Crise no Inep: demissão em massa de funcionários e o Enem 2021

Faltando poucas semanas para o Enem 2021, o órgão responsável pela realização se vê envolto em acusações de perseguição ideológica e restrição de temas.




Colunas, Paulo Junior

Infelizmente existe na história recente do país alguns problemas ligados à realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Contudo, não haviam aspectos de constrangimento e perseguição ideológica, algo que vem sendo recorrente no exame desde que o atual governo federal assumiu. Este ano, a prova ainda nem foi aplicada, mas o executivo federal já está tentando apagar o fogo de uma crise, 37 servidores do Inep, instituto responsável por elaborar as questões do Enem, pediram exoneração. E a justificativa para tal ação, segundo eles, é a fragilidade técnica e administrativa da atual gestão do órgão.

Os servidores que pediram exoneração de seus cargos são servidores de carreira do Ministério da Educação, e devem retornar às suas funções originais. O ponto maior dessa saída em massa: é a clara exposição de uma crise abissal no instituto responsável por aplicar uma prova que funciona como porta de acesso ao ensino superior, atendendo para maior parte dos estudantes brasileiros.

Os funcionários que saíram também alegaram que havia um elevado nível de pressão psicológica, e uma vigilância velado, para com os servidores diretamente envolvidos na elaboração das questões do Enem 2021. De acordo com eles, a ânsia era evitar que fossem construídas questões sobre temas que pudessem desagradar o governo Bolsonaro, como teria ocorrido em anos anteriores.

O indicativo expresso de que algumas questões foram excluídas do exame deste ano também foi feito. Segundo informações do portal G1, as justificativas de exclusão de questões apresentada ao grupo de elaboração eram rasas, sem base sólida em nenhum contexto prático educacional. Em síntese, é possível observar que se instituiu no interior do órgão uma série de camadas de vigilância ideológica, apontando temáticas e tensionamentos plausíveis, e outros expurgados.

Lembra-se que esta não é a primeira vez que o governo se envolve em crises por causa da realização do Exame Nacional do Ensino Médio. Em anos anteriores houve problemas logísticos, reclamações públicas da abordagem de determinados temas, e a tentativa de construir uma banca formal de revisão e enquadre ideológico das questões.

Este contexto é dramático, o presidente do Inep, Danilo Dupas, também é acusado de assédio moral e intimidação de servidores, coisas que ele naturalmente negou. O Inep está na estrutura organizacional do Ministério da Educação, comandado por Milton Ribeiro. Logo, não ficaria imune aos desmandos bolsonaristas e à visão equivocado de qualquer aspecto educacional básico.

O contexto de fragilidade técnica e administrativa, a demissão em massa, acusações de assédio e o silêncio assustador do ministro da Educação, demonstram que não há nenhum constrangimento com o quadro atual. A gestão do MEC trata o desvario em que se envolve com a tranquilidade de quem sente tudo sob controle, de quem acha a situação comum e normal.

No Mec e no Inep está instaurado a anormalidade, o grotesco. O Enem é a porta de entrada para a universidade pública, para o sonho de um país mais livre e consciente criticamente. Certamente esta gama de criticidade que o saber traz é causa da vigilância ideológica apontada, há um projeto de desmonte das estruturas pensantes da sociedade, e os campos educacionais são indispensáveis a este plano. Sucateiam o ensino superior, restringem a pesquisa, e desqualificam o principal instrumento de chegada ao campo acadêmico.

Em meio à desordem, ou à ordem bolsonarista, as datas do Enem 2021 estão mantidas, 21 e 28 de novembro. Resta ver os próximos capítulos desta novela, pois ao que tudo houve uma revisão abrupta e bruta em seu texto, ela nasceu com um caminho a percorrer, e agora querem desvia-la, mais uma vez, no meio da trama.