Izolda Cela ou Roberto Cláudio? PT e PDT se estranham e demoram no consenso

Desde 2006 o mesmo grupo político administra o Ceará. Em 2022 as definições do nome do governo estão lentas, e encontram rusgas e embates internos. PT e PDT se estranham na busca de seu representante. Sem um nome estabelecido, a oposição caminha pelo Estado.




Colunas, Paulo Junior

As eleições 2022 estão cada dia mais próximas, e as definições de candidatura seguidamente mais esperadas. Parte significativa dos jogadores que agirão na disputa pelo executivo estadual já está em ação. Contudo, um dos players mais relevantes segue travado no ponto inicial, pois o Governo ainda não definiu quem será o nome para sucessão de Camilo Santana (PT). PT e PDT travam uma guerra silenciosa, Izolda Cela (PDT) e Roberto Cláudio (PDT) disputam a posição. Em meio aos desentendimentos da aliança, a oposição cresce e busca angariar palanques municipais.

A aliança entre o PT e os irmãos Ferreira Gomes (Cid e Ciro) foi responsável por consolidar quatro vitórias seguidas na corrida pelo Palácio da Abolição. Desde 2006, quando Cid Gomes foi eleito governador do estado – àquela época pelo PSB – que o mesmo conjunto político administra o Ceará. Esse contexto vem observando relativo sucesso, já que das quatro eleições disputadas até aqui, três delas foram vencidas em primeiro turno, casos verificados em 2006, 2010 e 2018.

Neste ano, os grupos estão em embate. O núcleo petista, incluindo o ex-governador Camilo Santana, trabalham pelo nome de Izolda Cela. Por sua vez, os irmãos Gomes são fiadores da candidatura de Roberto Cláudio. Roberto é ex-prefeito de Fortaleza, e conta com uma alta rejeição no seio petista, que consideram um nome alinhado demais com o clã dos irmãos. Contra o pedetista também pesa os confrontos observados em 2012 e 2016, quando o Paço fortalezense estava em disputa. A então candidata do PT nas eleições, Luizianne Lins, costurou momentos duros contra o político.

Em meio a essa indecisão, a malha que mantém os dois núcleos políticos unidos está um tanto frágil, o que gera instabilidades e lentidão. Nessa lentidão, o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, declarou apoio a Izolda. Contudo, como o consenso está em demora, ela já reconsidera a possibilidade de voltar ao jogo e buscar o posto de candidato.

O que vale observar é que enquanto o nome do governo é gestado em banho maria, o principal oponente, Capitão Wagner (União Brasil), circula vastamente pelo estado, a fim de consolidar alianças e conformar palanques municipais. Wagner vem liderando as intenções de voto no momento, e é inegável que vem chamando atenção de políticos do interior. Atualmente deputado federal, o parlamentar tenta descolar sua imagem de Bolsonaro, seu principal padrinho político.

Wagner trabalha para concretar palanques antes que o grupo do governo entre efetivamente no jogo. Pois sabe que apesar da demora, quando a definição vier também virá uma tropa pronta para pavimentar o caminho que vem sendo a base da aliança estadual. As convenções partidárias devem ocorrer nos próximos dois meses, portanto, espera-se que não demore muito mais para que PT e PDT encontrem o denominador comum. Esse denominador, no momento, tende a ser Izolda, mesmo a contragosto dos irmãos Ferreira Gomes.

Entretanto, esse contragosto deve ser rapidamente superado, já que é improvável que a hoje governadora faça de seu palanque um lugar do petismo clássico e lulista. Izolda deve ter Ciro ao seu lado, e entoar a negação ao bolsonarismo. Ou seja, no fim das contas o palanque nacional será duplo, pedindo diretamente voto para Ciro Gomes, mas também recomendando o voto em Lula (PT).

Roberto Cláudio se esforça, mas tem contra si a baixa adesão política. Muito conhecido na capital, mas desconhecido no interior. Ele tentou incursões pelo estado, porém, sem muito sucesso. Na política também é preciso carisma e, nitidamente, no apadrinhado dos irmãos Gomes essa qualidade faltou.

No fim, o tecido da aliança dos dois maiores grupos políticos do estado está ficando gasto, e dá sinais de que pode em breve se encerrar. Ao que tudo indica não será em 2022. A corda está esticada, tensa, mas caminha para o um leve distensionar. Os canteiros nacionais ressoam nos rumos estaduais. Ressoam nas candidaturas postas na mesa. Caso nenhuma delas seja o consenso final, não há problema, rifa-se os nomes e pega-se um terceiro que não era por ora cogitado.

O tempo é implacável. E essa prática não seria inédita. No entanto, no banho maria governista, esta coluna acredita que Izolda não será derretida.