No Cariri, Bolsonaro fez campanha e lançou Cap. Wagner (Pros) governador

Inicialmente com objetivo de entregar unidades habitacionais do programa Casa Verde Amarela, Bolsonaro veio ao Ceará fazer campanha. Ao lado de Capitão Wagner fez promessas e tentou ocultar os acenos ao vazio nas ruas de Juazeiro do Norte.




Colunas, Paulo Junior

Jair Bolsonaro (sem partido) esteve no Ceará na última sexta-feira, 13. Porém, o evento que deveria ser a entrega de conjuntos habitacionais do programa Casa Verde e Amarela, tornou-se rapidamente um grande comício. Bolsonaro veio ao Nordeste para fazer campanha, tenta melhorar sua imagem na região que mais o rejeita. Em campanha, ele faz comícios e já abriu o baú de promessas. Em ligeira passagem pelas terras do Padre Cícero, o presidente criticou governadores e apresentou-se como cabo eleitoral de Capitão Wagner (Pros), o hoje deputado federal é pré-candidato ao governo cearense.

A vinda de Bolsonaro gerou certa surpresa, não era inicialmente esperado que o presidente viesse pessoalmente participar do ato de entrega de moradias. Entretanto, como tratavam-se de quase 3 mil unidades, ele não se furtou a usar do espaço para subir ao palanque diante dos nordestinos. O presidente esteve somente em Juazeiro do Norte, evitou visitas à cidade de Crato, que contava com manifestações contrarias a ele preparadas.

A passagem foi rápida, durou apenas o período da manhã, no entanto, serviu para que o mandatário observasse que sua base local ainda é pouco relevante, isso em fatores numéricos. Caso não o sejam, não fizeram questão de sair às ruas para acenar e conhecer seu ídolo, assim, Bolsonaro acenou para ruas vazias. Vez ou outra ouviu gritos de mito, porém, mesmo a plenos pulmões não eram capazes de ensurdecer. Certamente o presidente esperava uma recepção mais calorosa, centenas nas ruas e afagos gritantes ao seu ego, isso não ocorreu.

Bolsonaro veio ao Nordeste alguns dias antes de Lula (PT) iniciar uma série de vistas pela região. O ex-presidente desembarcou no Recife-PE ontem, 15, e irá participar de eventos públicos e encaminhar articulações de cunho político. O atual ocupante do Planalto sabe, notoriamente, da inserção do petista na região, sabe que os gestores estaduais são avessos à sua imagem e foram amplamente contrários às medidas impostas pelo Governo Federal durante a pandemia. Bolsonaro sabe, claramente, que sua campanha não poderá ignorar os desdobramentos regionais, sabe que não sobreviverá à 2022 sem o Nordeste, única região em que ele foi integralmente derrotado em 2018.

Portanto, todos os absurdos proferidos na sexta-feira, 13, levam em consideração essa vertente. Mas, Bolsonaro é diametralmente limitado, sua inteligência não lhe permite ir além do seu próprio espectro. Assim, ele veio ao Nordeste na tentativa de fazer campanha para milhares, mas conseguiu atingir, somente, aqueles que já o seguem. Acrescenta-se que até estes estão tornando-se reduzidos. O discurso de combate ao comunismo e de negação da pandemia fala apenas ao núcleo duro do bolsonarismo. Ou seja, ele tentou falar para toda uma região, mas falou apenas o seu diminuto cercadinho.

As críticas às medidas sanitárias durante a pandemia de Covid-19 também devem ser observadas. O presidente atacou diretamente o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), chamando as ações de fechamento do comércio de criminosas. Camilo, afirmou em suas redes socias que “criminoso, senhor presidente, é ignorar a perda de mais de meio milhão de vidas na pandemia e ainda debochar da dor das famílias. Tivéssemos um Gov. Federal mais preocupado com a vida, milhares teriam sido salvas. Seus ataques jamais irão tirar de mim a força para continuar lutando”.

A fala direcionada ao chefe do executivo local tem desejos específicos, manter a narrativa pregada pelo Planalto Central, segundo a qual, o STF proibiu o governo Federal de agir no combate à pandemia, e, apenas, o morador do Alvorada estava preocupado com as consequências econômicas da crise sanitária. A outra justificativa é bem mais político partidária, Bolsonaro já tem candidato ao Governo cearense, quer Capitão Wagner no comando, fez questão de trazê-lo à Juazeiro do Norte e identifica-lo como nome ao executivo estadual.

Wagner não renega a possibilidade e já é pré-candidato, articula alianças e usa da boa relação com o senador Eduardo Girão (Podemos) para encaminhar a sustentação política de seu nome. Capitão Wagner deve deixar o Pros e rumar para o PSL, antigo partido de Bolsonaro. Apesar de ter saído da legenda, ela segue comportando muitos dos principais bolsonaristas nacionais, logo, é o núcleo mais identitário ao presidente. Capitão Wagner colou em Bolsonaro tentando deslanchar no Ceará. Porém, a aprovação ao atual governador e a rejeição ao presidente podem fazer com o cabo eleitoral seja um obstáculo e não um trampolim.

Em síntese, Bolsonaro fez campanha, mas com pouco sucesso. Seu discurso está cada vez mais difícil de ser comprado, a maldição comunismo é só um devaneio bolsonarista, a ignorância do mandatário transparece, a ingestão da pandemia é evidente. Neste quadro, nem mesmo a extensão do auxílio emergencial ou um incremento ao Bolsa Família serão capazes de fazê-lo acenar para a multidão. O mito é um conceito cunhado no vazio, no vácuo em que nada se cria. Bolsonaro é a personificação do vazio, do vácuo, do silêncio ultrajante de um ignóbil ser. Acenando para o nada, falando descrenças e prometendo como em ano eleitoral, Bolsonaro deixou o Cariri. Espera-se que em breve ele também deixe o Alvorada.