo não foi calculado. Sem saber objetivamente qual caminho seguir, com nomes em todos os lados e sem qualquer coisa que lembre a social democracia, a legenda segue às cegas, e pode cair em abismos duros logo mais à frente.
Hoje o tucanato tem nomes como importantes que chegam a flertar com Ciro Gomes, uma outra parcela no barco Bolsonaro, outros que pensam no navio Lula. Há quem já assumiu o fisiologismo. E há quem diga que está tudo bem, tudo certo, estes, provavelmente devem estar ouvindo Caetano Veloso, pois, ‘está tudo bem, tudo certo, como 2 e 2 são cinco’.
As feridas do tucanas seguem abertas, expostas e por enquanto não existe remédio capaz de curar.