É possível que alguém tenha lido o título desta coluna e encontrado um exagero. Mas, não há exagero. Em 2022 as eleições gerais tem um papel primordial: garantir a manutenção da democracia. É preciso retirar a venda que ainda ocupa os olhos de parte da população nacional, é preciso correr como se chegar ontem não bastasse. É preciso agir ativamente para que a escória da humanidade seja devolvida ao seu posto de direito: o esgoto, o esquecimento, a mediocridade.
Há em Bolsonaro(PL) os traços mais grotescos de um ditador, e quanto a isso não existe novidade. Ele é a síntese de uma masculinidade destrutiva, detratora e árida. Bolsonaro abriu alas para que ratos que viviam às escuras se sentissem no direito de ocupar a luz. O debate público está estrangulado, pois existe tudo, menos debate.
Bolsonaro e seus aliados gritam, esbravejam, contam uma narrativa fantasiosa. O gabinete do ódio bolsonarista mata reputações. As declarações do presidente incitam a morte. Em um curto espaço do tempo, o neoconservadorismo hipócrita bradado pelo presidente, e seus cumplices, fez mais vítimas.
Uma criança e uma jovem estupradas foram amplamente expostas, suas vidas foram devassadas. O Estado que deveria lhes garantir o mínimo omite-se, some e age como se a dor delas não fosse também dele. Na politicagem atual, o que vale é a regulação do corpo feminino, o que vale é colocar negro contra parede. Na politicagem atual o que vale é estratificar a população e dizer quem acessa a universidade e quem não deve acessar.
Na politicagem bolsonarista o que vale é esquecer o que ele próprio prometeu. O que vale é um governo desgovernado. Vale o abraço com o Centrão, vale orçamento secreto, vale os combustíveis nas alturas, vale corrupção sistémica, vale interferência na Polícia Federal. Na politicagem atual vale tudo, só não vale a vida. E parece que algumas vidas valem menos ainda.
Em outubro votar-se-á pela democracia, pelo direito de divergir, por uma imprensa com mais liberdade. Em outubro, o voto e por um país com menos fome, com mais apego a ciência. O voto de outubro é um voto a favor da existência de muitos que hoje morrem.
Ainda faltam alguns meses até a definição final. Tempo para que os diálogos se façam e o exercício democrático se realize. Há tempo para que 28% do eleitorado brasileiro reveja suas posições, saia do extremo e ocupe o espaço do contraditório. Bolsonaro rejeita a dúvida e a incerteza, rejeita a humanidade. Ele age em um lugar de permanente certeza, estando, porém, seguidamente incerto sobre tudo.
Bolsonaro não é um líder – nunca será- é apenas um cavalo de troia que se apegou ao poder. Este cavalo ensaia seu discurso, fala de fraude e diz que as eleições são desonestas. Independentemente do resultado ele dirá que existe erro, que não perdeu ou que ganhou por uma margem maior. Bolsonaro incita o golpe, incita a não alternância de poder, incita o descalabro. Em tempos de pandemia ele pode ser chamado de comensal da morte.
Os caminhos estão fadados, infelizmente vive-se uma polarização complicada. Mas, no Brasil, desde 1989 a regra é a polarização, e não houve terceira via capaz de burlar. O único momento em que a terceira via foi ao segundo turno foi em 1989, quando Lula (PT) tirou Brizola (PDT) da disputa. Agora, a terceira via se perde em si mesma, nos milhares de candidatos e no isolacionismo que vive.
Política é diálogo, Bolsonaro não sabe o que é isso. Já a terceira via está ficando sem ter com quem dialogar. E na busca da manutenção do campo democrático, qualquer diálogo é melhor quando testemunhado por um céu de estrelas.