O peso político de Camilo Santana (PT)

O PDT confirmou Roberto Cláudio ao governo do Ceará. Enquanto isso, Camilo demonstra sua relevância no movimento das peças políticas cearenses, e indica o nome de Elmano de Freitas(PT) para a disputa. Santana é momentaneamente tão grande quanto os FGs.




Colunas, Paulo Junior

Em 2014, quando de sua primeira campanha ao governo do estado do Ceará, Camilo Santana era um ilustre desconhecido da maioria da população. No entanto, rodeado de figuras icônicas da política cearense, sagrou-se vitorioso. Em 2018, reelegeu-se em primeiro turno com quase 80% dos votos válidos. Com fama de conciliador e estadista, Camilo não ficou preso aos seus padrinhos políticos, e no contexto de hoje ele tem um peso importante no tabuleiro. Rompido com o PDT e em desavença com Ciro Gomes, o ex-governador irá ungir um nome de seu próprio partido para disputar o Palácio da Abolição.

Camilo tornou-se, a preço do instante atual, tão relevante para os rumos políticos do Ceará quanto os Ferreira Gomes o são há tempos. O petista articulava desde que deixou o cargo de governador, em 2 de abril, para que Izolda Cela (PDT) fosse escolhida como candidata do governo, a fim de dar continuidade ao trabalho que ambos faziam. Izolda também era preferida entre a cúpula petista. Entretanto, o indicado foi Roberto Cláudio, desagradando o ex-governador e toda a direção do PT.

Camilo alega traição. De acordo com o petista, havia sido acertado que Cid e Ciro estariam no barco da atual governadora, o que lhe garantiria a legenda no Ceará. Todavia, Ciro, na verdade, articulou para que o ex-prefeito de Fortaleza fosse alçado ao posto de candidato ao governo. Instantes depois da confirmação, o PT informou que o PDT, ao fazer isso, estava tacitamente rompendo a aliança que governa o estado desde 2006, e que diante disso o Partido dos Trabalhadores teria candidato próprio.

Em meio a esse fato, o que se viu foi um Camilo Santana articulador. Ele foi em busca de legendas e reuniu ao seu lado inimigos antigos do PT, como o PSDB, Progressistas. Além de aliados de primeira hora como o PCdoB e PV, e o inconstante MDB. Santana também mantém diálogos com prefeitos do estado inteiro, com intuito de pavimentar o apoio à sua campanha de senador, e ao nome por ele indicado para na chapa majoritária.

Camilo demonstra que seu capital político está mais vivo do que nunca, e que está pronto para entrar nessa briga. O ex-pupilo de Ciro Gomes conseguiu a façanha de manter o irmão do pedetista próximo, Cid Gomes faltou à convenção do PDT que confirmou Roberto Cláudio como postulante ao governo. Na mesma linha, o senador esteve reunido com Camilo durante a última semana, a fim de definir qual seria a melhor estratégia no caminho da sucessão.

Naturalmente que é pouco crível que o afastamento dos irmãos dure muito tempo. Mas o instante atual demonstra a singularidade de Santana, que foi capaz de desestabilizar a relação dos FGs a esse nível, algo não testemunhado nas últimas décadas. Camilo aproveita bem o seu momento, desenha o nome do deputado estadual Elmano de Freitas para concorrer ao Abolição, e trata de garantir para ele estrutura partidária e tempo de rádio e TV. Camilo entra nessa disputa para vencer, e mostrar que o seu tamanho não está aliado aos seus progenitores.

Os últimos dias marcam um Santana franco atirador. Conciliador em certa medida, Camilo tem abusado das redes sociais para costurar indiretas ao grupo de Ciro e ao PDT. O racha está dado, e em nível tão abissal, que o PDT já estuda um nome para disputar o senado, caso o distanciamento com Camilo siga firme, o que parece que seguirá.

Camilo Santana dá as cartas no PT Ceará. Guimarães tem mais observado do que agido, e até Luizianne Lins tem optado pelo silêncio. No vazio dos corredores políticos, Camilo desenhada a candidatura de Elmano de Freitas. Enquanto nota seus desenhos tomarem forma, o ex-governador age para seduzir o PSB.

Camilo Santana, ex-presidente Lula e o candidato ao governo do Ceará pelo PT, Elmano de Freitas. Foto: Redes Sociais.

Camilo viajou para São Paulo e se reuniu com Lula (PT). E desse encontro saiu um capítulo importante desta novela. Tão certo quanto o nome de Elmano para o Abolição, é também o nome de Santana entre os ministros de um possível terceiro governo Lula.