Na esteira do punitivismo, Datena (PSC) tenta chegar ao Senado Federal

O apresentador da TV Bandeirantes afirmou na última sexta, 13, que contará com apoio de Bolsonaro (PL) na disputa pelo Senado. Datena chega à corrida com um passado construído na TV. Passado que diminui os problemas, aposta na rasidão e na punição desenfreada.




Colunas, Paulo Junior

José Luiz Datena (PSC) é uma celebridade, ocupa horas na TV diariamente e entrega um jornalismo no mínimo duvidoso. O apresentador ocupa as tardes da Rede Bandeirantes com um telejornal sangrento, e que fora fundamental para coadunar os rasos discursos de combate à violência que são observados em alguns núcleos bolsonaristas. Datena critica tudo, sobe o tom de voz e usa do seu espaço na TV para fazer política partidária. O jornalista já se alinhou ao governo, brigou com ele, e agora se aproxima novamente. Com um histórico partidário complexo, ele diz que irá disputar uma vaga no senado com apoio de Bolsonaro (PL).

Os movimentos de Datena na política chamam atenção por um motivo simples, o comunicador utiliza de um local que é de concessão pública para se promover. E ao mesmo tempo levantar bandeiras de um ideal abissal de combate à violência. Não se pode usar de inocência seletiva e não notar os jornais policiais como parte do problema que se instaurou na vida pública brasileira. Eles têm papel central. Jornalistas como Datena evocam diariamente um discurso de punitivismo, assim, exclui-se o debate sobre o porquê do problema, existindo para eles somente o combate. E um combate virulento e sem as claras percepções do enlace social que ali se estabelece.

A nossa figura de destaque cotidianamente pede imagens. Imagens de um Brasil que sangra por questões históricas não resolvidas e, que pede diuturnamente por uma classe política um tanto engajada às dificuldades que a população sofre. José Luiz Datena monta o arquétipo de quem cobra que os políticos exerçam seu papel constitucional, mas quando os entrevista é pouco incisivo e faz um papo de compadres. Datena faz de seu programa um palco, e ele comanda o seu show particular.

No show dantesco de Datena existe um passado de oito partidos: PT, PP, PRP, DEM, MDB, PSL, União Brasil e PSC. Em 2018 chegou a ser pré-candidato ao senado; em 2020 sonhou com a prefeitura de São Paulo. Agora, idealiza novamente uma vaga no Congresso. Datena tem um histórico partidário de pouca coesão, e busca paulatinamente um espaço que aplique suas ânsias pessoais. Sua figura rasifica o debate e esconde para debaixo do tapete os problemas que ele mesmo alega denunciar.

Em seu Brasil Urgente, programa que conduz, ele afirma estar do lado dos oprimidos. Todavia, aquele que se dizia defensor resolveu tirar a última máscara e se firmar no fronte de ataque. Datena vai à corrida pelo Senado Federal com apoio de Bolsonaro, o presidente que espolia o país, que minimiza as questões nacionais e que se agregou ao centrão como um velho amigo alia-se às amizades do passado.

Anúncio de que Bolsonaro irá apoiar Datena na disputa do Senado. Da esq. para direita: Bolsonaro, Paulo Skaf, Tarcísio de Freitas e Datena. Foto: Divulgação

Datena não é um caso à parte, isolado, ele é a projeção nacional de muitos. Os programas policiais que se espalham aos montes pelo país estão seguidamente produzindo outsiders, pessoas que se dizem fora da política e capazes de encampar pautas antiquadas e em dissonância com aquilo que é real. Datena ocupa hoje a primeira colocação na disputa pelo Senado em São Paulo – com 28% dos votos – parte disso se deve à sua ampla exposição e construção discursiva dos fatos que ele ajudou a moldar no inconsistente de parte da sociedade.

 Nessa narrativa, semelhante àquela que foi costurada por Bolsonaro em 2018, as mazelas do país encontram soluções fáceis, para eles os métodos são quase óbvios. E assim: excluindo a complexidade daquilo que mostram, elevando o tom de voz e dizendo apenas o que parte da população anseia por ouvir, o apresentador caminha para o campo da política institucional. E ele caminha de mãos dadas com quem ele ajudou a eleger: Jair Bolsonaro (PL).

Datena respira incoerências, e ao olhar de hoje elas estão cada vez mais aparentes. Saiu de partidos porque eles foram denunciados por corrupção, mas não se importa em ficar no PSC. Bradou contra Bolsonaro, e não se importa em estar em seu palanque. Disse que não entraria na política, mas vive se dizendo candidato. Agora ele diz que não irá desistir, porém, já desistiu outras vezes.

Perceber o quadro Datena pode parecer algo distante, mas não é, cada estado tem o seu Datena particular. E é sempre bom lembrar que o Congresso Nacional governa para todos, as decisões não são limitadas a um ou outro estado, elas são coletivas. Portanto, é essencial que tenhamos olhos vivos aos postulantes do território em que votamos, e olhar atento a quem os outros territórios pretendem levar aos assentos de Brasília. Afinal, os problemas do país são sempre partilhados.