Fora do governo, Camilo (PT) deve comandar a sucessão no Ceará

O político deixou o executivo cearense nesse sábado,2, para disputar uma vaga no Senado. Porém, mesmo fora do governo, será figura firme nos bastidores que devem indicar o nome para sua sucessão.




Colunas, Paulo Junior

O governador Camilo Santana (PT) deixou o comando do governo do Ceará no último sábado, 2, abrindo espaço para que Izolda Cela (PDT), sua vice, assumisse o executivo estadual. Contudo, é preciso frisar que Camilo deixou o governo depois de uma série longa de inaugurações. Nos primeiros meses de 2022, o político rodou o estado em uma sequência de entregas relevantes, de escolas à arena Romeirão, em Juazeiro do Norte. O objetivo sempre foi muito claro, deixar seu nome gravado na memória dos cearenses, pois ele não planeja deixar a política, e em breve estará novamente nas urnas.

Camilo renunciou ao comando do executivo no estado por questões eleitorais, será o nome de seu grupo político na disputa pelo Senado Federal, e na atual conjuntura é inegável que se lança como franco favorito. Santana deixa o governo com uma aprovação invejável. De acordo com o Instituto Opnus, 78% dos cearenses considera a gestão do petista positiva, ante apenas 18% que desaprova.

Em sete anos e três meses de mandato, Santana agiu de modo rápido e firmou seu nome entre os que comandam a política estadual. Com fama de conciliador, ele deixou a sombra dos Ferreira Gomes e assumiu o posto de dono do seu destino. Em 2014, quando eleito, Santana não tinha vida própria, era uma criação de Cid Gomes (PDT). No entanto, hoje, não lhe cabe mais o ideal de poste, pois ele será fundamental no processo de sucessão.

Camilo deixa o governo, mas não o dia a dia das articulações. Portanto, este é o momento em que a fama de estadista que lhe foi conferida vai lhe ser mais útil, pois, nos bastidores do poder estará costurando os meios para assegurar que um nome de sua confiança esteja na disputa de outubro. Hoje, o petista está dividido entre Izolda, que assumiu o governo, e o presidente da Assembleia, o deputado estadual Evandro Leitão (PDT).

Afastado das funções de governador, ele poderá tomar uma posição definitiva, e certamente sua posição terá interferência direta na escolha do cabeça de chapa estadual. Foi-se o tempo em que os Ferreira Gomes definiam tudo sozinhos. O nome criado por eles tornou-se, momentaneamente, tão importante quanto.

Nesse caminho, é preciso indicar que Camilo não deve enfrentar dificuldades para eleger-se senador, com aprovação recorde e relação próxima com quase todos os prefeitos do estado, ele tem seus palanques mais que assegurados. Assim, ate mesmo quem será oposição ao nome no cenário da disputa pelo governo, terá Camilo como candidato apoiado ao senado. Contexto que o situa em um local muito tranquilo, algo que lhe permite construir suas alianças com mais firmeza, e segundo suas percepções, já que neste momento ele detém um capital eleitoral próprio, e uma voz ouvida por lideranças políticas relevantes no cenário local e nacional.

O governo de Camilo mergulhou em crises consideráveis, da segurança pública à pandemia de Covid-19. Entretanto, em um largo trabalho de articulação e interlocução, nenhuma delas foi capaz de abalar a relação do político com a Assembleia Legislativa. E, assim, ele manteve uma das bancadas mais coesas dos últimos tempos, conseguindo aliados de momento até mesmo em nomes da oposição.

Santana sai do Palácio da Abolição como alguém muito singular para o Partido dos Trabalhadores, que precisará agir de modo firme para mantê-lo em seus quadros. Camilo tem relação de extrema proximidade com o grupo político de Cid e Ciro Gomes, e no posto de senador os assédios para que ele vá de vez para o ninho dos Ferreira Gomes será ainda maior. Por enquanto, a permanecia de Camilo do PT é estratégica, influindo na manutenção da aliança com o PDT. Mas, depois de outubro os cenários podem trazer reviravoltas, por ora, ainda não programadas.

Camilo rodou o estado, entregou dezenas de obras e assinou outra dezena de ordens de serviço, saiu do Palácio da Abolição como um líder relevante e com potencial para intervir nos rumos do Ceará. Como articulista que é, espera-se que agora ele seja rápido e em pouco tempo atue para definir o nome do grupo na sucessão, buscando novos aliados e tentando minar a candidatura de Capitão Wagner (União Brasil).

No campo do senado, a corrida para Camilo é curta, e neste momento é possível dizer que ele venceu antes mesmo da largada oficial ser dada. Sem grandes concorrentes e com uma imagem midiática, o que pode tirar a vitória de Santana não ocorreria nas urnas, mas nos bastidores e em contextos no mínimo contestáveis. Ou seja, Camilo só não será senador se não lhe deixarem ser candidato.