No JN, quem mais ganhou foi Lula (PT). Bolsonaro (PL) perdeu

As entrevistas comandadas por William Bonner e Renata Vasconcellos foram o auge da semana política. Ao fim desta partida, Bolsonaro mentiu flagrantemente, e sem domínio de sua narrativa, perdeu. Já Lula, lidou bem com o que seria caro a sua campanha.




Colunas, Paulo Junior

Os rumos do cenário político nacional estiveram pautados na última semana pelas sabatinas do Jornal Nacional, principal noticiário do país. Desde 2002 o JN recebe em sua bancada os principais postulantes ao Palácio do Planalto, e este ano não foi diferente. A diferença esteve na relevância dada às entrevistas. Os questionamentos da bancada pautaram outros veículos e era pauta primordial em todas as campanhas que foram representadas. Entre os quatro nomes entrevistados, é possível taxar objetivamente Bolsonaro (PL) como maior perdedor, e Lula (PT) como um dos mais beneficiados.

Primeiro entrevistado, Bolsonaro mostrou-se acuado durante os 40 minutos de embate, não sendo capaz consolidar respostas que estivessem além do que já fora por ele expressado. Ao ser confrontado sobre o tensionamento no campo democrático, tentou sair pela tangente, o que não ocorreu. Bolsonaro teve de lidar com o nefasto governo que comanda, com a sua ausência de controle e com os escândalos que o perseguem.

O candidato à reeleição mentiu despudoradamente, e sem o menor temor. Distribuiu fake news sobre os campos social, político e econômico. Bolsonaro chegou aos Estúdios Globo com a missão de falar para além da sua bolha de convertidos, contudo, saiu de lá cunhando frases que só servirão aos já convertidos. Não conseguiu, nem que por um segundo sequer, sair de seu cercadinho.

O ainda mandatário nacional se embolou ao falar sobre economia, e disse que em um segundo mandato manteria a atual política econômica, responsável pelo retorno da inflação e por uma das maiores taxas de juros da história do Brasil. Ao falar sobre os embalos com o Centrão, afirmou que não existe mais centrão. Chegou ao ponto de dizer que o questionamento feito por Willian Bonner o incentivava a ser ditador.

No fim das contas é possível dizer que Bolsonaro saiu do JN do mesmo modo que entrou, recluso em sua bolha. Demonstrou que tentará replicar os métodos de outrora, e que a adoção de falseamentos da realidade será mola primordial em sua campanha. Agarrado ao Centrão, tenta manter o ideário de outsider, mas esse perfil já não cola com tanta facilidade. Bolsonaro mostrou-se na sabatina, mais uma vez, incompetente ao cargo que ocupa. Sem domínio dos fatos, tenta ludibriar a população vulnerável com um discurso que rememora os tempos do pão e circo.

O ex-presidente Lula (PT) também enfrentou uma entrevista dura, porém, conseguiu que fosse dito em rede nacional que ele não deve nada à justiça. Lula preparou-se para a sabatina, e sem muitas dificuldades conseguiu se soltar dos temas mais complexos. Em diferentes oportunidades foi indagado sobre corrupção, tema caro à sua candidatura, e na maior parte delas ilustrou uma resposta minimamente razoável.

Quando confrontado com a Operação Lava-jato, construiu a narrativa do excesso, e buscou dar base a isso em face aos documentos protocolados por sua defesa. Disse, ainda, que as providencias reconhecidas recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF) estavam todas contidas nas ações que seus advogados haviam impetrado anos antes.

Lula surgiu em tela sereno, com ar quem desejava estar ali. Ao longo dos questionamentos reconheceu erros na gestão econômica da ex-presidenta Dilma, o que pode ser considerado um aceno ao mercado financeiro. Outro aceno importante veio do vice, Lula citou Alckmin em diferentes oportunidades, deixando claro que o ex-tucano terá voz ativa em uma possível terceira gestão. A presença de Alckmin na chapa, e as seguidas menções no maior telejornal do país, pode sem sombra de dúvidas ser interpretadas como uma nova versão da carta aos brasileiros.

Para Lula a entrevista foi demasiadamente positiva, sem nenhuma irritação e confortável ao longo dos 40 minutos de sabatina, ele saiu da bancada com a certeza que os recados necessários foram dados. Desde o aceno ao mercado, e até o aceno aos mais vulneráveis. Com discurso fácil, e uma memória afetiva de parte significativa da população, Lula fez um esforço para furar a bolha, e quase conseguiu. Ele não alterou votos de bolsonaristas basilares, mas provavelmente captou alguns indecisos e retirou alguns pontos das candidaturas de terceira via.

Nas entrevistas de Bolsonaro e Lula, porém, faltou um ponto crucial: propostas. Os dois líderes da corrida presidencial 2022 falaram pouco sobre seus planos de governo, nenhum deles buscou cavar espaços para encrustar na cabeça do eleitorado quais serão as suas ações à frente do executivo. Bolsonaro optou pela mentira. Lula, com maestria, relembrou o passado.

No campo propositivo, todavia, é preciso reconhecer a entrevista de Ciro Gomes (PDT). O nome do PDT também pode ser listado entre os que observaram um saldo positivo. Ciro precisa se expor, ser visto e ouvido, a fim de que seu plano possa cativar alguém. Ele usou cada minuto da entrevista para defender seu plano nacional de desenvolvimento. Apesar de algumas propostas resvalarem na concretude objetiva, é inquestionável o desejo dele em torna-las públicas. O pedetista sabia da relevância de estar ali, e em 40 minutos procurou em todas as brechas possíveis um espaço para apresentar propostas. O problema de Gomes está no excesso de academicismo que banha sua fala. Ele até tenta, mas tem dificuldade de ser entendido pela massa, e é a massa que define os rumos do país.

Simone Tebet (MDB) viu uma entrevista morna, provável que cansativa para grande parte do eleitorado. A candidata do MDB se esforçou para tornar sua candidatura palpável ao cidadão, mas o fato é que não conseguiu. Ao encerramento da sabatina pareceu que foram bem mais que 40 minutos. Mesmo com uma retórica invejável, Tebet escorregou nas contradições de seu partido, e mostrou relativismo quanto aos seus feitos enquanto gestora, ora conta glórias do tempo de vice-governadora de Mato Grosso do Sul, ora afirma que não tinha a “caneta na mão”.