Combate à fome é obrigação e não esmola eleitoral

Dados oficiais mostram que cerca de 50% da população tem algum nível de insegurança alimentar. Enquanto isso, o debate de combate à fome é tangenciado por candidatos, e quem tem fome é humilhado por dizer em quem votará.




Colunas, Paulo Junior

Você saberia descrever a sensação causada pela fome? Ao ler este questionamento não imagine uma fome momentânea, sentida ao longo do dia e que pode ser saciada no instante seguinte, imagine a fome gerada pela ausência de comida em casa, pela geladeira vazia, pela falta de dinheiro para ir ao mercado. Diante disso: qual a sensação causada pela fome?

Talvez essa pergunta lhe traga uma sensação dolorosa ao estomago, contudo, provavelmente ela não é gerada pela fome, mas, pelo pensar de alguém nesta situação. Hoje, de acordo com dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, mais de 33 milhões de brasileiros estão diretamente afetados pela fome. O dado, todavia, piora quando consideradas qualquer tipo de insegurança, ao fazer isso atinge-se 125 milhões de pátrios, o que corresponde a pouco mais de 50% da população.

Logo, ao imaginar que aproximadamente metade da nação está em algum nível face a face com a fome, é crível que este tema tome parte significativa do debate político, que seja pauta inadiável àqueles que desejam ocupar o Palácio do Planalto como presidente da República. Entretanto, o prato vazio vem sendo seguidamente esquecido, fazendo com as questões em torna desse tema se deem de modo superficial e pouco prático. Combate à fome precisa ser política de Estado e não esmola dada em período eleitoral.

As manchetes dos jornais foram inundadas com a imagem de um empresário que, ao distribuir quentinhas em uma comunidade vulnerável, questiona uma mulher sobre a sua posição política, a senhora responde que votará no ex-presidente Lula (PT). A resposta causa indignação ao homem – eleitor de Bolsonaro – ele afirma que aquela seria a última quentinha dada aquela senhora que, constrangida em um limite que beira o incrédulo, parece não acreditar.

O caso descrito acima demonstra o nível do debate que se faz no país sobre a dor do estômago vazio. A saciedade dessa dor não deveria estar associada à sua posição política eleitoral. Combater a fome em uma nação que metade do povo precisa de ajuda é uma necessidade de primeira hora. Necessidade que precisa urgir em qualquer que seja a gestão, no governo de qualquer que seja o eleito. Quando há fome há falha na construção do país, do governo e de seus mandatários.

Em 2 de outubro os eleitores irão às urnas, votarão em quem desejam para governar o país por mais quatro anos, dirão ao digitar o número com que ideias concordam e com quais discordam. Ao votar daqui a pouco, é essencial que a população observe que modelo de combate a fome se desenha em cada plano, pois não é possível viver por mais tempo em um Brasil que falta comida no prato.

A campanha ainda não terminou, serão ainda três semanas até o primeiro turno. Neste tempo existe espaço para que o corpo social exija dos postulantes propostas para acabar a dor que corrói milhares de pátrios. Propostas que pensem objetivamente aspectos de distribuição de renda, valorização da agricultura familiar, geração de empregos, combate à inflação, ampliação do poder de compra do salário mínimo. Ao observar esse escopo poder-se-á ver em quais candidaturas a fome é pauta e não deboche.

A base da pirâmide nacional é larga, composta por pessoas de baixa renda e que dependem do Estado para ter acesso ao básico. Os pobres não devem mais uma vez ser usados como massa de manobra, devem ser colocados no centro do debate. Não devem se enganar por esmolas em período eleitoral, não devem se deixar levar pelo momento apenas. Quem decide as eleições é a massa, e é nítido que a massa não deseja mais anos de fome e humilhação.