Lula, Ciro e a busca pelo PSB

As duas campanhas já organizam suas alianças, e ambas sonham com um aliado em específico, o PSB. Porém, os caminhos até a consolidação do apoio para qualquer um dos lados parece ser longo, e envolverá uma série de acordos locais. Além do desejo de protagonismo no ninho socialista




Colunas, Paulo Junior

As articulações para 2022 estão em franco caminho, e isso não é escondido por nenhum dos jogadores mais preparados. Todos estão em campo na busca de alianças ou, ao menos, de promessas. Neste caso, PT e PDT, ou melhor, Lula e Ciro Gomes, estão disputando um jogador de peso para o barco vencedor, o PSB é cortejado pelos dois presidenciáveis. Ciro tem no PSB o sonho de um partido consolidado à esquerda, uma estrutura ideal para o posto de vice na chapa. Já Lula da Silva, observa o PSB pelo viés estratégico, a estrutura partidária é importante, porém, tirar o PSB de Ciro Gomes seria algo efetivo no naufrágio da candidatura pedetista, além de render alguns importantes palanques estaduais.

Os dois políticos têm mirado fortemente o partido que fora de Eduardo Campos, ambos agem publicamente na ânsia de que os desejos de aliança sejam concretizados. O PDT prospecta o partido por uma perspectiva de viabilização da candidatura de Gomes, se o pedetista ficar restrito à sua estrutura partidária tenderá, novamente, ao fracasso. Ou seja, há um entendimento de que Ciro só se faz viável com alianças minimamente razoáveis, o PSB seria uma delas.

No campo petista a compreensão passa próximo desse espectro, existe o entendimento de que não é ideal ao PT ficar circunscrito a si mesmo, sem ao menos um pequeno arco de apoios. Portanto, o PSB surge como uma alavanca salvadora, pois garantiria ao partido a afirmação de seu candidato. Além de evidenciar a relevância do PT ao contexto político nacional. Acrescenta-se, ainda, que o movimento do petista visa repetir os fatos de 2018, quando o PT costurou um acordo de neutralidade com o PSB. No acordo, o PT não lançaria candidato ao governo de Pernambuco, por sua vez, o PSB não entraria na disputa pelo governo mineiro e ficaria neutro na eleição presidencial. Àquela época, haviam densos encaminhamentos para que o PSB estivesse no campo de apoios de Ciro Gomes.

Em 2018 o PT aceitou tranquilamente rifar Marília Arraes, um dos principais nomes para o governo de Pernambuco. Será que aceitarão a rifa mais uma vez? E será que Marília aceitará ser rifada? PT e PSB travaram uma disputa bastante acirrada pela prefeitura de Recife, João campos (PSB) foi eleito em segundo turno. Porém, não sem antes protagonizar brigas e acusações notórias com Marília (PT). Ao final da eleição, o PT afirmou rompimento com o PSB em contexto local, contudo, parece que a revisão ao rompimento já aconteceu.

Nessa linha, fundamenta-se que a vice de João Campos é um quadro do PDT. Acrescenta-se, também, que Ciro Gomes esteve pessoalmente na campanha da capital pernambucana. A dobradinha PSB e PDT se repetiu em diversos outros pontos do país. Naquele momento pedetista e psdbistas pareciam bastante afinados, mas depois das eleições municipais a relação esfriou.

Contudo, partiu de João Campos (PSB) uma declaração importante. Em entrevista recente à CNN Brasil, ele disse que defende um projeto em que o partido possa ser protagonista, fugindo da polarização que está posta. Polarização, esta, que se estabelece entre Lula e Bolsonaro. Pontua-se, ainda, que Carlos Lupi, presidente do PDT, esteve reunido a poucos dias com Carlos Siqueira, atual dirigente do PSB. Na pauta, sem dúvida, os planos até 2022.

Nesse trajeto o PT não fica atrás, vem estreitando cada vez mais os laços com a direção psdbista, a fim de pavimentar os caminhos até o ano que vem. Nas próximas semanas o ex-presidente Lula deve realizar uma série de viagens ao Nordeste, o objetivo é visitar figuras importantes da política regional. Uma das primeiras visitas será aos caciques do PSB, em Pernambuco.

A terra natal de Nelson Rodrigues será determinante na decisão do PSB. As articulações para sucessão de Paulo Câmara no governo do Pernambuco terão destaque nos caminhos do partido. Geraldo Júlio (PSB) deve ser o nome escolhido para o executivo estadual, e nessa linha, concorrer com Marília Arraes (PT) exigiria bem mais empenho para a vitória. Entretanto, o que poderia ser obvio, não é. Não será apenas o Pernambuco o fiel da balança, as filiações de Flávio Dino, governador do Maranhão, e Marcelo Freixo, deputado federal carioca, indicam que o PSB tem planos bem mais audaciosos, e o protagonismo dito por João Campos é regra, e não exceção.

Até o primeiro semestre de 2022 o PSB ficará na defensiva, ouvirá propostas e deixará o anúncio de apoio para o derradeiro instante. Será, importantemente, um valor a ser buscado. Ciro e Lula deverão empenhar esforços adensados na busca desses importes segundos de televisão. Além dos palanques estaduais, indispensáveis a uma campanha com ânsia de vitória. Para Lula o PSB é um desejo, mas para Ciro é uma necessidade. Lula sobrevive eleitoralmente ancorado apenas em seu partido. Ciro Gomes não.

Para ir além dos 12,4% de 2018, Ciro precisa de estrutura, plano e método. Atualmente ele dialoga com uma gama larga de siglas, da esquerda à centro direita. Porém, certamente uma das mais estratégicas é o PSB, que daria um respaldo regional importante para o seu campo de consolidação. O PSB no barco Ciro também enfraqueceria Lula, que se veria derrotado em uma articulação que ele capitaneia de frente.

Para Lula o PSB é um desejo, já com vias a governabilidade. Lula não quer ter que lidar com uma oposição grande e estruturada ao mesmo campo que o seu. Ele já almeja o desenho dos acordos, e o esvaziamento de um possível palanque cirista. Todavia, a chuva ainda não está em seu momento mais forte, logo, muita água ainda deve vir antes do lago transbordar.