E para onde vai Geraldo Alckmin?

Tucano histórico, Geraldo Alckmin está de saída do ninho e tem alguns caminhos para escolher. Na mesa de decisões as opções estão postas, filiar-se ao PSB ou ao PSD, disputar o governo paulista ou ser vice de Lula. Alckmin é lento em suas decisões, mas está prestes a dizer que caminho tomará.




Colunas, Paulo Junior

A vitória de João Doria nas prévias do PSDB, colocando o governador paulista como pré-candidato da sigla para presidência, foi certamente a gota derradeira para encaminhar a saída do ninho tucano de um de seus quadros mais históricos. Geraldo Alckmin deve anunciar seu novo partido até o fim de dezembro, e tem à sua frente uma decisão importante para tomar, disputar um quinto mandato no governo de São Paulo, ou unir-se ao PT e assumir o posto de vice em um chapa liderada pelo ex-presidente Lula. Alckmin tem um tempo próprio, devagar em suas tomadas de posição, vem experimentando pressões para dizer que caminho seguirá.

Geraldo Alckmin foi o responsável por levar Doria para a vida eleitoral, apadrinhando-o na disputa para prefeitura de São Paulo, e depois na corrida pelo governo estadual. Contudo, alguns poucos anos após tudo isso, não é segredo que este é um de seus maiores arrependimentos. Doria fritou Alckmin em praça pública, e os dois chegaram a trocar farpas em reuniões do PSDB. Agora, o ungido do tucanato para 2022 tentou acenar novamente para o seu ex-amigo, porém, obteve um silêncio mais que avassalador como resposta.

Em contrapartida, Geraldo não silenciou aos demais convites que chegaram ao seu colo, aliado antigo de Márcio França, nome importante do PSB paulista, foi chamado para filiar-se ao partido. Gilberto Kassab, presidente do PSD, também teve pressa e convidou Alckmin para sua legenda, lhe entregando a candidatura ao governo paulista. E houve também a abertura menos esperada, a ventilação de Geraldo Alckmin como vice de Lula.

E assim, em 2021 a política brasileira vê um de seus quadros mais antigos fazendo movimentos importantes no tabuleiro. Caso ele rume para o PSB, partido que tem aproximação de outrora com o PT, a chapa Lula-Alckmin torna-se mais palpável. O partido já apresentou pesquisas que indicam que caso o ainda tucano torne-se vice do petista, as chances de vitória no primeiro turno aumentariam. Os psdebistas também já articulam condições para a concretização desta aliança, entre elas está o apoio direto do PT em cinco estados da federação, incluindo São Paulo.  

A lógica do PSB é colocar Geraldo como vice de Lula, e lançar Márcio França ao governo Paulista. Márcio contaria com o apoio do PT; por sua vez, a sigla de Lula daria fim a candidatura de Fernando Haddad, que já vem percorrendo o estado em pré-campanha. No contexto atual, as disputas para o Palácio do Bandeirantes estariam divididas, primordialmente, entre Alckmin e Haddad. Entretanto, se ambos deixassem o páreo, França pegaria a dianteira.

Já no PSD de Kassab as conversas são um pouco diferentes. O presidente da legenda quer Geraldo Alckmin na disputa por um quinto mandato no executivo paulista. A argumentação interna é que o político teria grandes chances de vitória, e o PSD passaria a comandar os dois maiores colégios eleitorais do país, já que o partido vem avaliando como bastante possível a vitória de Alexandre Kalil, em Minas Gerais. Porém, o PSD também conversa com o PT, nessa linha, o acordo mais provável seria ter Rodrigo Pacheco, atual presidente do Senado, no posto de vice de Lula. Dentro deste diálogo, o PT também não lançaria nomes em Minas Gerais.

E Geraldo Alckmin? Bom, depois de passar algum tempo afastado dos holofotes, o ex-governador voltou à cena com status de estrela, disputado por partidos e com chances de uma vice-presidência. Geraldo e Lula são opositores antigos, já tendo protagonizado momentos marcantes, tal qual os debates de 2006. Contudo, trocam afagos públicos e se aproximam consideravelmente, abrindo espaço para aquilo que um dia sequer foi pensado passe a sê-lo.

Alckmin tem uma velocidade particular, avalia todos os cenários possíveis, ouve aliados próximos, e somente depois disso caminho pela trilha selecionada. Ele disse que se sente feliz com a lembrança de seu nome para uma possível chapa com Lula, porém, também tem um desejo particular de derrotar Doria em São Paulo. Acrescenta-se, ainda, o fato de que a fatura do PSB para entregar Alckmin como vice é certamente elevada. O PT aceitaria? É possível que sim, Lula torce por um sim do ainda tucano, em seguida apararia as arestas com o psdbistas.

Mas existe um problema, Alckmin não está no PSB. E ao que tudo indica não irá para lá. Gilberto Kassab afirmou que aguarda para os próximos dias a filiação de Geraldo, o que de fato seria seu caminho mais provável. No PSD, a corrida pelo Palácio dos Bandeirantes seria quase certa, inclusive com França no posto e vice.

Geraldo Alckmin está aproveitando o que está acontecendo, gostando de ser cortejado, e ao mesmo tempo expor o PSDB a um desgaste público. Com uma robustez razoável, ele sai na frente na busca de tornar-se o político que mais tempo governou São Paulo. Caso surpreenda e ancore-se no PSB, pode chegar ao executivo federal, e ocupar o Palácio do Jaburu, sede da vice-presidência.

Apesar da notória dificuldade, esta coluna arriscará o futuro de Geraldo Alckmin. A preço de hoje, ele rumará para o PSD e será candidato ao governo de São Paulo. Porém, os afagos com Lula devem manter-se vivos, e costuras partidárias ainda podem colocar os dois como aliados de primeira hora.