HILDA HILST – OUSADA EM PROSA E EM VERSO

“Fico besta quando me entendem”. Assim é Hilda Hilst (1930-2004), uma das escritoras contemporâneas mais conscientes do seu papel e, que por isso, conseguiu unir a técnica da poesia à expressão do sentimento.




Coluna Literária, Colunas

No dia 21 de abril de 1930, nascia em Jaú, SP, Hilda de Almeida Prado, ou simplesmente Hilda Hilst, poeta, cronista, dramaturga, uma mulher inquieta, ousada e perspicaz, que teve pouco reconhecimento em vida como escritora, mas com muitas necessidades prementes: ser (mais) lida pelo público era uma delas.

Premiada em versos, Cantares de perda e predileção, (1980, Prêmio Jabuti), em prosa, Ficções, (1977, Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte) e no teatro, O verdugo, (1969, Prêmio Anchieta), Hilda foi rotulada de mulher “eremita, arredia, indomesticável” e de ser uma escritora erudita e hermética. Dominava como poucos seus apetrechos de trabalho e era consciente de suas escolhas semânticas, fonéticas e sintáticas, por isso recusava-se a produzir uma “literatura dengosa” ou “água com açúcar” para ser lida como fizeram alguns escritores do século XIX, a exemplo de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882). 

Criadora de uma obra diversificada e extensa, adepta do fluxo de consciência, cultivou temas como a insanidade, o misticismo, a libertação sexual feminina, o erotismo; Hilda foi leitora de James Joyce (1882-1941), Samuel Beckett (1906-1989) e Nikos Kazantzakis (1883-1957), de quem sofreu profunda influência. Depois de ler Carta a El Greco (1961), decidiu abandonar a vida agitada da capital paulista e passou a residir na Casa do Sol, espaço de inspiração, criação artística e acolhimento dos amigos. 

Por que ler Hilda Hilst? Sua produção literária abrange mais de quarenta títulos (poesia, ficção, teatro), sua linguagem é inovadora, ácida e questionadora; além disso, ousou desafiar o mercado editorial e não se calar quanto aos rótulos recebidos. Quando a chamavam de obscena, era categórica em dizer: Obscena para mim “é a miséria, a fome, a crueldade, a nossa época é obscena”.  Duvida?