Juazeiro do Norte: O debate foi ameno, mas conseguiu ser interessante

A Rádio CBN Cariri realizou ontem, 31 de outubro, o primeiro debate entre os candidatos a prefeito de Juazeiro do Norte. Alguns embates marcaram o encontro




Colunas, Paulo Junior

Aconteceu na noite de ontem, 31 de outubro, o primeiro debate entre os candidatos a prefeito de Juazeiro do Norte, o encontro foi promovido pela Rádio CBN Cariri. Compareceram ao debate todos os concorrentes da disputa juazeirense, Demontieux Fernandes (Psol), Nelinho Freitas (PSDB), Ana Pula Cruz (PSB), Glêdson Bezerra (Podemos) e o atual prefeito Arnon Bezerra (PTB).

O encontro começou quase que pontualmente às 18h e se estendeu por cerca de 2 horas, tempo suficiente para que todos os postulantes a prefeitura local fossem inquiridos por todos os demais. O que se viu ontem na Câmara Municipal, local que abrigou o evento, foi uma profusão de embates, ora um pouco mais acalorados, ora mornos. No entanto, a maior parte dos confrontos esteve marcado pela amenidade, em poucos momentos o tom foi elevado.

Como era esperado, os maiores ataques estiveram voltados ao atual prefeito, Arnon Bezerra (PTB), o gestor foi bastante confrontado, além de atos de sua gestão terem pautado perguntas a outros candidatos. Arnon, buscou defender-se e apontar racionalidade em suas posições, porém, em alguns momentos se viu perdido e sem muitas alternativas de caminho. O concurso público foi lembrado, o político buscou embasar posicionamento para o não chamamento dos aprovados, mas é realmente difícil desassociar a atual situação de uma imagem um tanto quanto eleitoreira.

O representante da situação ainda constituiu um dos melhores momentos da discussão, quando confrontado por Glêdson Bezerra (Podemos) sobre os contratos com a empresa que recolhe o lixo e sobre a compra de materiais escolares. Neste momento ele subiu o tom e garantiu que tudo estava sob lógica da lei e das necessidades do município. Glêdson não se deu por satisfeito e persistiu levantando questionamentos sobre os atos.

O membro do Podemos também teve a vidraça exposta, segundo colocado nas pesquisas, estando em empate técnico com o primeiro colocado, Glêdson foi alvo de duras questões. O próprio Arnon lhe direcionou ataques, chegando a afirmar que o político tinha construindo uma nova sede para legislativo local por pura vaidade. O político se defendeu e saiu pela tangente quando foi possível, no entanto, foi um dos mais incisivos e conseguiu se sair bem de duras questões. Um dos destaques do debate ficou a cargo da explanação pública dele de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no segundo turno de 2018, esse fato pode complicar seu futuro.

Compreende-se que a eleição é local e naturalmente ela tem suas especificidades. Todavia, é importante lembrar que o bolsonarismo tem menor ressonância no interior do nordeste, e a gestão do executivo federal não se encontra bem avaliada em Juazeiro do Norte. Tal fato pode, em alguma medida, comprometer seu arco de crescimento. E aí, provavelmente o maior beneficiado seria ou Arnon, que conta com apoio de Camilo Santana (PT), ou Ana Paula Cruz (PSB) que desferiu ácidos comentários sobre o executivo federal.

Ana Paula Cruz (PSB), única mulher da disputa, certamente sentiu um certo ar de machismo no ar, como sempre ele foi tácito, mas esteve presente. Em alguns momentos se viu para com a candidata uma ferocidade não oferecida aos demais. Entretanto, é preciso que se diga que ela se saiu como pôde, existem algumas dificuldades características de seu discurso, ela muitas vezes é pouco clara e objetiva. Mesmo assim, conseguiu desenhar algumas propostas e ainda foi direta ao ataque de Arnon Bezerra (PTB) e Glêdson Bezerra (Podemos). No fim das contas a candidata pode ter conseguido vislumbrar uma melhor sobrevida a sua campanha. Mas ela ainda tem muitos problemas, e parte significativa deles não será sanada até 15 de novembro.

Demontiuex Fernandes (Psol) seguiu uma linha condizente com seu partido, conseguiu trazer as bandeiras da legenda para um contexto local, e jogou bem no imbricamento dessas acepções com um quadro mais geral. Em certo nível constrangeu os principais candidatos. No entanto, ele também foi vítima de um dos momentos mais constrangedores da discussão, quando o candidato Glêdson (Podemos) citou seu filho, afirmando receber mensagens dele lhe dizendo de uma admiração. Esta coluna pontua que política não é vale tudo, pontua que os políticos devem debater sem trazer ao público questões do privado. Alguns constrangimentos são do jogo político democrático, outros não.

Nelinho Freitas (PSDB) poderia ter aproveitado melhor o momento, lembra-se da grande exposição e da possibilidade de uso de partes do debate em programas políticos. Não obstante, o que viu foi um político amarrado e com dificuldades de sair do roteiro. Foi um dos menos diretos e por vezes se viu atrapalhado, não usando a máxima potência do tempo que tinha a disposição. O político é jovem no contexto de vida pública, ainda precisa familiarizar-se com alguns espectros e fugir do nervosismo, precisa contornar respostas de oponentes que saem pela tangente.

O tucano perdeu uma ótima oportunidade de contrapor Glêdson e Arnon, pois quando o fez não conseguiu, segundo perspectiva dessa coluna, colocar em xeque aquilo que por eles foi dito.

Em linhas gerais o debate foi interessante, novamente valeu como show, e novamente teve menos do conteúdo que deferia. A Câmara de Vereadores acolheu candidatos na defensiva e outros prontos a atacar, aparentemente a defesa se saiu melhor que o ataque. Mas ainda restam quinze dias de campanha, e alguns dos fatos postos ontem podem insurgir como mola de transformação. Arnon (PTB) se enrolou com dados e tem um acampamento de aprovados em concurso para vencer, Glêdson (Podemos) tem uma perigosa associação ao bolsonarismo, Ana Paula (PSB) necessita crescer e mostrar que ainda tem corpo para a campanha, o mesmo ocorre com Nelinho. Demontiuex Fernandes (Psol) está deslocado dos quatro primeiros e tem poucas chances de conduzir alguma reviravolta.

O debate foi até que propositivo, mas propostas devem vir acompanhadas de constatação de viabilidade econômica, e esse aspecto é artigo em falta. A impressão que fica é que elas serão esquecidas pouco depois da posse, ou serão justificadas pela falta de recurso. E aí, o eleitor fica, como alguns dos membros do debate, perdido. Fica, ainda, uma estranha sensação de “desconfiei desde o princípio”.

Veja a íntegra do debate aqui.