Primeiro disco do barbalhense João Botelho, “Intervalo”, será lançado amanhã, sexta-feira (21), nas plataformas digitais. Em primeira mão, tive acesso ao trabalho. Com influências de trip-hop, MPB e rap, a estreia de João não só não deixa nada a desejar como já o lança ao cenário musical como artista promissor e que merece atenção.
É justo dizer que João une bem as referências. Em “Vai Chover”, por exemplo, é impossível não lembrar, logo no primeiro verso, de Johnny Hooker. Isso não é problema nem demérito, muito pelo contrário. “Intervalo” encontra seu próprio ritmo, seu próprio timbre e João imprime sua identidade em todo o trabalho – um trabalho autoral excepcional e excelente, diga-se de passagem. Há aqui um bocado de sons, mas nunca sem a personalidade do artista. A textura dos instrumentos casa perfeitamente com o timbre da voz de Botelho e a sua forma de cantar, entre versos mais cantados e mais falados, dá ao disco um gostoso equilíbrio entre certa melancolia e certa paz, mesmo nas canções mais ácidas.
Um dos pontos altos do primeiro trabalho do músico são as composições. As letras bem encaixadas nos compassos estão tão bem ajustadas no ritmo e cabem tão bem no verso que se completam com perfeição de forma bastante sofisticada. Não há aqui malabarismo algum para que as palavras caibam. Pelo contrário, elas ecoam entre as canções e são cuidadosamente colocadas, de forma a sempre preencher, nunca a sobrar. Há muitos momentos sem voz em “Intervalo” também.
A forma orgânica como os instrumentos se encaixam também chama atenção. A guitarra, bateria, sopro, percussão e baixo ajudam a revestir as canções com um toque extremamente sexy e vão te levar longe: “Intervalo” é sobretudo uma deliciosa “viagem” que deve ser apreciada com calma e muita atenção aos detalhes. A parceria com Carla Ribeiro em “Vem” merece destaque.
Lançado através do selo Caninha Records, o primeiro álbum de João Botelho se torna ainda mais surpreendente quando revelado seu processo de produção. Composto, produzido e mixado no estúdio caseiro do artista, o trabalho não soa, de forma alguma, como amador. Pelo contrário, é dos trabalhos caririenses recentes mais bem realizados porque inclusive entende o que é, abraça o que é e não pretende ser mais. Até o “ruído” de gravação caseira que surge em “Sextou”, por exemplo, parece proposital, se junta aos outros instrumentos de forma a causar exatamente a sensação que causa. Se torna parte importante da canção, não um elemento que depõe contra, mas um que ajuda a construir a ideia que “Intervalo” quer construir. Isto é utilizar-se das ferramentas que se tem ao seu favor. João Botelho o faz com maestria. Ao final, queremos apenas ouví-lo de novo, um caririense para se ficar de olho.
O disco estará disponível no Spotify do artista amanhã (21). Para chegar ao perfil dele no streaming, CLIQUE AQUI. Para mais informações e acompanhar o músico, siga seu perfil no Instagram CLICANDO AQUI.