Lula (PT) é, pela quinta vez, oficialmente candidato à presidência

O PT oficializou a indicação do ex-presidente para concorrer ao pleito de outubro. O petista chega ao tabuleiro já tendo movimentado as peças, e com uma aliança de sete partidos. Tendo Alckmin como vice, o discurso veio sem surpresas.




Colunas, Paulo Junior

Finalmente aconteceu um dos atos mais esperados do processo eleitoral de 2022: a oficialização da pré-candidatura do ex-presidente Lula (PT). O evento foi realizado no último sábado, 7, em um importante centro de convenções paulista. Ladeado dos partidos que vem endossando a sua candidatura, o petista trouxe um discurso sem muitas novidades- morno. Lula mostrou-se o mesmo de antes, e deixou claro que as glórias do passado serão parte importante do motor que comandará sua campanha.

O petista chega a maio com uma estrutura relativamente firme. Conseguiu trazer para próximo um conjunto de sete partidos, sendo a candidatura até o momento mais bem organizada em termos de aliança. Lula reviu os embates de outrora e, ao lado de Alckmin, parecem companheiros de sempre. O ex-tucano deixou o ninho para pousar no PSB e, nas falas que conduziu, até lembra em algum frame momentâneo, um real socialista.

O evento pomposo desse sábado contou com a presença de lideranças políticas de quase todo o país, incluindo o ex-governador cearense, Camilo Santana (PT). O espaço também foi usado para tentar impregnar na campanha um ideal jovial, recorrendo à presença de influenciadores digitais como os ex-bbbs Gleici Damasceno e Arthur Picoli.

Esse aspecto de rejuvenescimento do eleitorado lulista também ficou claro na peça publicitária divulgada durante o lançamento da candidatura. Em uma nova versão do jingle eleitoral de 1989, o ‘Lula lá’ é cantado por figuras do imaginário da esquerda nacional, como Chico César, Martinho da Vila, Zélia Ducan; mas também por figuras novas do Pop e da MBP, cita-se Pablo Vittar, Duda Beat e Gilsons.

Lula faz movimentos calculados, junto de PSOL, PV, REDE, Solidariedade, PCdoB e PSB, o petista galga um ideal narrativo de frente ampla, aspecto fundamental para o processo eleitoral vigente. A campanha cunhou o slogan: Vamos juntos pelo Brasil. E abusou do verde a amarelo, cores incorporadas pela raiz bolsonarista.

Observa-se, ainda, que no diário da perspectiva de frete ampla, todas as candidaturas sonhavam com essa pretensa construção. No entanto, até o momento a única que efetivamente conseguiu desenhar isso foi a estrutura petista. As demais campanhas, até o momento relevantes, se batem para sair do centro de isolamento. Bolsonaro agarrou-se a uma parte adensada do Centrão, e Ciro Gomes (PDT) tenta romper a bolha e trazer para próximo o PSD e o União Brasil, o que lhe daria folego para fazer frente aos outros dois postulantes citados.

O evento contou com somente dois discursos. Falaremos primeiro do presidenciável, Lula sempre teve entre suas características a oratória. Porém, desta vez ele evitou sair do roteiro, e em cerca de 50 minutos de fala se viu pouco improviso, o petista seguiu o roteiro e evitou produzir algo que trouxesse necessidade de explicações futuras. O discurso não trouxe novidades, o ex-presidente relembrou seu processo e as recentes vitórias junto ao Supremo Tribunal Federal e à Organização das Nações Unidas (ONU).

Também usou de seu tempo ao microfone para rememorar o passado de glórias e tecer críticas objetivas ao presidente Bolsonaro (PL), deixando expresso nas entrelinhas do discurso que ele seria uma ameaça à democracia. O petista disse que quer governar o país “para que o fascismo seja devolvido ao esgoto da história”.

Em seguida, Lula trouxe a campanha para o campo econômico, e deixou evidente que esse tom marcará sua quinta candidatura presidencial. Próximo dos movimentos sociais, frisou o papel deles, especialmente da comunidade indígena.

O ex-presidente não apresentou propostas objetivas que devem constar em seu programa de governo, afirmou que ao invés de promessa apresentará à população o que ele classificou como “imenso legado dos nossos governos”. Buscando dar fim a uma questão que vinha circundando o reduto do PT, o postulante ao Planalto confirmou que a ex-presidente Dilma (PT) não deve retornar como ministra, segundo o candidato: “Dilma é grande demais para ocupar um ministério”, em seguida disse que contará com ela como “uma companheira para todas as horas”.

Alckmin (PSB) discursa de modo online, o político se recupera da Covid-19. Foto: Nelson Almeida/AFP

O discurso do vice, Geraldo Alckmin (PSB), foi mais breve e durou aproximadamente 15 minutos. Sem fama de grande orador, Alckmin conseguiu enveredar por uma fala mais densa que a de seu companheiro de chapa. O ex-tucano não poupou críticas ao governo Bolsonaro, classificando-o como “o mais desastroso da história, perdulário e hipócrita”. Geraldo também afirmou fidelidade à Lula, dizendo que não haverá divergências capazes de fazê-lo regredir ao apoio expresso.

Alckmin assumiu o ideal de centro esquerda e pareceu confortável com a vestimenta. Disse que o ex-presidente seria a única via da esperança para o Brasil. Em seguida ironizou críticas do passado, e afirmou que o prato lula com chuchu vai se tornar “um hit da culinária nacional”.

O evento do fim de semana marca um fato singular, a partir de agora o tom de todas as campanhas irá subir. As pesquisas indicam o favoritismo do ex-presidente, que agora irá percorrer o país. Bolsonaro não ficará para trás, e usando das possibilidades da máquina entrará de vez em campanha.

O Lula de 2022 lembra bastante o de antigamente, algumas pequenas coisas mudaram, outras nem tanto. O prato de lula com chuchu era impensado nos idos de 2006, por exemplo, hoje é servido com pompa nos redutos petistas. Com a campanha na rua, o ex-presidente passa a viver o dia a dia de um candidato, e precisará apresentar um plano de governo, falar sobre assuntos complexos e deixar o raso de algumas respostas, pois o problema é mais abissal do que a retórica parece apresentar.