Lula e Alckmin intensificam aproximação

Algozes antigos, Lula e Alckmin estão remediando o passado e buscam firmar uma aliança para as eleições gerais que se avizinham. No meio deste processo, o ex-tucano precisa escolher um partido, e o xadrez político precisa encontrar denominadores importantes até a consolidação das candidaturas.




Colunas, Paulo Junior

Geraldo Alckmin e Luiz Inácio Lula da Silva podem ser tranquilamente colocados como alguns dos maiores antagonistas da vida pública nacional. Eles foram responsáveis por embates históricos, partilham posições diferentes sobre diversos temas, e estiveram por anos em partidos que rivalizam na seara política. PT e PSDB conduziram a polarização nacional até a eleição de 2014, que sagrou Dilma (PT) presidente e Alckmin governador de São Paulo. Agora, Alckmin deixou o PSDB, e no meio das tratativas para eleição deste ano, passou a ser cotado como vice de Lula. Ambos vem gostando da ideia, porém, são muitas pontas soltas a ajustar.

Ter Alckmin como vice faria com que a candidatura Lula chegasse com um tanto mais de receptividade no mercado que, apesar de já ser simpática a volta do petista, ainda conta com muitas restrições. Nessa linha, o PT age estrategicamente, tenta trazer um nome um pouco mais afinado às elites e com aderência às pautas liberais, ainda sonhadas por alguns importantes setores do campo econômico.

A presença do ex-tucano no barco petista serve como uma espécie de carta aos brasileiros, artifício utilizado pela campanha lulista em 2002. Naquela época, o texto indicava que o petista não faria um governo integralmente alinhado às pautas da esquerda clássica, e que buscaria integrar ao seu governo alguns dos ideais trazidos por espaços mais conservadores do mercado financeiro. Em 2002, Lula buscou um empresário conhecido para ser parte da sua carta, agora recorre a um político com o qual divergia em profundidade.

Naturalmente que divergências podem ser sanadas, e um caminho comum pode ser encontrado. Contudo, também não se pode esperar um Geraldo Alckmin com a mesma postura de José Alencar, vice de Lula em 2002 e 2006. José Alencar era menos ativo nas mesas de negociação e nas grandes decisões sobre os rumos do governo, algo que Alckmin, caso aceite a posição e seja eleito, certamente não será.

Nesse bojo decisório ainda há muito por caminhar, mesmo com um desejo de anúncio de candidatura para março. Alckmin ainda não tem partido, no PSB encontra dificuldades de acordo, pois Márcio França quer disputar o governo de São Paulo, e o PT quer lançar Fernando Haddad. No PSD, ainda existe uma certa resistência em receber o ex-tucano para tê-lo como vice do petista, especialmente porque o desejo de Kassab, presidente nacional do PSD, era ter Geraldo na busca pelo quarto mandato no executivo paulista.

Entretanto, no berço socialista o problema é maior, França não abre mão da disputa, e o partido exige que Haddad abandone a corrida para, caso Alckmin se filie a sigla, aceitar a posição de vice. O xadrez se complica, pois no início do último fim de semana, Lula e Alckmin se reuniram na casa do ex-ministro da Educação, Fernando Haddad, e sem Márcio França presente parecem ter ajustado ponteiros importantes do relógio. Ajustes que podem ter consolidado uma união que durante décadas seria no mínimo improvável.

Nesse ajuste pode vir uma surpresa interessante, já que os membros do jantar consideram a possibilidade de Geraldo Alckmin rumar para o Partido Verde, sigla que tem mantido denso diálogo com o PT, e com a qual a legenda ensaia a construção de uma federação partidária.

As cenas do filme 2022 seguem os passos da franquia que o trouxe até aqui, a imprevisibilidade. Porque, mesmo com algumas pontas amarradas, nada está inteiramente consolidado, e mudanças ainda são bastante prováveis. Ano passado esta coluna vislumbrava Alckmin na disputa pelo executivo paulista, hoje, esse caminho está cada dia mais distante, mas, ainda existe nos planos de alguns políticos experientes.

Quanto a Lula e Alckmin juntos, é preciso verificar se a harmonia que em tese se apresenta neste momento é capaz de perdurar pelo período de um mandato, caso eleitos. Também é bom olhar atentamente os passos que serão dados pelos participantes desse xadrez, Márcio França deve se manter candidato, o PSD tornou-se um desejo de Ciro Gomes (PDT), e o próprio PSB tem uma linha de diálogo aberta com o pedetista.

A filme está próximo de um clímax importante. Mas, não se engane, nem de longe será um dos últimos, na verdade, certamente o clímax que se aproxima está listado entre os primeiros.