Carta à 2022

As portas do ano novo começam a se abrir, e com ele vem a ânsia do recomeço e percepção do que se viveu no tempo que passou.




Colunas, Paulo Junior

Relutei, mas eu tinha que te escrever, partilhar contigo um pouco da experiência que foi viver este tempo que caminha para se encerrar. Sabe, eu tive muitos medos, comecei o ano cheio de incertezas e dúvidas, e não necessariamente o termino sanando todas elas. Mas, a busca incessante de construir certezas é muito limitante, termina por podar as alegrias que permeiam a caminhada.

Eu tinha medo que este espaço tempo que me refiro fosse amplamente marcado pela dor, pela perda e pelo fim. Eu não queria ser somente tristeza. Te digo, que ao olhar o que foi vivido até este dia, houve muita tristeza, há dores que eu não ouso tentar descrever. Lembro-me de dias sem fim, de noites intermináveis.

Contudo, no expresso da vida também existem alegrias, e apesar da dor, eu vivi sorrisos. Sim, houveram sorrisos. E posso te garantir, eles foram largos e melhores do que o esperado. Eu me lembro com felicidade sem igual do dia em que a vacina chegou, do dia em que ela passou a correr no corpo das pessoas. Naquele instante eu fui tomado por uma esperança sem limites, ali eu passei a sonhar com uma realidade de liberdade, passei a ansiar pelo sorriso que vai além dos olhos.

 Porém, alguns não líderes expuseram de forma veemente a sua ignorância, incapacidade e inumanidade. Lembro-me que chorei ao ver notícias falsas sobre a vacinação, ao notar que ela seguia mais lentamente do que deveria. Lembro-me que a voz embargou ao perceber que amigos se foram sem necessidade, ao notar que que o elixir da salvação foi tirado deles por um ato de antipolítica, por uma ação maldoso e calculada.

Eu sei que não deveria estar sendo tão pessimista ao te escrever, te digo que não é pessimismo, é realidade. Preciso de contar que meus dias não também não foram fáceis, e que a dureza deles podem trazer um pouco mais de conforto aos teus. Tu tens uma missão importante pela frente, vacina teu povo. Eles querem viver com menos medo, com menos angústia. Vacina teu povo contra Covid-19 e contra a antipolítica.

Ao olhar para o retrovisor, preciso te relatar, ainda, que as gargalhadas foram altas, pois ao ser não cabe unicamente a tristeza. Quando parecia fim, éramos tomados por uma situação de recomeço, e recomeçamos várias vezes. Eu, sendo 2021, te digo que vivi dias melhores que o meu antecessor, e tenho certeza que os teus dias serão melhores que os meus. Que os sorrisos que vejo na minha caminhada sejam infinitamente maiores na tua, que os abraços que senti sejam no teu tempo ainda mais apertados, que os afagos sejam mais próximos e os amigos ainda mais presentes.

Tenho que te alertar sobre uma situação definidora, durante os teus doze meses tu terá a oportunidade de mudar o comando da nação. Então, peço que sejas capaz de debater com todos, de agir para que tenhamos um líder que acredita na vida, alguém capaz de enxergar o outro, alguém que não tenha como projeto de poder cultivar a morte.

Minhas últimas horas passam, me analiso e vejo que ainda tenho o que comemorar, ver meu povo vacinado é alegria indescritível. Te peço que me escrevas, e também peço que escrevas ao teu sucessor. Caminho para terminar minha caminhada, estou velho e tu és pura juventude. Então, seja novo e aja novo. Que você, 2022, torne-se único e seja verdadeiramente o ano do recomeço.

Sei que alguém aleatório está lendo esta carta, isso também aconteceu ano passado. Por isso, digo a você, leitor aleatório, o ano novo exige atos novos. Se permita viver a vida em toda sua largura, se permita sonhar e realizar os sonhos de cada dia, e não abra mão de construir um lugar mais humano e belo, tua missão também é larga, mas podemos lutá-la com leveza. Por isso, em 2022, seja você e seja leve.