Existe uma pedagogia da classe trabalhadora

A escola pública deve preparar dirigentes, ao invés de dirigidos, deve cultivar a capacidade crítica- reflexiva, em contraposição ao adestramento e ao discurso meramente de apropriação técnica.  




Coluna do Alexandre Lucas, Colunas

A estratificação do conhecimento e a heterogenia pedagógica no capitalismo é uma das características que permeiam as escolas. Uma ambiência conflituosa e antagônica de concepções pedagógicas e uma educação hegemonicamente voltada para manutenção ideológica do mercado favorece a escravidão espiritual das massas.    

A existência de escolas públicas e privadas sinalizam o caráter mercadológico e de classe da educação. O desalinhamento pedagógico institucional reflete diretamente nas escolas e por conseguinte no tipo educação e de sociedade que se pretende manter e construir. 

A guerra de concepções pedagógicas faz parte do cotidiano das escolas, umas alinhadas à perspectiva da classe dominante, outras declaradamente comprometidas com a classe trabalhadora e no entremeio tentativas de concepções supostamente imparciais ou de conciliação, notadamente existe uma secundarização do aporte teórico-pedagógico.

Neste sentido, a escola voltada para atender aos interesses da classe trabalhadora necessariamente passa pela   defesa de um projeto nacional e unificado de educação, alinhado a uma concepção pedagógica emancipacionista e de ruptura com o pensamento de manutenção das relações de capital e trabalho que estruturam ideologicamente e socialmente o caráter de exploração e opressão da classe trabalhadora.

Entretanto, não nos enganemos em achar que a educação transforma um país, sem haver mudanças nas estruturas de poder político e econômico das classes sociais.  O que nos remete ao entendimento de que a luta pela transformação da concepção pedagógica (alinhada à classe trabalhadora) compõe a mesma luta pela transformação da sociedade, na sua inversão de poder, ou seja, uma escola para classe trabalhadora, numa república dirigida pela classe trabalhadora.   

Porém, temos um longo percurso para construir a escola e a república da classe trabalhadora. Enquanto, ainda estamos distantes desta realidade, precisamos tratar dos problemas concretos e criar as condições objetivas para ocupar outra realidade.  

A concepção filosófica, pedagógica e política da educação é parte da concepção e do processo organizacional das estruturas educacionais. É preciso definir a política para nortear a técnica e não o inverso, como a classe dominante tenta imprimir como uma verdade.          

Se a escola compõe uma estrutura ideológica, ações isoladas, não alteram o conjunto do cenário educacional, apesar de ter relevâncias microscópicas, não revertem a hegemonia cultural dominante.       

Faz-se necessário a defesa de uma escola pública que radicalize a sua acessibilidade e as condições de permanência dos educandos na escola, mas isso não basta, é preciso favorecer o desenvolvimento multilateral e a formação integral, o que inclui desde o desenvolvimento físico, a apropriação do conhecimento produzido historicamente pela humanidade, a uma íntima ligação entre o trabalho produtivo,  prática social e o ensino.  Se para a classe dominante a escola pública serve para preparar operadores para operar suas máquinas de acumulação e concentração do capital, para a classe trabalhadora a lógica deve ser diferente, mas que aprender a operar é preciso se apropriar criticamente de todo o processo da operação. A escola deve proporcionar para além do aprender a apertar parafusos, é essencial que se saiba sobre os elementos físicos e matemáticos dos parafusos, o seu processo de produção e o processo de organização da indústria de parafusos.

A escola pública deve preparar dirigentes, ao invés de dirigidos, deve cultivar a capacidade crítica- reflexiva, em contraposição ao adestramento e ao discurso meramente de apropriação técnica.  

A escola pública pode incluir no seu arcabouço pedagógico o trabalho produtivo como parte de uma compreensão cooperativa de sociedade, que se distingue da corrida individualista e competitiva em que a escola envereda, a partir do modelo operante do sistema capitalista.    

Enquanto o mercado dirige a educação no país, a escola não servirá aos interesses da classe trabalhadora, mas não podemos esperar que a sociedade se transforme para que a escola se transforme. É no curso dos acontecimentos que a escola pública deve ser defendida como instrumento para se contrapor a manutenção da ordem capitalista, o que significa em primeira instância para classe trabalhadora, a apropriação crítica do conhecimento produzido historicamente pela humanidade, o que requer uma concepção pedagógica que sirva aos interesses da classe do proletariado. Se existe uma pedagogia  dominante, não nos cabe aceitar a condição de dominados.