Auxílio Brasil: a cartada eleitoreira de Jair Bolsonaro

O presidente anunciou o fim do Bolsa Família e a criação de um novo programa de distribuição de renda. Feito a toque de caixa, o Auxílio Brasil não tem fonte de recursos definida, os valores a serem pagos estão sob questionamento, e o programa já conta data de validade apresentada.




Colunas, Paulo Junior

O governo Bolsonaro é a gestão do desgoverno, da desordem, do caos por inteiro. É a gestão do fracasso, da humilhação, do cabresto e do populismo mais barato, raso e hediondo que existe. O Auxílio Brasil que se planeja criar, em substituição Bolsa Família, é uma ação nitidamente eleitoreira e de exacerbada carga de irresponsabilidade administrativa e financeira. O governo não sabe de onde virá o dinheiro que deverá bancar o programa; e pior, já definiu sua data de término, será em dezembro de 2022.

Criado ainda no primeiro mandato do ex-presidente Lula (PT), o Bolsa Família permaneceu como principal programa de distribuição de renda do país por quase duas décadas. Contudo, como nunca foi convertido em lei definitiva, o bolsonarismo aproveitou-se da brecha e agora o extinguirá. Em seu lugar deverá ser a implantado o Auxílio Brasil que, segundo o Ministério da Cidadania, deve pagar ao menos R$400 a cada família cadastrada.

Entretanto, o que poderia significar um acréscimo de dignidade à vida da maior parte da população exposta a situações de vulnerabilidade, se revela apenas um ato de irresponsabilidade. A verdade é que o executivo federal não sabe de onde virá o recurso para pagar o novo auxílio, conta com uma emenda colocada na PEC dos Precatórios. Porém, a PEC ainda não foi votada na Câmara, e o primeiro pagamento do novo programa já bate à porta, pois deve ser realizado a partir de 17 de novembro.

O governo estica-se para angariar popularidade em setores sociais que tendem a rejeitá-lo com mais potência, isso explica, por exemplo, o motivo das várias vindas de Bolsonaro ao Nordeste. Ele tenta encontrar meios de falar com um eleitorado que seguidamente o rejeitou, e que agora o expurga ainda mais. O fim do Bolsa Família é um desejo antigo do bolsonarismo que, desde o início, anseia por tirar de circulação tudo aquilo que é benéfico ao povo e que mantém relação direta com os governos anteriores. Bolsonaro acusa seus antecessores de populismo, mas pratica um populismo ainda mais raso, pois ele segue desconhecendo o Brasil.

No Brasil, distribuir renda não é uma necessidade momentânea que pode dispor de principio de uma data de término. As ações de distribuição de renda devem ser progressivas e constantes, pois as abissais desigualdades que marcam o país não serão superadas em pouco mais de 12 meses. O bolsonarismo usa desde agora o Auxílio Brasil como plataforma eleitoreira – o discurso já está pronto – da boca de Bolsonaro sairá a promessa de permanecia do programa. Bem como sairá de seu lastro ataques de pouca credibilidade e que serão voltados a qualquer que ouse acusa-lo daquilo que ele é: incompetente, irresponsável e aproveitador.

Em um país sério não se cria um sistema de distribuição sem identificar objetivamente a fonte do recurso, garantindo a sua manutenção por um tempo minimamente razoável. Muitos menos se finda algo que goza de sucesso inquestionável. O Bolsa Família carecia de adequações e suplementações, algo natural a um programa que existe a tanto tempo. Todavia, ao invés de adaptar uma política pública que já estava em vigor, o governo prefere encerrá-la, e ao fazer isso tentar enganar a população.

Falta transparência ao governo Federal, já ele que não explica como ficará a situação dos beneficiários que terão o pagamento interrompido em dezembro de 2022. A pandemia ampliou os dados de pobreza e extrema pobreza no país, e não será um auxílio transitório pelo período de um ano que irá sanar este quadro. O governo também se equivoca ao dizer de pronto os valores que serão pagos aos beneficiários permanentes do programa. Assim, a única coisa palpável é uma projeção do valor de R$400, valor este que provavelmente não será pago em novembro.

Enquanto a equipe econômica busca meios de burlar o orçamento e depois jogar a conta no colo do contribuinte. Enquanto a gasolina chega a mais de R$7 e o botijão ultrapassa os R$100. Enquanto a inflação volta e já beira os 10%, e o real se desvaloriza. Enquanto o poder compra diminui. Enquanto o povo padece, Bolsonaro cria um novo auxílio e não diz como pagará. E sem saber como pagar, viaja para a cúpula do G20, amplia o isolacionismo do Brasil, se mostra um pária mundial, faz piada com a pandemia e ri. Em algum momento se chegou a pensar que a risada poderia ser de ignorância, mas ao que tudo indica ela é de satisfação. O bolsonarismo se regozija no campo da destruição, se sente rei enquanto observa e brinca com o caos.