As eleições 2022 estão em uma rotação elevada demais. E a pior parte é que esse nível de tensionamento ainda deve escalar até 2 de outubro, dia em que ocorre o primeiro turno. O campo democrático está deslocado, e o confronto de ideias está seguidamente subvalorizado, a fim de que as discussões se deem no campo da agressividade e do ataque. Nestas eleições, entre muitas forças que ocupam o espaço social, uma delas tem se destacado: o ódio.
Seria possível fazer política com ódio? Este espaço acredita piamente que não. Política é a arte do diálogo, e tudo que estiver fora desse espectro não pode assim ser denominado. É lógico que ânimos podem se exaltar, contudo, há limites que estão costumeiramente sendo ultrapassados. Não é aceitável que as instituições sejam ferozmente descreditadas, que o presidente da República julgue por bem chamar ministros da Suprema Corte brasileira, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de canalhas e vagabundos.
É irracional que se vejam candidatos, que almejam o posto de representantes da população, atropelarem trabalhadores e fugirem como se nada tivesse acontecido, tal qual fez o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales (PL). É repugnante que alguém se sinta no direito de atirar livremente na sede de um partido, assim como fez o deputado estadual de São Paulo Roque Barbiere (Avante), que desferiu tiros na sede do PSDB paulista depois de uma discordância.
Os casos não param por aí. Se amontoam relatos de jornalistas, e demais profissionais de comunicação, atacados verbal e fisicamente. É surreal que um profissional seja impedido de fazer o seu trabalho, impedido de informar, reportar os fatos, dizer o que houve e como houve. É despudorado que um postulante a recondução à presidência perceba como cabível uma agressão vil à uma jornalista em meio a um debate, algo feito por Jair Bolsonaro em 28 de agosto.
O campo social está esticado. O discurso costurado há décadas e que trava uma trincheira entre dois grupos: o nós e eles; mostra-se agora em demasia descalibrado. No momento em que deveria haver união em prol do campo democrático, existe o alargamento das separações sociais, e a consolidação de um discurso que está além do nós e eles, pois concretiza o ódio como ferramenta de embate.
Entretanto, é essencial dizer que quando a retórica estava na trincheira nós e eles, as discussões se faziam no ambiente do diálogo. Neste momento, algumas das principais figuras políticas do país querem fazê-las no campo da destruição. O bolsonarismo tenta corroer o campo democrático, construir incertezas, alardear mentiras, usar o grito como solução às contestações que lhe cabem. O bolsonarismo quer comandar a narrativa do ódio, transformar tudo em perseguição e criar no seu seio um sentimento de revolta vazio em substância, porém, banhado de conceitos.
Assim, pautas de cunho conservador e o que seria uma economia neoliberal não são de fato importantes para este grupo, eles desejam unicamente incitar sua base com falácias que ainda ressoam em parte significativa do corpo social. O bolsonarismo faz uma retórica reversa, acusa seus opositores de fazerem da população massa de manobra, e dessa forma, querem fazer do seu cercado a sua massa de manobra.
Os próximos dias serão decisivos, e é preciso que as instituições não tenham medo de fazer o seu papel: agir em favor da democracia e contra o ódio enquanto ferramenta política. É fundamental que políticos endossem ações e discursos que almejam um ambiente benfazejo às ideias, pois um país que não debate ideias estará permanentemente sujeito aos oportunistas de plantão. Bolsonaro é um oportunista há mais de 30 anos, mas, nos últimos quatro encontrou um lugar de poder realçado, e para mitigar o ódio é necessário que se finde a (in)gestão Bolsonaro.