Em debate com Duvivier, Ciro (PDT) dá uma aula de anticampanha

Ciro Gomes(PDT) e Gregório Duvivier se encontraram virtualmente para um debate na última sexta, 20. O espaço mostrou que Ciro aparentemente se perdeu de seu próprio projeto, e caminha o isolamento. Durante a discussão Ciro foi seu pior opositor.




Colunas, Paulo Junior

A candidatura Ciro Gomes (PDT) tenta dar seus passos para resistir em meio ao quadro que se mostra prático: o embate entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL). Afinal, são essas duas campanhas que vem verdadeiramente mobilizando a opinião pública. Ciro tenta mostrar que está vivo, no jogo, e disposto a debater ponto a ponto daquilo que ele acredita. E nessa linha, entrou em uma frontal discussão com o humorista Gregório Duvivier. O debate entre os dois ocorreu na última sexta-feira, 20, e foi uma aula do desnecessário.

Gomes sentiu-se ofendido com o episódio do programa de Gregório que foi ar na sexta-feira, 13. No GregNews desse dia, o apresentador defendeu que os eleitores de Ciro adotassem uma postura de voto útil, apoiando a candidatura do ex-presidente Lula já no primeiro turno. Diante disso, parte dos apoiadores do pedetista sentiram-se provocados, bem como o próprio Ciro Gomes, que convidou Duviver para um debate.

Em pouco mais de uma hora e meia de discussão o que se viu foi o caos, uma construção magistral do que não se fazer em uma campanha. Ciro Gomes perdeu radicalmente a oportunidade de ficar quieto, e seguir adiante com a candidatura. Em um erro de origem, no debate da sexta passada, o candidato do PDT era mediador e debatedor. Ciro planejava, nitidamente, usar Duviver como uma escada para discorrer sobre seu plano nacional de desenvolvimento, mas o humorista rapidamente rejeitou esse papel. Gregório estava lá havido a defender seu programa, sua equipe e o conteúdo que fora veiculado.

Assim, o debate inexistiu. Inexistiu, poque o que se viu foi uma sequência de troca de farpas, interrupções, acusações, elevações do tom de voz. Ciro Gomes mostrou-se em seu espiral de pior qualidade, cometeu uma série de equívocos, e foi constrangido ao alegar que Duviver estaria sendo orientado sobre o que dizer, ao que o humorista revidou pegando sua câmera e mostrando estar sozinho em casa.

Gomes imaginou que poderia capturar uma audiência que acompanha o protagonista do GregNews para o seu cercado de eleitores. Falhou. O pedetista reclama que, em muitas oportunidades, a pauta de suas entrevistas gira em torno do seu destempero. Porém, por vezes ele fica evidente e causa certa preocupação. Não adianta a um político com 40 anos de vida pública dizer que portando representatividade não é dado a arroubos. É preciso elencar isso como marca de vida. Nesse aspecto Ciro vem deixando a desejar.

Na discussão que marcou o ‘debate’, o que se notou foi que Ciro Gomes conseguiu a façanha de fazer companha contra si. Quando ele propõe um debate e seguidamente se recusa a ouvir, evidencia-se um defeito que ele julga não ter: o da arrogância. Gomes se recusou em diversos momentos a escutar de modo pacifico as ponderações de seu debatedor, atribuindo a ele adjetivos para justificar as posições que o humorista tentava elaborar. Gomes disse Gregório estaria ‘tomado de mágoas’.

Depois do que se viu na sexta-feira, é difícil que Ciro Gomes consiga vencer o isolamento no qual já está envolvido. Ciro é vítima de si mesmo, e parece que assim seguirá. No contexto atual, deve caminhar sem um arco de alianças sólido, envolvendo-se com lideranças de cunho mais local ou regional, o que o torna fragmentado.

O pedetista observará uma campanha dura na tentativa de romper a polarização posta, mais difícil ainda quando ele é a apologia à negação de seu projeto. Postulante ao executivo pela quarta vez, Ciro Gomes é o único candidato até aqui com um projeto definido. Mas, ele produz tantas cortinas de fumaça, que seu projeto se perde nas pragmaticidades do autor.

O debate de Ciro e Gregório foi o espaço do desnecessário. Em mais de uma hora e meia Gomes conseguiu atrair uma atenção bolsonarista que é no mínimo questionável, diante de seu próprio discurso. Gomes afirma desejar retirar Bolsonaro da presidência, contudo, suas elaborações retóricas, por vezes, elegem o alvo errado.

O pedetista tenta furar sua bolha, sair do patamar de intenção de votos que se encontra. Tenta achar a bussola que o levará ao segundo turno. Todavia, o debate mostrou que ele pode já ter perdido a bússola, o bonde e o tempo adequado para compreender como se deveria fazer campanha.

As críticas de Ciro ao PT, e Lula, em parte são necessárias, é preciso observar o passado com criticidade. Pois voto sem reflexão prática traz prejuízos constantes. Porém, a critica deve sempre encontrar um limite, o limite de um verdadeiro projeto de país. Um projeto de liberdade e crescimento. No debate, pareceu que Gomes perdeu-se. Perdeu-se de si e de seu real projeto.

E mais uma vez ficou evidente os ensinamentos de Maria Rita Kehl, teórica de primeira linha. Segundo ela, o ressentimento não combina com a política. No debate, Ciro pareceu, no mínimo, ressentido.