Não comparecer à debates é diminuir o apreço pela democracia

O presidente Bolsonaro(PL) considera não ir aos debates de primeiro turno. Os debates tem uma função democrática, apresentam o candidato em um ambiente menos controlado, permite o confronto. Quando não há debates a democracia fica menor.




Colunas, Paulo Junior

A manutenção da democracia passa por muitos vieses, balizas, questionamentos. Trata-se de um caminho percorrido longamente e que exige alguns compromissos primeiros, entre eles, a compreensão da necessidade do debate. Nos últimos dias a informação de que o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), pode não ir aos debates presidenciais tomou conta da mídia. A ausência de Bolsonaro só reforçaria o seu desapreço pelo campo democrático, e pela pluralidade de ideias. Bolsonaro quer um adebate, quer uma plateia sempre graciosa. Ele quer ouvir um sonoro: sim, senhor. Ao invés de explicar o inexplicável.

Uma campanha presidencial pede de seus competidores o entendimento de que devem ser honestos com seus pátrios. Ou seja, é fundamental que eles expressem sem meios termos aquilo que planejam executar, caso sejam eleitos. É essencial que cada postulante seja posto defronte de questionamentos não ensaiados, de perguntas indigestas. Fundamental que um concorrente possa impelir o outro, que o jornalismo faça o seu ofício e questione sem amarras. Uma campanha presidencial pede debate, e pede que aqueles que desejam o posto máximo da nação estejam dispostos a debater.

Bolsonaro nunca esteve à altura do cargo que hoje ocupa, beneficiou-se da rasa discussão social que ocorreu em 2018. Agora, tenta encontrar meios para justificar sua tentativa de encurralar o espaço democrático. Tenta buscar em seu cercadinho um porquê aceitável para não explicar nacionalmente os desmandos, e descalabros, realizados sob seu comando.

O ocupante do Planalto Central diz que não irá aos debates porque seria o alvo preferencial. Essa conduta demonstra o lastro medroso que atravessa o presidente. O medo de Bolsonaro está no simples fato de que um debate mediano já seria capaz de escancarar a sua incapacidade, incompetência e ingerência. Capaz de evidenciar, ainda mais, o sonho autoritário e a sua sanha golpista.

Bolsonaro não quer ir aos debates, pois não há possibilidade orquestrada por marqueteiro que lhe entregue um discurso plausível. A economia vai mal, o desemprego está em alta, a inflação voltou, milhões de pessoas em insegurança alimentar, o ideal neoliberal naufragou. O governo Bolsonaro é o desgoverno de si, é a desordem. As bandeiras mais caras caíram por terra em instantes, e os bastiões da moralidade se desmoralizaram na rapidez que foram alçados ao poder.

Depois da repercussão, o filiado do PL disse que iria aos debates, porém, apenas se o ex-presidente Lula (PT) também participasse. A construção de condicionantes de participação deste nível é desrespeitosa com o eleitor. Os debates são a oportunidade de o eleitor observar seus candidatos sem a maquiagem da propaganda eleitoral, sem o marqueteiro, sem os vários filtros que definem o que será e o que não será dito. Os debates são o espaço em que o eleitor observa a desenvoltura de seus candidatos, ali de fato se dá a definição do voto. Ausentar-se desse lugar é tirar do cidadão a oportunidade de saber, de fato, em quem estão votando.

Aqui pontua-se que a alta cúpula do PT também considera que o ex-presidente Lula não vá aos debates de primeiro turno. Algo também questionável. O PT avalia que sem Bolsonaro, Lula seria o alvo prioritário. Nessa linha, observa-se a necessidade de que haja um esforço social para que os postulantes debatam, todos.

Não há país democrático sem discussão e debate. Fiar-se no discurso do mínimo debate é perigoso, pois o debate nunca deve ser mínimo, ele deve ser máximo. O pleito de 2022 não pode replicar momentos inglórios anteriores, o campo social tem que estar inundado por discussões afeitas ao campo político e democrático. E os debates são uma necessidade.