Florbela Espanca: uma poetisa transgressora

Florbela Espanca, poetisa portuguesa, nasceu em 8 de dezembro de 1894.
Viveu apenas 36 anos, mas a intensidade e a pulsão de sua caminhada podem/devem ser
lidas em sua obra.




Coluna Literária, Colunas

Hoje, dia 08 de dezembro, nascia no ano de 1894, Florbela Espanca. Quem é
ela? Uma mulher à frente de seu tempo, uma autora polifacetada: tradutora, enveredou
pelo conto, escreveu diários e epístolas, mais antes de tudo foi uma poetisa. Escreveu
obras singulares como: Livro de Mágoas (1919), Livro de Sóror Saudade (1923),
Charneca em Flor (1931) etc.
O fato de ser escritora no início do século XX, em uma sociedade patriarcal
como Portugal, já era em si um ato de transgressão, pois à mulher era negado o capital
simbólico para que ela pudesse frequentar os espaços públicos. Sem formação e sem
informação, o lugar da mulher era um só: dentro de casa cuidando dos filhos e do
marido.
O casamento nunca foi um problema para Florbela: casou-se três vezes o que
para o período em que viveu (1894-1930) foi um verdadeiro escândalo. Foi uma das
primeiras mulheres portuguesas a se formar (em Letras) e não achando suficiente
matriculou-se na Universidade de Direito em Coimbra em um universo de 300 homens.
Por volta de 1917, começou a trabalhar como jornalista em Modas e Bordados
(Suplemento O Século de Lisboa), em Notícias de Évora e em A voz Pública.
Suficiente para Florbela era viver sua vida e criar uma obra conforme seus
preceitos e suas crenças. Suas poesias são densas, melancólicas, solitárias de forte teor
confessional, sensual e erótica. A presença do erotismo em sua Poética é interpretada
como um ato transgressor, sinal de insubmissão não só aos padrões falocêntricos, como
de repressão ao corpo e ao intelecto. Transgredir tais amarras é a essência do erotismo.
A leitura de Florbela mostra ao leitor um rompimento com as questões estética-
literárias do século XX português, assim como as convenções morais, pois um eu-lírico
feminino fala abertamente de seus desejos, usufruindo sem culpa o prazer do corpo, do
coração e do sagrado.